Tra il dire e il fare c'è di mezzo il maré - “Entre o falar e o fazer, há no meio o mar” (Provérbio napolitano) Apesar da quantidade incrível de investimentos volumosos feitos pelas diversas nações e instituições particulares em projetos educacionais, os respectivos dirigentes e os usuários não estão satisfeitos com os resultados alcançados. Todos falam, todos têm planos espetaculares, mas os resultados não aparecem. Fica tudo entre as palavras e as intenções.
As Universidades de Harvard e de Stanford, nos Estados Unidos, iniciaram nos últimos anos a reforma curricular de seus programas de graduação com o intuito de flexibilizar os currículos dos cursos e propiciar aos estudantes uma formação mais sólida e diversificada, entre outros objetivos.
Já no Brasil esse processo enfrenta alguns obstáculos, como o conservadorismo das instituições e a resistência dos docentes em mudar a forma tradicional de suas aulas, apontaram especialistas participantes do simpósio Excellence in Higher Education, ocorrido nos dias 23 e 24 de janeiro na Fapesp. O encontro teve como objetivo debater os determinantes da excelência no ensino superior no Brasil e formular recomendações que poderão embasar políticas públicas.
Os especialistas desconsideraram, a priori, a formação básica frágil do estudante brasileiro. Falar é fácil, difícil é executar. Sem que o aluno tenha uma formação minimamente razoável, é impossível se construir algo. Insistir em trabalhar com matéria prima sofrível na linha de produção não vai levar a resultado algum. Qualquer “controle de qualidade” vai reprovar. Nada se fala sobre isso, admitamos, porque é seara de outrem. Que força está apoiando o conservadorismo senão o corporativismo, sobretudo, e/ou exclusivamente, nas instituições públicas? O Sistema “S” já incorporou a flexibilidade, bem como as habilidades e as competências. E não é de hoje que para inúmeras instituições particulares isto não é nenhuma novidade. Dia desses, lemos no noticiário, como se fosse estupenda inovação, um diretor salientando que, a partir do semestre corrente, acontecerá uma grande mudança pedagógica na instituição, começando pelo conceito de grade curricular, que será derrubado para dar lugar à pedagogia das competências. E esclarece: "Essa pedagogia parte de um referencial chamado formação por competências, que vem de um movimento, o do ensino baseado em competência, que nada mais é do que montar o currículo pensando naquilo que precisa ser desenvolvido e não mais com as disciplinas enjauladas em caixinhas." Afinal, resistência e conservadorismo são sinônimos? A primeira diz respeito a reações às causas de destruição (ao ensino tradicional) e a segunda está mais para aversão a mudanças (contrariedade a inovações), o que deveria ser impensável na universidade. Assim, a academia está preocupada com o “quê”, diante da inexorabilidade das transformações que se impõem em termos globais por via de inovações? Vale repetir aqui o que afirmou o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e diretor da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich, na palestra que proferiu durante o citado evento da Fabesp: “Há um grande conservadorismo das universidades brasileiras em promover a reforma do currículo de seus cursos de graduação que faz com que as instituições novas, com programas de graduação recém-criados, tenham mais sucesso do que as instituições mais antigas nesse aspecto. Em outros países, contudo, são as instituições tradicionais que têm liderado as mudanças”. Infelizmente, outras plagas não são como aqui, ou felizmente? Grade curricular, matriz curricular, conteúdos programáticos, flexibilidade nos cursos superiores, entre outros, preocupam os educadores nacionais. É preciso refletir muito sobre quaisquer mudanças “nas almas” dos cursos – especialmente nos cursos de licenciaturas – e não oferecer propostas atabalhoadas “de mudar por mudar”. O corpo docente tem qualificações, o discente traz formações capazes de assimilar o novo ou vamos pular páginas na leitura? Melhor será uma implantação gradativa para dar tempo e condições de boa assimilação. Pode ser um sucesso, mas pode atrapalhar a deglutição, tal como alguém que engole espinha de peixe e tem de se socorrer com um miolo de pão. É praxe da administração educacional diminuir e/ou expandir cargas horárias de disciplinas, transferi-las de semestres, propor avaliações pontuais, à revelia dos coordenadores dos cursos e dos docentes. Esta forma de conduzir a questão impede as inovações que brotam de um projeto pedagógico de curso - construído coletivamente pelos especialistas das diversas áreas -, sufoca a interdisciplinariedade – condição essencial para articular os projetos dos cursos ao projeto da instituição – e favorece a acomodação dos que resistem às mudanças. Este é o nó górdio da questão. Mudanças na educação devem ser bem pensadas para não se correr riscos desastrosos, tendo as mudanças constantes nas áreas do conhecimento e as novas exigências do mercado, fatores que não foram levados em conta durante décadas. Assim, estamos pagando o caro pedágio dessa passividade e, agora, corremos ansiosamente para recuperar o tempo perdido. Não se constrói matriz curricular em gabinetes senão contando com aqueles que respiram o ar do “chão das fábricas”, pois, para os pedagogos, estágio não é prática. Enquanto o primeiro é dado de observação, a segunda é aplicada no fazer educacional, sobre o paciente na mesa de cirurgia. Por derradeiro, vale lembrar que os currículos mínimos definidos pelo Conselho Federal de Educação (CFE) – engessados e com ementas para todas as disciplinas, impedindo as iniciativas inovadoras – imperaram por décadas até a extinção deles pela Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996). Passamos por uma brutal mudança na sociedade da informação onde o conhecimento deslancha a cada instante de forma espantosa. Por mais esforços que possam fazer os educadores dedicados, o maior conceito que se deve incutir na mente dos alunos é ensiná-los a “aprender a aprender”.