A orientação empreendedora nas IES

Espaço destinado à atualização periódica de tecnologias nacionais e internacionais que podem impactar o segmento educacional e, portanto, subsidiar gestores das instituições de ensino para que sejam capazes de agir proativamente olhando para essas tendências.

06/04/2021 | 6813

A orientação empreendedora nas IES

Por Carmem Tavares*

Diante das novas demandas do contexto socioeconômico, o ensino superior deve considerar sua própria mutação, sua mudança à luz das evoluções atuais e integrar as mudanças científicas que estão ocorrendo rapidamente no mundo, a fim de evitar atrasos, marginalização e ser capaz de enfrentar desafios multidimensionais que o esperam, é através da modernização de suas práticas de ensino e pelo desenvolvimento do espírito criativo e inventivo que irá preparar as novas gerações de alunos para decodificar a complexidade do mundo moderno e dominá-la. Não é mais sobre transmitir conhecimento, mas ensinar os alunos a aprender pelo esforço pessoal, para desenvolver o espírito de iniciativa, o espírito empreendedor para que eles sejam capazes de resolver os problemas que surgem em seus países em particular, mas, também consiste em fazer com que os jovens sejam capazes de administrar sua inteligência para que não sejam simples candidatos a uma vaga de emprego, mas criadores de empregos e genuínos agentes de desenvolvimento” (BACCARI, Brahim. Conferência internacional de ensino superior, “Ensino superior no século XXI: Visão e ação”, UNESCO).

Nas últimas décadas, Israel tem sido um foco de inovação e exploração tecnológica. O país possui mais de 4.500 startups, a maior renda per capita do mundo, e de acordo com a Forbes, mais de 250 empresas globais têm laboratórios de pesquisa e desenvolvimento (P&D) em Israel hoje, 80 das quais são empresas Fortune 500.

Um histórico que fez do país uma rota de oferta de turismo para alunos universitários de todo o mundo. Passam o período de férias em Israel visitando várias startups israelenses e funcionários do governo enquanto exploram a cultura israelense e marcos históricos.

No Brasil é comum a visita de gestores educacionais a universidades no exterior na tentativa de se replicar modelos inovadores e culturas empreendedoras identificando os fatores capazes de desenvolverem uma cultura empreendedora nas nossas universidades. O movimento inverso já não é verdadeiro. São poucos os alunos ou gestores estrangeiros que visitam nossas universidades e talvez uma politica de divulgação de nossas pesquisas é o que nos falte.

No dia 22 de março foi lançado ao espaço O NanoSatC-Br 1, um microssatélite brasileiro, e se alegrem com a ficha técnica de acordo com o INPE:

O desenvolvimento essencialmente composto por alunos de graduação, bolsistas e professores da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria) que atuam em cooperação e parceria com pesquisadores, tecnologistas e alunos dos cursos de pós-graduação em Geofísica Espacial, e Engenharia e Tecnologias Espaciais do MCTI/INPE, tanto lotados na Coordenação Espacial do Sul - MCTI/INPE-COESU, em Santa Maria, RS, como na sede do MCTI/INPE, em São José dos Campos, SP.

O Programa, que é pioneiro no Brasil no lançamento de CubeSats, é caracterizado pelo desenvolvimento de missões de cunho científico, tecnológico e educacional, com o uso de nanossatélites da classe padronizada conhecida como CubeSat. Atualmente o Programa conta com o NanoSatC-BR1, que se encontra no espaço, em operação desde 2014; o NanoSatC-BR2 que se encontra no Cosmódromo de Baikonour, Cazaquistão, integrado no veículo lançador Soyuz 2.1ª/Fregat-M pronto para ser lançado dia 20 de março de 2021; e o NanoSatC-BR3, que se encontra em fase inicial de concepção.

(INPE / ?CENTRO REGIONAL SUL DE PESQUISAS ESPACIAIS /MARÇO DE 2021).

Este é apenas um case de uma IES entre as milhares de Instituições de Ensino Superior brasileiras, num cenário em que mais de 80% destas instituições são da iniciativa privada. Portanto, há a necessidade de tornar nossas instituições mais empreendedoras atraindo e proporcionando mais pesquisas como a que vimos na UFSM.

Baccari, nos fala da necessidade de tornar nossos alunos empreendedores e isso pode se dar através do empreendedorismo pessoal, no desenvolvimento de seu próprio negócio, ou no empreendedorismo organizacional, sendo um agente de transformação dentro da sua organização ou até mesmo como os graduandos da UFSM que contribuíram para a solução da demanda de um país.

Assim, deve se conceber o espírito empreendedor dentro das IES, como um processo mental, que alberga um conjunto de atitudes, competências, habilidades e sentimentos favoráveis à uma orientação empreendedora.

Para Nadia Rajhi, em seu artigo, Conceptualisation de l'esprit empreendedor et identificação des facteurs de son développement `a l’université, o empreendedorismo é um estado mental, mas que pode ser sistematizado e ensinado, assim a educação empreendedora, faz do empreendedorismo uma carreira a ser aprendida, ao lado de outros fatores através da adoção de práticas empreendedoras tanto no ambiente interno quanto externo da IES. Abaixo estão descritos alguns destes fatores na concepção de Nadia Rajhi:

  • O tipo de universidade influencia o desenvolvimento do empreendedorismo e o espírito empreendedor;
  • A importância do papel do gestor universitário no desenvolvimento do empreendedorismo e do espírito empreendedor para a universidade.
  • A importância da readequação do modelo de currículo universitário.
  • Ao nível da educação empreendedora: importância do original e lúdico através de pedagogias baseadas na formação dos formadores em empreendedorismo.
  • Integração da comunicação com e entre os alunos e a sua motivação.
  • Importância para a IES na construção de parcerias com o mercado e outros segmentos da sociedade.

Como a pesquisadora trabalha com o conceito de que a formação de uma mente empreendedora é o papel mais importante de uma IES algumas conclusões de suas pesquisas podem nos ajudar na compreensão do contexto. Outras conclusões nos ajudam a vislumbrar o perfil de uma universidade empreendedora:

A atitude empreendedora é uma construção da mente, “ela reflete a escolha de uma pessoa (neste caso o aluno) para uma orientação empreendedora: ela seria baseada em seus valores profissionais (características profissionais que ele valorize) e sua visão de empreendedorismo (as necessidades que considera satisfeitas pela ação empreendedora).

O senso de competência representa a crença de um aluno em sua posse das habilidades necessárias para ter sucesso no campo empresarial, o que estimula seu interesse neste campo e influencia sua escolha de carreira.

O espírito empreendedor é um fato social: só pode ser compreendido por e em sua imersão social.

Vários agentes de socialização (família e meio ambiente local, cultura, religião, meio ambiente profissional, educação) podem construir ou restaurar o espírito empreendedor.

Universidade empreendedora é uma universidade autônoma, inovadora, que assume riscos e é proativa e competitiva. A orientação empreendedora é o processo pelo qual a universidade torna-se empreendedora.

As dimensões da orientação empreendedora da universidade envolvem seu potencial de inovação.

Uma universidade inovadora é uma universidade que se envolve em inovação no nível de sua missão (novos programas, novos cursos, novas pedagogias, criação de novas ideias, novos projetos e criação de spin-offs, etc.) em sua organização interna (novos métodos de trabalho, novas estruturas, novos métodos de gestão, etc.).

Uma universidade proativa é uma universidade que atua de forma a antever os fatos, ou seja, não apenas se adapta às mudanças no ambiente, como as antecipa.

Uma universidade autônoma é uma universidade autoconfiante e, acima de tudo, capaz para ser autossustentável ou para encontrar as fontes de financiamento necessárias.

Uma universidade que assume riscos é uma universidade que tem uma atitude favorável para o empreendedorismo. 

Uma universidade competitiva é uma universidade que atua intensamente para superar suas concorrentes para atrair mais clientes e melhorar a imagem da sua marca.

 

Fonte: Nadia Rajhi, Conceptualisation de l'esprit empreendedor et identificação des facteurs de son développement `a l’université, 2020.

Seria bom acreditar que podemos tornas nossas instituições de ensino empreendedoras, mesmo porque faz parte da sobrevivência do negócio para as IES privadas. Concluo que na realidade a ausência da orientação empreendedora é mais ausência de iniciativa e visão das IES do que de viabilidade financeira, haja vista que os aspectos apresentados focam o posicionamento da instituição. Contudo, é uma construção processual que depende da alta gestão.

 

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*Carmem Tavares é Gestora Educacional e de Inovação com 28 anos de experiência no mercado educacional privado brasileiro em instituições de diversos portes e regiões

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Carmen Tavares

Gestora educacional e de inovação com 28 anos de experiência em instituições de diversos portes e regiões, com considerável bagagem na construção de políticas para cooperação intersetorial, planejamento e gestão no ensino privado tanto na modalidade presencial quanto EAD. Atuou também como executiva em Educação Corporativa e gestora em instituições do Terceiro Setor. É mestre em Gestão da Inovação pela FEI/SP, com área de pesquisa em Capacidades Organizacionais, Sustentabilidade e Marketing. Pós-graduada em Administração de Recursos Humanos e graduada em Pedagogia pela UEMG.

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