“Escolaridade pesa mais que investimento no PIB. O grande problema do Brasil está muito mais na pouca eficiência do país do que na baixa taxa de investimento.” (Professor Pedro Ferreira – FGV)Pedro Cavalcanti Ferreira, professor e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), sempre comenta em seus artigos sobre a baixa produtividade do trabalhador brasileiro, deixando claro que nossa mão de obra é ineficiente devido à pouca capacitação. Destaca que o trabalhador brasileiro, em média, produz a quarta parte do americano e realça o pouco investimento em educação, treinamento e experiência – isto é, possuem menor "capital humano". Nossa mão de obra teria ainda a seu dispor menos máquinas, equipamentos e estrutura – isto é, possuem menos "capital físico". Essa falta de organização do sistema produtivo leva à baixa produtividade e é explicada pela ineficiência da economia. Nossa produtividade total dos fatores (PTF) é baixa, especialmente comparada ao índice dos países avançados, e vem caindo nas últimas décadas. Estudo apresentado em seminário na FGV (matéria veiculada no jornal Valor Econômico de 8 de abril de 2015 – Escolaridade pesa mais que investimento no PIB) explica que o grande problema do Brasil está muito mais na pouca eficiência do aprendizado de seu trabalhador do que na baixa taxa de investimento e enfatiza que a proteção do estado em privilegiar a indústria está equivocada. Enquanto os países desenvolvidos estão orientados na produção de serviços na economia da informação e comunicação, a mão de obra brasileira está concentrada nos serviços de baixa qualificação e produtividade. Ferreira salienta que “pode ser que estejamos nos especializando em coisas que não servem para nada, como camelôs e empregadas domesticas. Não é que não sejam trabalhos dignos, mas comparado com um trabalhador do ramo do software, que também é do setor de serviços, produz pouca riqueza”. No mundo de hoje, a tecnologia está em toda parte e domina cada vez mais os diversos setores nos quais exista um aparelho, desde os que sirvam para a medicina nuclear, a interligação satelital, as grandes aeronaves espaciais ou até mesmo um simples smartphone. Sempre há muito software a ser criado e há cada vez mais necessidade de pessoal especializado em todas as fases da produção. Por cúmulo do azar, não há viva alma na burocracia governamental brasileira preocupada com as transformações que estão ocorrendo no mundo do trabalho, que impactam na vida das pessoas e que mexem nas estruturas da capacitação para o trabalho. Não existe um Plano Nacional de Desenvolvimento de Recursos Humanos para o país em que especialistas da área de planejamento, do trabalho, da área industrial, da ciência e tecnologia, da agricultura e da indústria definam os pré-requisitos capacitacionais em todas as áreas imprescindíveis para levar ao progresso desejado pela Nação. Isto é, não existe um sistema integrado de formação de capital humano no qual o Ministério da Educação (MEC) seja o responsável pela execução das políticas de capacitação. A ideia existente é pontual, focada unicamente no ensino universitário, achando que os “doutores” resolverão todo o desenvolvimento do país. A herança lusitana dos “Carimbos, dos Formulários e dos Processos” foi a mestra na implantação das regras do que se podia fazer em educação. Quando comecei nos anos setenta no antigo Conselho Federal de Educação, se a “papelada” não tivesse oitenta centímetros, o processo de autorização de um curso não era aprovado. E, em pleno 2015, parece que nada mudou. O Congresso Nacional analisa agora a criação do Insaes – Instituto Nacional de Supervisão e Avaliação do Ensino Superior, um órgão com perfil regulador e não de fomento. Lamentavelmente, enquanto o mundo caminha para a desburocratização e a desregulamentação dando mais importância aos indicadores educacionais da avaliação, o Brasil firma-se como conservador. Temos de aceitar esse novo órgão, que nasce sob forma de autarquia, mas tem todas as características de agência reguladora, criado essencialmente para tratar de aspectos regulatórios e não para o desenvolvimento educacional. (Para se ter uma ideia, dos 41 artigos do PL 4.372/2012, 31 (63%) são dedicados ao plano de carreira do pessoal e apenas 18 para o objeto da regulação, fato que é, no mínimo, estranho). Por outro lado, os diversos sistemas educacionais existentes são pontuais e não se inter-relacionam (ensino infantil; ensino fundamental; ensino médio; ensino profissional; ensino técnico; ensino tecnológico e ensino superior; pós-graduação e doutorado). Não há uma integração desses sistemas; são setores que não conversam entre si. Caminham cada um segundo o que os arautos do poder determinaram numa circunstância qualquer. É um ajuntamento em que cada qual porfia as ideias dos iluminados de plantão. Atingir a escolaridade demandada pelos órgãos internacionais não é chegar a um número, mas sim a uma etapa de capacitação, que precisa ser construída ao longo de toda a vida acadêmica de uma pessoa. Uma realidade prática: alguém já avaliou o quanto o Brasil investe no ensino universitário público, considerando-o único desembarcadouro para a formação profissional? Os benefícios alcançados já foram analisados? É inegável que há avanços de primeiro mundo em algumas universidades, mas temos conhecimento de quais são? Tem pertinência os altos investimentos em ensino gratuito – sustentado pelos contribuintes – se logo ao se formar o profissional vai trabalhar numa empresa qualquer e receber seus salários sem nada devolver à Nação? Fazendo a conta pelos alunos que estudaram a cada ano, segundo os dados existentes, calculamos que no sistema público federal, desde 1950 até agora, passaram pelos diversos campi 35,7 milhões de universitários e o estado investiu cerca de 714 bilhões de reais, atualizados para hoje. Enquanto isto, no sistema particular, foram atendidos 77,3 milhões de universitários (2,15 vezes mais) e o custo foi de 386,5 bilhões de reais, corrigidos (1,85 vezes menor que o do público). Não conhecemos nenhum trabalho que analise o que de fato esta força de trabalho de nível universitário representa em matéria de progresso para o país. É lógico que comparando a população de 1950 com um PIB per capita de 1.670 dólares e a de hoje com US$ 11.700, o crescimento foi grande. Mas dependeu de quem, do trabalho das universidades brasileiras? De fato ninguém fez estudo analítico para averiguar qual dose do progresso é devida ao sistema universitário, porque se for considerar a produção de artigos científicos e geração de patentes... é pífia! Fiquemos com um dado alarmante: em 2012, de acordo com relatório anual da Organização Mundial de Propriedade Intelectual (WIPO), vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU), enquanto nos EUA tivemos 2,2 milhões de patentes e no Japão 1,6 milhão, no Brasil foram concedidas apenas 41 mil. O número de patentes é um dos fatores que refletem o grau de inovação de um país. Será que nosso sistema educacional tem contribuído para isso? Tema importante para discutirmos melhor oportunamente.