O SIGNIFICATIVO AUMENTO NA DEMANDA POR VAGAS NOS CURSOS DE ENGENHARIA
Causou alvoroço a notícia publicada no último dia 15 de abril, acerca do grande aumento das matrículas nos cursos de Engenharia, superando, inclusive, a quantidade de matrículas nos cursos de Direito, um feito, registre-se, nada desprezível!
Evidentemente, esse crescimento na procura é decorrência da demanda aquecida por profissionais de Engenharia, necessários para que o País consiga superar o grave gargalo na infraestrutura, entrave ao crescimento e ao desenvolvimento nacional.
Segundo a reportagem em comento, no mesmo período em que os ingressos nos cursos de Engenharia tiveram um grande crescimento, praticamente dobrando a representatividade de seus ingressantes no total de novos alunos, passando a representar 10% desse grupo, a quantidade de ingressantes nos cursos de Direito recuou 4%.
Essa comparação fica ainda mais impressionante quando lembramos que grande parte dos ingressos em cursos de Direito é devido à intenção de buscar o acesso ao serviço público por meio de aprovação em concursos, já que as provas são lastreadas, em sua maioria, por conteúdos ligados ao Direito.
Mas, se por um lado o significativo aumento nas matrículas nos cursos de Engenharia é sinal de que os alunos que chegam ao ensino superior estão atentos às demandas do mercado profissional e às oportunidades que o crescimento econômico coloca à sua disposição, por outro, é preciso ter em mente algumas ressalvas, que não justificam toda essa euforia.
Com efeito, se houve significativo aumento nas matrículas nos cursos de Engenharia, não podemos olvidar que esses mesmos cursos apresentam altos índices de evasão, sendo pequena a quantidade de concluintes e, principalmente, de egressos efetivamente qualificados para o exercício profissional.
Segundo apontado na reportagem mencionada no início desse texto, menos da metade dos ingressantes dos cursos de Engenharia consegue concluir seu percurso formativo.
Surge, então, a pergunta evidente: Qual o motivo dessa elevada taxa de evasão?
Até o momento, não existem estudos efetivos sobre o tema, mas algumas das causas dessa evasão elevada são, em nosso entendimento, evidentes.
A primeira delas, sem querer parecer repetitivo, pois já tratei dessa questão em coluna anterior, ao analisar o problema da ineficiência dos processos seletivos realizados pelas instituições de ensino superior, é a evidente falta de preparo dos egressos do ensino médio, notadamente da rede pública, para o acesso efetivo à educação superior.
Esta falta de preparo, bastante evidente no campo das ciências exatas, compromete de forma inequívoca a formação de profissionais para as Engenharias, pois os ingressantes chegam às universidades sem o domínio de conhecimentos essenciais para o prosseguimento em sua caminhada rumo à efetiva qualificação profissional.
Tivessem os processos seletivos para os pretendentes aos cursos de Engenharia avaliações efetivas sobre o domínio dos fundamentos das ciências exatas, necessários ao prosseguimento em sua vida acadêmica, decerto não teríamos a expressiva quantidade de ingressantes nesses cursos noticiada pelos meios de comunicação recentemente.
Todavia, não podemos pretender ignorar a realidade do ensino médio no País e simplesmente impedir o acesso desses jovens ao sonho da educação superior, o que nos leva a outros motivos que explicam os níveis preocupantes de evasão em tais cursos.
Evidente, um dos motivos é decorrência direta do despreparo e da falta de domínio dos conteúdos exigidos para adequado desempenho na educação superior, o que pode levar ao desestímulo decorrente da impossibilidade de acompanhar o ritmo da turma e participar de forma efetiva das atividades desenvolvidas no âmbito do curso.
Outra questão é a necessidade de realização de diversas atividades de nivelamento, não apenas para adequar os conhecimentos dos ingressantes às exigências das atividades do curso, mas também para dar a eles condições de manter um nível adequado de apreensão de conteúdos e aproveitamento.
Até porque diversos deles serão submetidos ao ENADE e a falta de conhecimentos sobre os conteúdos previstos nas Diretrizes Curriculares Nacionais pode trazer consequências danosas para a instituição de ensino e para o curso, individualmente considerado.
Também não podemos deixar de apontar, como responsável pelos índices de evasão, o fato de não haver, em grande parte dos cursos superiores, inclusive os de Engenharia, um contato dos alunos com os conteúdos específicos de formação profissional nos períodos iniciais, o que termina por gerar desânimo, decorrente da frustração pela demora na imersão dos conteúdos inerentes ao exercício da profissão escolhida.
Considerando que, a cada dia, os jovens chegam mais cedo à universidade, muitas vezes sem uma definição clara de sua vocação, acredito que trazer elementos específicos ligados à atividade profissional do curso escolhido nos períodos iniciais pode auxiliar na maturação de sua opção, permitindo, com isso, a fixação do aluno ao curso ou, ao menos, permitindo que uma reopção seja efetuada antes que muito tempo e dedicação tenham sido investidos em um curso que não corresponda à sua vocação.
Por fim, mas não menos relevante, há que se considerar a dificuldade que as instituições apresentam para articular, de forma atraente e efetiva, a teoria com a prática, ocasionando a prática de ensino de maneira dicotômica, como se fosse possível separar os componentes práticos e os teóricos da formação profissional.
Impositivo, como preconizam claramente as Diretrizes Curriculares Nacionais, que as instituições assegurem processos formativos em que haja efetiva articulação e interação entre teoria e prática, para que os conteúdos sejam funcionalmente assimilados e tenham, com isso, efetiva relevância e pertinência.
Vale dizer, não adianta simplesmente aumentar a quantidade de ingressantes nos cursos de Engenharia, é preciso dar efetividade ao processo de seleção, assegurar a adequação das atividades formativas e proporcionar maneiras de combate efetivo à evasão.
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