Por Carmem Tavares*
Os protestos que se seguiram à morte sem sentido de George Floyd em Minneapolis fizeram milhões refletirem sobre seu próprio papel na perpetuação da desigualdade social e do racismo sistêmico, sobretudo do acesso das minorias as tecnologias na educação.
Obum Ekeke, líder global em relações universitárias e parcerias de educação na DeepMind Technologies, uma empresa britânica, com o foco em pesquisas e desenvolvimento AI (Inteligência Artificial) afirmou que em 2021 a empresa deverá agir de acordo com a responsabilidade social recém compreendida atuando em diversos setores, disciplinas, projetos e industrias a fim de buscarem um aprofundamento na compreensão dos problemas sistêmicos colaborando no encontro de soluções significativas, o que levará a uma mudança real na ciência e na tecnologia.
Para Obum Ekeke, o grande problema da diversidade, onde negros não possuem acesso a tecnologia, começa na educação. No Reino Unido apenas 3% da força de trabalho em tecnologia é composta por negros e sabe-se que, como no Brasil essa disparidade inicia muito antes dos negros chegarem ao mercado de trabalho. Apenas 2,6% dos membros do conselho de empresas de tecnologia do Reino Unido são de minorias étnicas, infelizmente no Brasil não temos ainda pesquisas tão específicas. Mas, sabe-se que a maioria da população é negra, contudo, a maior parte dos universitários, especialmente em instituições públicas não é negra. A maioria da população é negra, mas os negros não ganham os maiores salários. São fatores que definem o conceito de desigualdade.
As tentativas de abordar essa ausência crítica de representação são em 2021 o foco principal das estratégias empresariais na Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte, esperamos que o Brasil trace também suas estratégias de inclusão.
A tendencia é que em todo o mundo as organizações assumam compromissos no sentido de delinear estratégias viáveis ??para aumentar a representação interna das minorias étnicas em seus quadros de trabalho. Uma das ênfases deve ser a de campanhas e ações que propiciem a eliminação do preconceito nos processos de contratação, promoções a avaliação de desempenho de candidatos negros. Para tanto é necessário proatividade para conseguirem estender sua comunicação fora de suas redes tradicionais identificando talentos de outras origens.
Dentro da academia e em outros campos que exigem qualificações em nível de pós-graduação, como IA, medidas concretas precisam ser tomadas para aumentar o interesse e consequentemente o número de negros nas carreiras de ciência e tecnologia.
Se fizermos uma pesquisa sobre o número de professores universitários com pós-graduação (mestrado e doutorado) em ciências da computação certamente ficaremos surpreendidos. Um desafio agravado por currículos estreitos, representatividade insuficiente em posições de liderança, falta de opções para alunos promissores e financiamento mínimo para estudos de pós-graduação.
Muitas instituições estão fazendo um ótimo trabalho pelo mundo a fora, entre elas cabe ressaltar a OpenAI, empresa de AI de Elon Musk, que oferece bolsas de estudo para pessoas de grupos sub-representados que desejam estudar aprofundadamente as carreiras de tecnologia. A DeepMind, empresa citada no início do texto, colaborou com mais de 20 universidades em todo o mundo para expandir seu próprio programa de bolsas - que está focado em aumentar a representação no nível de pós-graduação por meio de orientação e apoio financeiro.
Além da educação, instituições do terceiro setor que atuam em prol da inclusão social e contra a injustiça racial encontram em 2021 a especial possibilidade para criarem oportunidades para acadêmicos negros. Estamos diante de mudanças significativas e o Brasil não pode ficar de fora. Sua instituição está pensando sobre isso?
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*Carmem Tavares é Gestora Educacional e de Inovação com 28 anos de experiência no mercado educacional privado brasileiro em instituições de diversos portes e regiões