O dado é alarmante: 36% dos brasileiros com idades entre 18 e 24 anos não estudam e nem trabalham. São 12 milhões de jovens com a vida estagnada. Esses são dados do levantamento Education at a Glance 2022, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). É uma Bélgica ou quase quatro Uruguais de vidas com pouca ou nenhuma perspectiva otimista para o futuro. E abandonar essa parcela significativa da população à própria sorte não parece ser uma boa decisão.
A crise financeira, o alto índice de desemprego e a demanda por profissionais cada vez mais qualificados estão entre as justificativas para esse cenário, mas, de forma nenhuma, um contingente tão grande de jovens inativos pode ser aceito como uma consequência normal destes tempos. O poder público precisa se mobilizar e promover políticas públicas multissetoriais e integradas que sejam capazes de resgatar esses jovens do limbo onde se encontram.
São necessárias, por exemplo, políticas de estímulo ao primeiro emprego, além da retomada econômica. Mas, sobretudo, esses jovens precisam de educação para voltarem a integrar a sociedade de forma efetiva, contribuindo para a realização pessoal deles, a melhoria da qualidade de vida das suas famílias e o desenvolvimento socioeconômico da nação. Por essa razão, as instituições privadas de ensino superior defendem a atualização das diretrizes curriculares com direcionamento às reais necessidades do mercado de trabalho, incluindo certificações intermediárias que possibilitem inserção mais imediata desses jovens nas atividades produtivas.
Na seara educacional, são muitas as frentes que precisam ser tratadas. Para começar, precisamos de maior integração entre a educação básica e o ensino superior. Também é imperativo recuperar aqueles estudantes que abandonaram o ensino médio e a graduação durante a pandemia de covid-19. Há que se pensar na construção de um grande projeto nacional de recuperação da aprendizagem. Por exemplo, os estudantes de licenciatura podem apoiar os professores da educação básica dentro da sua carga horária de extensão, como foi proposto pelo Fórum das Entidades Representativas da Educação Superior ao governo de transição, em dezembro passado.
Precisamos, ainda, de melhores políticas públicas de acesso à educação superior que, aliadas à ampliação oferta de trabalho, garantam as condições financeiras para que os jovens possam ingressar e permanecer no curso superior escolhido por eles. Nessa linha, o país clama por novos modelos de financiamento estudantil, especialmente aqueles baseados na renda futura do estudante, a exemplo do que ocorre na Austrália.
A falta de mão de obra é um dos principais entraves para o progresso do Brasil. No ano que vem, termina o prazo dado pelo Plano Nacional de Educação (PNE) para que o país coloque metade dos seus jovens na educação superior. Com o cenário atual, essa meta precisará de mais 16 anos para ser atingida. Para além disso, é bom ressaltar que a relação entre o nível de escolaridade e os salários recebidos é uma das mais díspares do planeta. Realidade que desmotiva os jovens a investirem em capacitação e qualificação.
Seja por um dos motivos elencados acima ou por qualquer outro das dezenas que podem ser listados, o Brasil precisa olhar com urgência para esses milhões de jovens. Essa situação traz desalento em quem ainda mantém viva a esperança de dias mais justos e prósperos para todos os brasileiros, mas, sobretudo, aos próprios "nem-nem", como são conhecidos.
É bem verdade que o momento é de esperança. O governo que tomou posse se comprometeu a retomar e a fortalecer políticas que já se mostraram eficientes, como o Fies e o ProUni. Trata-se de uma medida essencial. Contudo, para impactar de forma efetiva na vida de quem hoje nem estuda e nem trabalha, precisamos ir além e unindo forças do poder público com a iniciativa privada. E esse além precisa ser construído desde agora. Não podemos esperar mais.
*Celso Niskier é diretor-presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) e reitor do Centro Universitário UniCarioca.