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Universidades públicas tiveram queda de 18,8% no número de concluintes

18/02/2022 | Por: Folha de S.Paulo | 3115

Já no primeiro ano da pandemia de Covid-19, as universidades públicas do país tiveram queda de 18,8% no número de estudantes que conseguiram concluir a graduação. Elas também tiveram redução de 5,8% de ingressantes em 2020.

Os dados são do Censo da Educação Superior, divulgados pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) nesta sexta-feira (18). Excepcionalmente, em razão da pandemia, as informações para a pesquisa foram coletadas com as instituições de ensino até o fim de junho de 2021 para que os resultados pudessem refletir as alterações ocorridas no primeiro ano da crise sanitária.

Segundo especialistas e entidades do ensino superior, a queda de concluintes é explicada em parte pelo atraso no ano letivo em algumas instituições, que só conseguiram terminar o ano acadêmico de 2020 no ano seguinte. No entanto, dizem que a redução também já reflete a evasão escolar.

Esse é o segundo ano consecutivo em que as universidades públicas registram diminuição de alunos que conseguem concluir os cursos. Em 2020, elas tiveram 204.174 concluintes, uma redução de 18,8% em relação a 2019, quando foram 251.374. Em 2018, essas instituições formaram 259.302.

Já as faculdades particulares tiveram aumento de 7,6% no número de concluintes em 2020.
O aumento, no entanto, é puxado pelos cursos a distância. Entre aqueles que cursavam graduação presencial na rede privada, houve queda de 0,5% em relação ao ano anterior.

"A redução de concluintes pode ter ocorrido pela mudança dos calendários das universidades, que atrasou a colação de grau daqueles que estavam no último ano. Mas isso só explica parte do problema. As dificuldades econômicas do país forçaram muitos alunos a abandonar os cursos", diz Soraya Smaili, que foi reitora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) até 2021 e hoje coordena o Instituto Sou Ciência.

Desde 2019, as universidades federais sofrem redução para o Pnaes (Programa Nacional de Assistência Estudantil), que reúne recursos para bolsas estudantis, auxílio moradia, transporte, alimentação. O governo Jair Bolsonaro (PL) vem reduzindo os valores do programa, que perdeu 18,3% do orçamento entre 2019 e 2021 —sem contar a correção da inflação.

"Em 2019, 70% dos alunos da rede federal vinham de famílias com renda de até 1,5 salário mínimo, ou seja, jovens que precisam de auxílio financeiro para estudar. Mas o recurso para essas ações foi minguando. Muitos podem ter abandonado a universidade pública porque precisaram trabalhar, sustentar a família", diz Smaili.

Além da queda de concluintes, as universidades públicas tiveram redução de ingressantes pelo terceiro ano consecutivo. Em 2020, elas receberam 527.006 novos alunos, uma queda de 5,8% em relação a 2019, quando foram 559.293. Desde 2017, a queda acumulada é de 10,7% no número de ingressantes.

Nesse mesmo período, a rede privada teve aumento de 22,8% de ingressantes. Apenas entre 2019 e 2020, o aumento foi de 5,3%. O crescimento, no entanto, se deve aos cursos na modalidade a distância, que tiveram aumento de 25,7% de novos alunos.

Já os cursos presenciais das faculdades privadas tiveram queda de 15,6% no número de ingressantes.

Em 2020, pela primeira vez, as graduações a distância receberam mais alunos novos do que os presenciais, somando tanto os ingressantes na rede pública quanto na privada. Segundo o censo, dos mais de 3,7 milhões que entraram no ensino superior, 53,4% escolheram cursos a distância.

As matrículas nessa modalidade passaram de 2,5 milhões em 2019 para 3,1 milhões em 2020.

A modalidade a distância vem crescendo de forma acelerada desde 2010. Nesse período, o número de novos alunos aumentou 428,2%. Enquanto os cursos presenciais, tiveram queda de 13,9% nesse intervalo de dez anos.

"Havia uma previsão de que a modalidade EAD ia ultrapassar o presencial até 2023, mas a pandemia acelerou essa mudança. Acredito que muitos estudantes decidiram mudar para o modelo a distância com a imposição do ensino remoto na pandemia, mas também por terem conhecido a qualidade dos cursos", disse Celso Niskier, presidente da Abmes (Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior).

Para ele, o crescimento deve ter sido ainda maior em 2021 e a tendência é que se mantenha nos próximos anos. "O encolhimento do Fies e a crise econômica empurrou muita gente para o EAD, porque é uma alternativa com melhor custo benefício. O grande desafio para as instituições agora é garantir que a qualidade desses cursos seja, no mínimo, igual a dos presenciais."


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