Por Carmem Tavares*
Num campo cheio de dúvidas e dilemas como a educação, ficamos perplexos ao iniciarmos a segunda quinzena de agosto com estudantes da Inglaterra que pretendem ingressar numa universidade vivendo um grande pesadelo. O Ofqual (Gabinete de Regulamentação de Qualificações e Exames), órgão que regula o sistema de avaliação e qualificações para ingresso nas universidades, solicitou que as instituições produzissem evidências disponíveis pelos professores, tais como, exames simulados, trabalhos realizados em classe, tarefas de casa com o objetivo de definir as notas de alunos nos últimos três anos. As notas obtidas seriam padronizadas pelo Ofqual. Gestores das escolas e professores alertaram que o processo de sistematização gerados por um algoritmo poderia produzir um resultado injusto sobretudo aos alunos de escolas com menor desempenho, pois o procedimento atrelava o resultado individual do aluno com o resultado da escola. As avaliações foram então processadas por meio de um algoritmo para determinar o resultado dos alunos. A tentativa do governo de avaliar milhares de alunos por algoritmo mal calibrado foi um desastre. Houve erro no algoritmo que rebaixou as notas de dezenas de milhares de alunos. Estima-se que um percentual de 40% desses jovens foi prejudicado. Porém, os alunos das escolas economicamente desfavorecidas foram mais impactados. Ou seja, um problema traumático de grandes dimensões tanto para alunos quanto para instituições. E só o futuro nos dirá como a Inglaterra conseguirá reverter o erro e propiciar uma avaliação justa e confiável para os postulantes a uma carreira universitária. Por enquanto, existem apenas especulações em meio a uma onda de manifestações em todo o país.
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Para quem quer se manter informado e não possui tempo para ler os vários artigos diários que costumamos salvar para lermos quando houver tempo na agenda, o engenheiro Artavazd Yeritsyan, de São Francisco na Califórnia, desenvolveu o Podcastle, um gerador de textos que usa a AI (Inteligência Artificial) para a conversão de artigos, notícias e demais textos escritos em podcasts de áudio. Segundo o engenheiro, que pode ser encontrado facilmente no LinkedIn, o Podcastle precisa ser instalado como uma extensão no navegador Google Chrome que automaticamente passa a reproduzir a versão em áudio com fala humana muito natural (já fiz o teste). Excelente ferramenta para alunos, professores, pesquisadores e profissionais em geral. Para entender melhor como foi o processo de utilização da AI para a criação da Podcastle, segue abaixo um quadro elaborado pela Boston Consulting Group (BCG) sobre Blocos de Construção e Inteligência Artificial, aqui traduzidos por Nei Grando. Assim percebemos que a iniciativa trata-se de uma ferramenta de processamento de linguagem natural.
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No Brasil, merece destaque a reestruturação da Cogna de seu segmento de ensino superior, fortemente afetado por um ano atípico. Em sua teleconferência realizada em 21/08, o grupo anunciou que pretende fechar algumas unidades e repensar seu portfólio de negócios, atuando com EAD na maior parte dos cursos de graduação e presencialmente apenas com cursos designados “premium”, como Medicina, por exemplo. Na realidade, é uma tendência mundial e essa estratégia já foi adotada pela maior parte dos grupos consolidadores do ensino superior brasileiro, haja vista que desde 2015 a modalidade a distância cresce vertiginosamente e que 75% das matrículas na graduação ainda são em cursos presenciais. Há um mercado para crescimento da modalidade a distância que apenas acelerou com a pandemia. Contudo, a Covid-19 causou mudanças também nos ambientes de aprendizagem em geral, fazendo com que empresas de tecnologia educacional iniciassem uma corrida acelerada para captação de recursos e ofertas de novos serviços. Nos Estados Unidos, startups de tecnologia levantaram mais de US $ 1 bilhão entre janeiro e julho de 2020, o que representa um aumento de 220% em relação ao financiamento do ano passado, de acordo com a Venture Intelligence.
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Interessante também é a chegada da Fintech Mozper na América Latina, uma plataforma de mesada digital para crianças que têm o Brasil como seu próximo destino até o início de 2021. Operando com cartões físicos e virtuais para crianças temos também uma parceria campeã do Bradesco com a Disney atuando com a NEXT, segmento digital do Bradesco que utilizará personagens da Disney para o ensino sobre educação financeira. “Só no Brasil e no México, são cerca de 30 milhões de pessoas na faixa etária de 6 a 18 anos com smartphones”, afirma o empresário Gabriel Roizner, da Startup Mozper.
Importante lembramos que a educação financeira foi incluída na BNCC (Base Nacional Comum Curricular) em todo o Brasil. Apesar de ser alocada nas séries do ensino fundamental II e na disciplina de Matemática, pretendo evidenciar que Matemática Financeira e Educação Financeira possuem objetivos distintos e essa última se relaciona à formação de comportamentos do aluno em relação à vida financeira. “A contribuição mais importante da Educação financeira é ajudar o aluno, desde cedo, a desenvolver a capacidade de planejar sua vida, sua família, e tomar boas decisões financeiras”, explica Cláudia Forte, superintendente AEF Brasil. Portanto, pode ser ensinada desde a educação infantil e faz parte de um processo de política pública do Governo Federal brasileiro através da ENEF – Estratégia Nacional de Educação Financeira, através do Decreto Federal nº 7.397/2010 e recentemente revisitada pelo Decreto Federal nº 10.393, de 9 de junho de 2020. A ENEF foi criada com o objetivo de trabalhar a gestão do dinheiro e finanças pessoais no currículo escolar brasileiro.
Nessa perspectiva o Sistema Educacional Brasileiro encontra-se diante da especial possibilidade de incentivar e dar evidência às instituições que se propõem a ofertar Educação Financeira de forma interdisciplinar utilizando metodologias variadas, como a de projetos, por exemplo. Na trajetória para uma prática interdisciplinar devemos evoluir no sentido de realizar algumas pontes entre disciplinas, objetivando responder ao desafio que é disseminar uma cultura de planejamento financeiro frente às novas tecnologias que estarão disponíveis para nossos alunos. A implementação de projetos de Educação Financeira nas escolas requer também a formação do professor, pois parte do pressuposto que todo educador precisa ser um pesquisador de sua prática pedagógica imediata e ir até as raízes do conhecimento, construindo uma fundamentação teórica de qualidade para o conhecimento a ser mediado. Só assim esse profissional estará capacitado para sair do senso comum e da sua realidade, para se tornar um articulador do tema a ser abordado. Se, na filosofia emergente de educação, a ação de educar pode ser concebida como meio de desenvolvimento integral do aluno, o professor deverá ser o elemento estimulador das múltiplas linguagens, inteligências, tecnologias e conhecimentos.
Esse foi mais um Momento Tech Educacional. Quer saber mais? Entre em contato com a ProInnovare!
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*Carmem Tavares é Gestora Educacional e de Inovação com 28 anos de experiência no mercado educacional privado brasileiro em instituições de diversos portes e regiões
Os textos aqui apresentados são de responsabilidade do autor e não representam necessariamente a opinião e/ou o posicionamento da ABMES.