Especialistas em educação e candidatos que foram impedidos de fazer a prova do Enem no último domingo em fiunção da superlotação dos locais de prova ou porque apresentaram sintomas da Covid-19 perto da data do exame estão temerosos quanto à reaplicação do teste com a diferença de mais de um mês entre uma data e outra.
Segundo o Inep, os alunos que foram afetados por “questões logísticas” durante a aplicação da primeira prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no último domingo (17) devem comparecer ao segundo dia de exame, no próximo domingo (24), e poderão pedir reaplicação da primeira aplicação não feita.
A nota da instituição afirma que “o participante poderá realizar, normalmente, as provas do próximo domingo, 24 de janeiro, caso tenha sofrido com questões logísticas no primeiro dia de aplicação" e fazer uma solicitação entre os dias 25 e 29 de janeiro pela Página do Participante. Essa segunda aplicação ocorrerá nos dias 23 e 24 de fevereiro.
O edital prevê reaplicação para desastres naturais (que prejudiquem a aplicação devido ao comprometimento da infraestrutura do local), falta de energia elétrica (que comprometa a visibilidade da prova pela ausência de luz natural), falha no dispositivo eletrônico fornecido ao inscrito que solicitou uso de leitor de tela ou erro de execução de procedimento de aplicação pelo aplicador, que tenha, comprovadamente, causado prejuízo ao participante.
Alunos que não fizeram a prova por conta das salas superlotadas podem pedir a reaplicação alegando "erro de execução de procedimento de aplicação pelo aplicador". A solicitação deve ser feita entre os dias 25 e 29 de janeiro, pela Página do Participante, em que o inscrito também deverá consultar o resultado da solicitação.
Especialistas sugerem alternativas
A informação divulgada nesta terça gerou dúvidas entre os estudantes e questionamentos entre especialistas que apontam que, pedagogicamente, é ruim ter uma diferença de mais de um mês entre uma avaliação e a outra.
A distância entre uma aplicação e outra tendo alunos que podem fazer um dia de prova em janeiro e outro em fevereiro é vista com preocupação por Miguel Rugento, especialista em avaliação pela PUC-Rio.
— O Inep está garantindo que os alunos tenham a avaliação completa, e isso é bom. Mas toda a avaliação tem um objetivo, que é retratar como está o aluno naquele momento. Ter um mês de diferença amplia o quadro de variáveis para esse retrato. O argumento que isso não é um problema, já que a correção é feita pela Teoria de Resposta ao Item, anula a individualidade dos candidatos que estão vivendo uma maratona de mais de um ano. Pedagogicamente, essa distância é ruim, mas em termos logísticos ela é a única opção — afirma Rugento.
O professor acredita que uma alternativa para essa questão seria resgatar futuramente o projeto de mais aplicações da prova durante o ano e usar a nota mais alta.
Para a aluna Roberta Silva, que não conseguiu fazer a prova pois sua sala estava lotada, o Enem deveria ser adiado novamente.
— A gente só poderia fazer a prova com condições seguras. Saí de casa, peguei transporte, me arrisquei e fui barrada. Vou pedir a reaplicação, mas isso gera mais insegurança de passar mais um mês ansiosa para uma prova sem saber como estaremos durante a pandemia — relata.
Para Rogério Coutinho, coordenador do curso Vetor, essa distância entre as provas não deve gerar alterações nas notas, mas pode trazer ansiedade aos estudantes.
— O psicológico dos alunos já está extremamente abalado. As desigualdades educacionais se ampliaram na pandemia, o nervosismo com a prova se juntou ao medo da pandemia, e esses novos problemas causam mais insegurança. Pelo número de reaplicações, isso não deve alterar o cenário total, mas cada um desses estudantes deve ser acompanhado de perto, já que estão em um quadro delicado – afirma.