A construção de uma narrativa correta para compreender o fenômeno mundial da pandemia da covid-19 é necessária para que possamos tomar as medidas adequadas.
Expressões como orçamento de guerra, hospitais de campanha, guerra contra o inimigo invisível, principais armas de enfrentamento, melhores estratégias de combate, dentre outros termos, são utilizadas por todos, seja na imprensa, no governo ou na sociedade como um todo. Mas será que o que ocorre hoje é de fato uma guerra? Se o vizinho portador do vírus se tornar o nosso inimigo, não estaríamos criando uma guerra contra nós mesmos?
Talvez a melhor metáfora para entendermos o momento atual seja a de um tsunami: um fenômeno abrupto da natureza que impõe uma ampla catástrofe e, posteriormente, uma lenta, cara e dolorosa reconstrução.
Se entendermos a crise de saúde pública gerada pelo novo coronavírus como um tsunami, fica claro que a primeira ação é a defesa própria: salvar o maior número possível de pessoas, sem preocupação com a preservação material.
Nesse momento, me parece que entender a pandemia como um desastre natural, que terá um efeito perverso sobre toda a população mundial, mas que posteriormente vai passar, seja uma oportunidade adequada para que possamos demonstrar a necessária solidariedade e empenho na defesa da vida.
Não estamos em guerra contra ninguém, ou nada, estamos sim nos defendendo de um vírus letal e nos preparando para que as próximas ondas possam ser minimizadas ou evitadas, por meio de uma vacina definitiva.
As histórias que contamos para nós mesmos condicionam a nossa compreensão e os nossos comportamentos nesse momento de crise. Por isso, é primordial construirmos uma narrativa assertiva, lúcida e fidedigna aos fatos.
Vamos superar as adversidades do momento, mas vamos também entender melhor como somos frágeis. A natureza nos apresenta inúmeros desafios que só poderão ser enfrentados por meio da ciência, da pesquisa, da educação e, claro, do esforço comum, envolvendo todos os setores da sociedade.
Sairemos melhores dessa crise, sairemos mais maduros, e sairemos melhor preparados para os próximos tsunamis que a humanidade irá enfrentar, pois esse é o nosso destino: usar a nossa inteligência coletiva para sobreviver em um mundo incerto, volátil e líquido.