De um lado, recém-formados que se acham preparados para o mercado. Do outro, empregadores que não têm uma avaliação tão satisfatória desses profissionais. Um estudo divulgado pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) mostra as diferentes percepções do meio acadêmico e de empresas sobre mercado de trabalho e competências desenvolvidas pelo ensino superior privado.
Um dos dados mostra que 62% dos egressos das universidades privadas se sentem bem preparados para o mercado. Já os gestores acadêmicos avaliaram que 69% dos recém-formados estão bem capacitados. Na avaliação dos empregadores, esse percentual despenca. Para eles, somente 39% dos recém-formados podem ser avaliados como bem capacitados.
Para Celso Niskier, diretor-presidente da ABMES e reitor da UniCarioca, a diferença na avaliação tem a ver com a relação entre o que as universidades oferecem e o que o mercado precisa:
— No mercado de trabalho, as pessoas são contratas pelas competências técnicas e demitidas pela falta de competências socioemocionais. É a pessoa muito boa, mas que não sabe trabalhar em equipe, exercer liderança, não usa criatividade.
Niskier avalia que as universidades precisam buscar a inovação, mas têm que se adequar aos modelos de avaliação.
— O grande desafio para as instituições de educação superior é fazer inovação, criar cursos fora do padrão, mas muitas vezes isso acaba não tendo espaço no currículo porque essas instituições precisam se adequar aos modelos atuais de avaliação — ressalta o educador.
O sociólogo Simon Schwartzman acredita que há uma desconexão entre sistema educacional e o setor produtivo:
— Isso tem a ver também com o fato de que não há informações sobre empregabilidade no Brasil. É uma responsabilidade do setor público, das próprias instituições (de ensino) de desenvolver essa informação mais clara do que o aluno vai obter do curso em termos de empregabilidade, de condições de trabalho, etc.
A pesquisa mostra ainda que 62% dos egressos das universidades fariam alteração nas disciplinas dos cursos para se adequarem melhor ao que o setor produtivo demanda. Entre os gestores acadêmicos, o índice é de 75%. Em relação às competências desenvolvidas durante a graduação, egressos, gestores e empresas avaliam de forma equivalente, com média de 60% para "hard skills" (competências técnicas) e 40% para "soft skills" (competências subjetivas).
O levantamento, realizado pela Educa Insights e Plataforma A, entre novembro e dezembro de 2020, ouviu 308 recém-formados, 51 gestores acadêmicos e 68 empregadores de instituições privadas.