Por: Carmen Tavares*

Um artigo publicado por Max Roser, Co-diretor executivo do Global Change Data Lab, me inspirou a traduzir e adaptar seus apontamentos sobre o quanto é surpreendente como o mundo pode passar por transformações incríveis ao longo de uma vida. Quando refletimos sobre as mudanças dramáticas que ocorreram, somos impulsionados a imaginar como o mundo era completamente diferente a alguns anos ou décadas e como será no futuro também.

Imagine só: acender uma simples luz elétrica teria sido completamente inimaginável para os nossos ancestrais medievais. Até mesmo nossos avós, quando crianças, teriam dificuldade em conceber um mundo onde smartphones e a Internet conectam pessoas de todas as partes.

De igual forma, é impossível para nós prever a chegada de futuras tecnologias que irão transformar fundamentalmente o mundo ao qual estamos acostumados.

Contudo, podemos obter uma visão do nosso próprio futuro ao olharmos para trás e reconhecermos o quão rapidamente a tecnologia mudou o nosso mundo no passado. Essa é a essência deste artigo.

Uma das percepções que podemos extrair dessa perspectiva de longo prazo é o quão extraordinário é o tempo em que vivemos. A mudança tecnológica era extremamente lenta no passado – as tecnologias com as quais nossos ancestrais cresceram ainda eram essenciais em suas vidas quando envelheceram. Em contraste absoluto com aqueles dias, vivemos em uma época de mudanças tecnológicas extraordinariamente rápidas. Para as gerações recentes, tornou-se comum que tecnologias inimagináveis durante a juventude se tornassem realidade durante a vida.

Essa perspectiva de longo prazo sobre a mudança tecnológica é fascinante.

Se embarcarmos em uma jornada pós 1800, estendendo a linha do tempo até horizontes inexplorados, revelar-se-á uma sinfonia vertiginosa de invenções cruciais que se sucederam numa dança acelerada.

A amplitude dessa visão de longo prazo proporcionada pelo gráfico abaixo arrebata a percepção, desnudando a velocidade incomum das metamorfoses tecnológicas que nos envolvem nesta era.

Permita-se imergir nessa visualização transcendental para testemunhar o florescer tecnológico em domínios específicos. Adentre, por exemplo, a epopeia da comunicação: da ancestral escrita aos primeiros pergaminhos, das prensas que selaram palavras no papel, do telégrafo que rompeu barreiras distantes, do telefone que entrelaçou vozes, do rádio que semeou ondas pelo éter, até a exuberância da Internet e a suntuosidade dos smartphones.

Ou voe pelas asas da evolução humana em seu rápido galope. Em 1903, os audaciosos irmãos Wright desafiaram os céus e se ergueram em um voo pioneiro, que durou menos de um minuto, marcando um capítulo imorredouro na saga da aviação. Somente 66 anos depois, o desembarque triunfal em solo lunar reverberou com um êxtase cósmico. Muitos tiveram o privilégio de vislumbrar ambos os feitos em uma única existência: o espetáculo inaugural dos céus e o épico pouso lunar.

Essa magnífica visualização também irradia a miríade de impactos tecnológicos em nossas vidas. Ela engloba criações de uma magnanimidade insondável, como a divina vacina que permitiu à humanidade aniquilar a tirana varíola, e abraça inovações nefastas, como as bombas nucleares, que acenam com um perigo iminente, ameaçando a própria essência de nossa existência coletiva.

Vislumbrando o Futuro: Desvendando as Próximas Décadas

Enquanto traçamos nossa linha do tempo, pintamos o passado em vermelho e a estendemos em verde, adentrando o misterioso futuro. Em um cenário intrigante, notamos que, mesmo sem qualquer aumento na expectativa de vida, as crianças que nascem hoje terão a oportunidade de testemunhar o século 22.

À medida que nos aventuramos nessa jornada temporal, deparamo-nos com uma miríade de possibilidades. Novas vacinas, avanços na energia limpa e de baixo carbono, tratamentos aprimorados contra o câncer - uma profusão de inovações está destinada a aprimorar significativamente nossas condições de vida e preservar o meio ambiente ao nosso redor. Todavia, há uma tecnologia em particular que possui o potencial de revolucionar ainda mais o nosso mundo e nossos espaços acadêmicos: a inteligência artificial (IA).

A inteligência artificial desempenha um papel tão crucial devido à sua capacidade de ser impulsionadora da própria inovação. A rápida mudança tecnológica que temos presenciado pode ser acelerada ainda mais se não depender apenas da inteligência humana, mas também se valer da inteligência artificial. Caso isso ocorra, a transformação que atualmente se estende por décadas poderá acontecer em períodos incrivelmente curtos, quiçá em um único ano. Talvez, até mesmo em um ritmo ainda mais vertiginoso.

Sustento a ideia de que a tecnologia de IA tem o potencial de exercer um impacto transformador e fundamental em nosso mundo. De diversas maneiras, ela já está moldando a realidade ao nosso redor. À medida que essa tecnologia se aprimora nos próximos anos e décadas, ela pode conferir um poder imenso àqueles que a controlam (mas também traz consigo o risco de escapar completamente de nosso controle).

Embora possa parecer difícil conceber tais sistemas no presente, a tecnologia de IA está progredindo a passos largos. Muitos especialistas na área acreditam que existe uma possibilidade concreta de que a inteligência artificial em nível humano seja alcançada nas próximas décadas.

As ondas do futuro quebram-se diante de nós, trazendo consigo um oceano de possibilidades. A tecnologia, uma força inegável que molda nosso mundo, está destinada a continuar a revolucionar nossa realidade. No entanto, cabe a cada um de nós assegurar que essas mudanças sejam para melhor.

Imaginemos um cenário distante, onde nossos antepassados se encontram com o presente em uma dança temporal. Se nossas tataravós pudessem compartilhar alguns dias conosco, seus olhos se abririam diante do espetáculo de nossa vida cotidiana. Desde a magia da fotografia aos encantos do rádio, dos poderes curativos dos antibióticos à vastidão da Internet, e até mesmo a grandiosidade da Estação Espacial Internacional orbitando o nosso planeta. Tudo isso teria sido inimaginável para eles apenas algumas gerações atrás. Contudo, a Escola seria talvez o único ambiente que os deixariam confortável pelo fato de reconhecerem as práticas de sua época, como giz e lousa.

É nessa reflexão que percebemos que, assim como eles, nós também seremos testemunhas de tecnologias que atualmente nos parecem fantasias distantes. A acelerada tendência da inovação promete desdobrar-se diante de nossos olhos, trazendo avanços que sequer ousamos conceber e que, talvez, traga total disrupção para a academia.

No entanto, além dessa vertiginosa corrida tecnológica, há outra tendência de longo prazo que se revela: o crescente poder da tecnologia. Enquanto nossos antigos predecessores manuseavam rudimentares ferramentas de pedra, nós estamos construindo e desvendando sistemas e tecnologias de inteligência artificial que abrangem todo o globo e até mesmo capacitam a edição de nossos próprios genes.

Dado o imenso poder que a tecnologia confere àqueles que a dominam, não há nada tão crucial quanto a questão de quais tecnologias serão desenvolvidas durante nossa existência. É um erro fatal relegar ao domínio exclusivo dos tecnólogos o futuro da tecnologia. A escolha das tecnologias que serão controladas e a quem caberá esse controle são questões políticas de extrema relevância nos tempos atuais, devido ao poderio colossal que essas tecnologias conferem aos seus detentores.

Cabe a todos nós, inclusive educadores, buscar o conhecimento necessário para contribuir de maneira significativa para o debate sobre o mundo em que desejamos viver. Isso implica, em grande parte, adquirir sabedoria e discernimento sobre quais tecnologias almejamos para o nosso futuro.

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*Maria Carmen Tavares Christóvão é Mestre em Gestão da Inovação com área de pesquisa em Inovação Educacional. Diretora da Pro Innovare Consultoria de Inovação atuou como Reitora, Pró Reitora e Diretora de Instituições de Ensino de diversos portes e regiões no Brasil. www.proinnovare.com.br