Por: Ronaldo Mota*
O filósofo e educador canadense Herbert Marshall McLuhan é considerado um dos mais relevantes pensadores do século XX, tendo antecipado os impactos do que viria a ser a futura rede mundial de computadores, a internet, a qual, curiosamente, só foi viabilizada décadas depois de sua morte.
Entre suas obras destaca-se: O Meio é a Mensagem, publicada há 54 anos. A grande ruptura nos pensamentos de McLuhan estava em assumir que o meio fosse em si um elemento essencial da comunicação e não somente um canal de passagem ou um veículo de transmissão.
Uma eventual transformação do meio poderia ser mais determinante do que uma alteração no próprio conteúdo, evidenciando que o mais importante, em algumas circunstâncias, não seria o conteúdo da mensagem, mas sim o veículo, pelo meio do qual a informação estava sendo transmitida. Na verdade, quando a mensagem se altera leva junto o meio e vice-versa. Conteúdo e forma se correlacionam, sendo indissolúveis.
McLuhan, premonitoriamente, afirmou: “uma rede mundial de computadores tornará acessível, em alguns minutos, todo o tipo de informação aos estudantes do mundo inteiro”. McLuhan, tentou desconstruir uma relativa obsessão pelo conteúdo, resquício, segundo ele, da cultura letrada obsoleta, incapaz de se adaptar às novas condições tecnológicas.
Sua visão é totalmente coerente com a realidade contemporânea, onde todos aprendem, aprendem o tempo todo, fora e dentro da escola, e cada qual de maneira personalizada, adotando meios, estratégias, metodologias que lhe são mais adequadas e convenientes. Em um mundo de educação permanente ao longo da vida, o que importa, tanto ou mais do que a absorção do conteúdo, é ter o estudante, ao longo do processo, aumentado seu nível de consciência acerca de como ele aprende (metacognição) e ter amplificado o domínio da multiplicidade de meios associados aos processos de aprendizagem.
Os próximos horizontes educacionais não estão totalmente definidos, ainda que tenhamos algumas evidências de como eles se delineiam. Por exemplo, há uma clara tendência ao hibridismo (a ser reforçado ainda mais no pós-pandemia), conjugando as boas novas ferramentas da chamada modalidade de educação a distância com os atributos permanentes do ensino presencial tradicional.
Em termos de abordagens educacionais, tende a haver uma tendência positiva pela adoção da chamada Aprendizagem Baseada em Projetos (PBL, do inglês Project-Based Learning), a qual é uma metodologia ativa caracterizada pela associação do aprender ao fazer. Em geral, esse método se baseia na construção do conhecimento de maneira coletiva, demandando, em vários casos, múltiplas iterações entre o educando e os tutores em torno de um projeto em elaboração.
A imensa maioria das plataformas educacionais existentes é fruto de demandas de uma realidade anterior, onde a transmissão do conteúdo era o objetivo central, quando não único. Construir um ambiente virtual de aprendizagem ancorado no hibridismo, com ênfase em aprendizagem por projetos é um dos principais desafios educacionais contemporâneos.
A Plataforma RDP (Rich Digital Pages), adotada pelo IPD/ITuring, é um dos exemplos que merecem toda atenção porque inaugura algumas ferramentas plenamente integradas e absolutamente essenciais para viabilizar os pressupostos das exigências acima. Entre outras inovações, a título de ilustração, é essencial que o processo de revisão dos projetos garanta ao educando o retorno comentado e avaliado de sua proposta em menos de 24h, viabilizando uma iteração eficiente e profícua.
Como diria McLuhan, o conteúdo e a forma caminham integrados e se auto influenciam, gerando um produto dinâmico que entende e atende às exigências. Pode parecer simples, mas não é. Ao contrário, é complexo e trata-se de tema ainda não totalmente resolvido. Porém, bons caminhos já foram trilhados em direção a uma educação híbrida, flexível e, essencialmente, personalizada que atenda aos desafios dos tempos atuais.
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*Ronaldo Mota é Diretor científico da Digital Pages e diretor acadêmico do ITuring.