Detalhe

Artigo: Educação a distância e as voltas que a Terra dá

18/05/2020 | Por: Estadão | 6890
Foto: ABMES

Quando, em março de 2020, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) anunciou que metade dos estudantes do planeta estavam fora da escola em virtude da covid-19, soou a sirene da incoerência entre os tão propagados novos padrões estabelecidos pelo século XXI e o que de fato tem sido a realidade.

Do dia para a noite o distanciamento social passou a ser regra e conceitos como disruptura e inovação foram nocauteados por um sistema educacional enraizado em práticas estabelecidas no longínquo século XIX, quando não havia alternativas ao quadro negro, à carteira e à voz in loco do professor.

A pandemia do novo coronavírus emergiu globalmente um debate que, ao menos no Brasil, há décadas era negligenciado: o uso das novas tecnologias de informação e comunicação no processo de ensino-aprendizagem. Para além da discussão sobre a utilização de computadores ou aplicativos educacionais nas salas de aula, por aqui a oferta de uma educação efetivamente mediada pela tecnologia sempre enfrentou as barreiras do preconceito e da desinformação.

Como resultado, nos últimos meses ficou evidenciado o despreparo de gestores e de escolas para lidar com a impossibilidade das aulas presenciais. Com maior ou menor estrutura, estados, municípios e unidades educacionais se viram obrigados a buscar, no susto, alternativas para viabilizar a continuidade da formação educacional de milhões de estudantes. Seja imprimindo apostilas, investindo em teleaulas ou utilizando ferramentas online de encontros virtuais, a Educação a Distância (EAD) passou a ser a única solução possível.

Se é verdade que toda essa situação era impensável e que ninguém estava preparado para ela, também o é que a resistência desde sempre enfrentada pela educação a distância não contribuiu para que o país tivesse uma transição menos traumática nesse momento.

Por outro lado, a máxima de que “é na crise que surgem as grandes oportunidades” tem se feito valer. Na educação superior, grande parte das instituições particulares de ensino, mesmo aquelas que não ofertavam EAD, conseguiram se adequar rapidamente para prosseguir com as aulas, sem prejudicar o semestre letivo. As aulas presenciais deram lugar às aulas remotas.

Ao contrário da educação a distância como conhecíamos na pré-pandemia, as aulas remotas consistem em uma dinâmica que ainda não havia sido experimentada no país, ao menos na graduação. Ela segue padrões da presencialidade, como horários a serem cumpridos, aliados a facilidades da EAD, como o acompanhamento das aulas a partir da casa ou de outro espaço escolhido pelo estudante.

É evidente que o uso da tecnologia, por si só, não consolida a entrada da educação no século XXI. Ainda é preciso avançar em campos fundamentais como a formação por competências e o protagonismo do aluno no seu processo educacional. Todavia, sem a compreensão de que a tecnologia consiste em canal essencial para que essa transformação ocorra, a educação seguirá na contramão das demandas sociais e mercadológicas dos novos tempos.

Na urgência imposta pela pandemia da covid-19, as aulas remotas foram a solução possível. Se elas vão se estabelecer como mais uma alternativa, só o tempo dirá. Pessoalmente, acredito que servirão de base para a construção de um novo modelo que integrará as tecnologias da informação e da comunicação ao perfil e às necessidades do estudante e do profissional deste século.

Por ora, o reconhecimento pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) e pelo Ministério da Educação (MEC) de que a carga horária ofertada nessa modalidade é integralmente válida, abre um precedente histórico para que a educação mediada pela tecnologia finalmente avance no Brasil. Barreiras foram rompidas e um novo horizonte foi estabelecido.


Conteúdo Relacionado

Vídeos

Aprendizagem e presencialidade

Confira o workshop online, realizado no âmbito da parceria da ABMES com a Microsoft, que fala sobre o tema aprendizagem e presencialidade. O material é minsitrado por Ronaldo Mota, diretor científico da Digital Pages

Transformação digital na sala de aula com Lenovo e Microsoft

A inovação digital está superando as paredes da sala de aula, permitindo que alunos e professores se conectem mais do que nunca com ferramentas e tecnologia de qualquer lugar do mundo. Confira soluções conjuntas da Lenovo Educação e Microsoft Brasil que estão transformando a sala de aula.

Notícias

Pandemia faz evasão aumentar no ensino superior em Rio Preto

Diário da Região: Sólon Caldas, diretor executivo da ABMES, comenta sobre a evasão de alunos em cursos presenciais devido à pandemia do novo coronavírus

Até o fim de abril, 78% das faculdades particulares migraram aulas para ambientes virtuais

Pesquisa divulgada pela ABMES e realizada pela Educa Insights revela que 89% dos alunos que estudam em instituições particulares já assistem aulas “ao vivo” ou gravadas, em função do isolamento social imposto pela pandemia da Covid-19

Covid-19: guerra ou tsunami?

Estadão: Em artigo, o diretor presidente da ABMES, Celso Niskier, fala sobre o enfrentamento da crise gerada pela pandemia do novo coronavírus

O remédio da educação

IstoÉ: instituições particulares adotam métodos digitais de aprendizado para evitar interrupção das aulas, cumprir carga horária e diminuir impactos da pandemia