De laboratório à mercado: como a universidade pode fomentar o empreendedorismo científico

Espaço destinado à atualização periódica de tecnologias nacionais e internacionais que podem impactar o segmento educacional e, portanto, subsidiar gestores das instituições de ensino para que sejam capazes de agir proativamente olhando para essas tendências.

03/12/2024 | 49

De laboratório à mercado: como a universidade pode fomentar o empreendedorismo científico

Por Carmen Tavares*

A inovação é fundamental para qualquer segmento. Entendida como crucial no fortalecimento da economia e para o desenvolvimento do país. Tenho assistido a milhares de eventos cuja proposta é falar sobre as tendências de inovação educacional. Quase todas elas esvaziadas de uma fundamentação capaz de construir os aportes teóricos necessários ao campo temático da inovação.

No artigo dessa quinzena abordaremos um case de empreendedorismo científico que rompe e desconstrói um modelo já consolidado como referência no Brasil para propor uma atividade inovadora de caráter empreendedor que possibilita a formação de futuros profissionais para atuarem num mercado albergado pela economia criativa, baseada na educação empreendedora como forma de inovação.

O empreendedorismo científico, também conhecido como empreendedorismo de tecnologia ou científico, é o processo de criar novas empresas ou produtos a partir de inovações tecnológicas e científicas. Esse tipo de empreendedorismo envolve a aplicação de pesquisas científicas e tecnológicas para criar soluções inovadoras para problemas práticos e para criar novos produtos

O empreendedorismo científico é considerado importante para a inovação e o desenvolvimento econômico, pois cria novas oportunidades de negócios, gera empregos e pode levar a avanços significativos em áreas como saúde, energia, meio ambiente e tecnologia da informação, e acredite: ele pode nascer dentro das nossas universidades. Contudo, observa-se no ensino superior, sobretudo no particular, poucas instituições com uma política clara de inovação. A desculpa é sempre a mesma: inovar onera as instituições. Em nossa narrativa veremos que, quando existe criatividade e cooperação intersetorial, podemos inovar com baixo custo contando com aporte da instituição parceira e gerando valor para todos os players envolvidos.

Portanto, trarei como case para ser estudado o programa denominado Academic Working Capital, iniciativa que eu tive o prazer de acompanhar. Criado em 2015 pelo Instituto Tim e pelos professores Marcos Pereira Barretto, Artur Tavares Vilas Boas e Diogo Dutra , é destinado a transformar TCCs em Startups. Todos os anos, dezenas de alunos da graduação de todo o Brasil são contemplados pelo programa que possui a seguinte estrutura: Workshops online e presenciais onde são realizadas atividades práticas com o objetivo de desenvolvimento de um produto ou serviço/negócio; orientação com professores durante todo o processo de desenvolvimento da solução; realização do protótipo financiado pelo Instituo Tim e, finalmente, os alunos são levados para uma feira de investidores, geralmente realizada em ambientes empresariais, como a FIESP ou o CUBO/Itaú, onde o negócio é apresentado para aceleradoras e investidores. Desta iniciativa já saíram dezenas de startups que ganharam o mercado. Entre elas a Binahki, a Kartado e a Mvisia, sistema de visão com inteligência artificial , entre muitas outras que seria difícil de enumerar.

Os professores criaram uma metodologia própria denominada SHELL4STARTUPS com base no empreendedorismo científico. A metodologia se transformou no livro “Early Stage: Shell For Scientific Entrepreneurship”, disponível com “open access”, link também no final do texto. Em setembro de 2020, foi lançada a sua segunda edição em inglês devido ao sucesso da primeira edição em português.

A metodologia segue o pressuposto de que o crescimento de um ecossistema empresarial se assenta em dois pilares: a expansão de financiamento e a criação de startups universitárias. Portanto, a educação para o empreendedorismo é importantíssima no processo de formação em qualquer carreira e pode ser considerada a base para que alunos empreendam. Para os autores, pesquisadores do empreendedorismo científico,

“a educação para o empreendedorismo desempenha um papel importante na expansão do conjunto de startups promissoras, treinando empreendedores sobre como avaliar oportunidades de negócios, como projetar modelos de negócios escaláveis e como acelerar o processo de descoberta de clientes e negócios validação do modelo. Programas de educação empreendedora também podem inspirar novas gerações de empreendedores em escolas, universidades, incubadoras, e comunidades locais.” (Early Stage: Shell For Scientific Entrepreneurship, 2020)

Aqui reside uma oportunidade de inovação dentro das instituições de ensino superior.  Através de um projeto dessa natureza é possível se engajar com o mercado em um processo de cooperação intersetorial. No site do Instituto Tim, pode-se conferir todas as etapas do projeto, cases e eventos da Academic Word Capital. Abaixo uma imagem que demonstra as fases da metodologia utilizada no empreendedorismo acadêmico.

Fonte: Early Stage: Shell For Scientific Entrepreneurship, 2020.

“O Empreendedorismo de base tecnológica aborda a curva exponencial de uma startup, que geralmente passa pelas seguintes fases: (i) zero-stage/ideação, na qual há a descoberta de um problema relevante e de uma solução interessante para a necessidade identificada; (ii) validação/estabelecimento, quando as primeiras soluções começam a fazer sentido e iniciam-se as tentativas de vendas e adaptação do produto a uma demanda real, são as versões iniciais; (iii) crescimento, momento no qual o produto já está melhor elaborado e a startup começa a azeitar seu processo de vendas e a estruturar um time maior; (iv) maturidade, momento de escalar processos e tecnologias, bem como definir políticas para atração e retenção de talentos, além de traçar estratégias para cenários de competição mais intensa”. (Early Stage: Shell For Scientific Entrepreneurship, 2020)

Percebo que, para realizar as modificações necessárias aos currículos universitários é preciso entender que o foco tem que colaborar no estudo, no equacionamento e na solução de problemas da comunidade, ligado às áreas de abrangência dos cursos mantidos pela Instituição, bem como atender às exigências do contínuo desenvolvimento tecnológico, do interesse e necessidades locais e regionais de forma criativa, inteligente e empreendedora, como a demonstrada neste case.

Para reafirmar toda a narrativa do case que trouxemos hoje, retrato a declaração de Jeff Dean, diretor de IA do Google, à estudantes universitários ocorrido em 22 de setembro de 2020 em uma live, na qual incentivou os alunos a buscarem áreas de estudo que gere impacto coletivo na sociedade. Dean afirmou que em 2020 está havendo uma “confluência incomum de eventos”, ambiente propício a buscar inspiração a fim de detectar lacunas sociais. Através de inúmeros eventos gratuitos os alunos podem se capacitar para buscarem carreiras onde poderão desenvolver soluções inovadoras “que abordem grandes problemas, como mudança climática, saúde e justiça social”. Em referências as grandes queimadas, a pandemia e as lutas sociais.

Esse artigo retrata mais um projeto acompanhado pela PRO INNOVARE para propiciar inovação no mercado e nas universidades brasileiras. Acesse nosso site: www.proinnovare.com.br

Acesso ao livro Early Stage: Shell For Scientific Entrepreneurship

https://openaccess.blucher.com.br/article-list/9788580393903-429/list#undefined

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*Maria Carmen Tavares Christóvão é Mestre em Gestão da Inovação com área de pesquisa em Inovação Educacional. Diretora da Pro Innovare Consultoria de Inovação atuou como Reitora, Pró Reitora e Diretora de Instituições de Ensino de diversos portes e regiões no Brasil. www.proinnovare.com.br

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Carmen Tavares

Gestora educacional e de inovação com 28 anos de experiência em instituições de diversos portes e regiões, com considerável bagagem na construção de políticas para cooperação intersetorial, planejamento e gestão no ensino privado tanto na modalidade presencial quanto EAD. Atuou também como executiva em Educação Corporativa e gestora em instituições do Terceiro Setor. É mestre em Gestão da Inovação pela FEI/SP, com área de pesquisa em Capacidades Organizacionais, Sustentabilidade e Marketing. Pós-graduada em Administração de Recursos Humanos e graduada em Pedagogia pela UEMG.

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