Universidades do Futuro: Integrando Conhecimento e Enfrentando Desafios Globais

Espaço destinado à atualização periódica de tecnologias nacionais e internacionais que podem impactar o segmento educacional e, portanto, subsidiar gestores das instituições de ensino para que sejam capazes de agir proativamente olhando para essas tendências.

09/04/2024 | 771

Universidades do Futuro: Integrando Conhecimento e Enfrentando Desafios Globais

Por Carmen Tavares*

No século XXI, as instituições educacionais devem adquirir competências atualizadas e desenvolver projetos pedagógicos interdisciplinares para preparar profissionais capazes de enfrentar os desafios e atender às demandas globais do mercado e da sociedade. As novas configurações e a natureza do conhecimento, delineadas nos projeto educacionais das instituições, devem adotar a interdisciplinaridade como um modelo eficaz, onde a colaboração multidisciplinar, o espírito empreendedor, a autonomia e a formação holística são fundamentais.

Em cada fase de crescimento econômico, surgem requisitos para um novo perfil profissional, dotado de competências atualizadas e alinhado às demandas empresariais, regionais e globais em um contexto globalizado. Este padrão histórico foi observado no reconhecimento do papel dos advogados no início da República Brasileira, dos engenheiros durante os períodos de desenvolvimento industrial, e dos economistas durante os esforços de estabilização macroeconômica. Atualmente, profissionais de diversas áreas clamam por competências que transcendam uma formação meramente técnica, buscando uma abordagem humanística aplicada capaz de lidar com desafios inovadores, em oposição a um conhecimento estático destinado a situações rotineiras.

O cenário educacional brasileiro enfrenta uma oportunidade única para promover e dar visibilidade as universidades que se comprometem com uma abordagem interdisciplinar no ensino. A falta de inovação nos modelos pedagógicos, em consonância com o ritmo do crescimento da inovação e dos avanços tecnológicos, resulta em graduados universitários com interações inconsistentes com as demandas do mercado, através de diplomas que carecem de profundidade didático-pedagógica e de um perfil profissional desalinhado com as necessidades da sociedade. Assim, a qualidade do ensino oferecido pelas Instituições de Ensino Superior é questionável e está distante dos novos padrões ocupacionais exigidos internacionalmente.

Observa-se ainda que a qualidade das universidades tem declinado substancialmente, o que contribui para um grande contingente de graduados sem conseguir atender às demandas do mercado, explicando assim a elevada taxa de desemprego entre os jovens.

O fator de competitividade fez com que a união europeia buscasse um novo modelo de ensino superior, os Estados Unidos buscassem alternativas para não perder sua atratividade e outros países, como China entrando nesse mercado e consolidando uma posição importante atraindo um grande número de alunos que vão estudar fora de seu país de origem.

Nessa retrospectiva, é essencial mentalidades que queiram inovar com novos percursos e atribuir relevância às instituições que optaram por adotar novos modelos de serviços e currículos, construídos com uma abordagem interdisciplinar para que o Brasil possa construir propostas que respondam ao momento global. 

As Universidades e seus egressos estão sendo submetidos a novos questionamentos críticos evocados pelos espaços multidimensionais de atuação das empresas, influenciados por uma nova diplomacia de relações internacionais com a entrada de novos atores, novos mercados regionais de consumo e os efeitos de uma crise econômica e ambiental de longa duração. Com isso, as empresas passaram a procurar profissionais mais bem preparados para atuarem seguindo o contexto da nova realidade de mercado. Assim, torna-se necessário o foco em mobilidade acadêmica e internacionalização tornando seus alunos mais confiantes e competentes para atuarem internacionalmente.

Criar universidades interdisciplinares no Brasil apresenta uma série de desafios multifacetados que vão além da simples implementação de novas instituições de ensino superior ou reestruturação das existentes. Esses desafios abrangem desde questões estruturais e financeiras até questões culturais e acadêmicas, exigindo abordagens cuidadosas e estratégias bem elaboradas para enfrentá-los.

Um dos principais obstáculos é a necessidade de reestruturar as instituições de ensino superior existentes para acomodar uma abordagem mais interdisciplinar. Isso envolve redesenhar políticas acadêmicas, administrativas e de governança para permitir uma maior integração entre diferentes disciplinas e departamentos.

Além disso, garantir financiamento adequado é crucial, considerando os custos significativos associados à criação e operação de uma universidade interdisciplinar. Em um contexto de recursos limitados para o ensino superior, obter apoio financeiro suficiente pode ser um desafio substancial.

Outro desafio fundamental é a resistência cultural dentro da comunidade acadêmica. Muitos acadêmicos estão acostumados a trabalhar dentro de disciplinas específicas e podem ser relutantes em colaborar de forma interdisciplinar. Superar essa mentalidade tradicional requer um esforço contínuo para promover uma cultura de colaboração e inovação.

A gestão eficaz também é um ponto crucial. Integrar diferentes disciplinas e departamentos em uma única instituição requer habilidades de gestão robustas para lidar com questões como alocação de recursos, contratação de pessoal e coordenação de programas de estudo.

No âmbito acadêmico, desenvolver currículos verdadeiramente interdisciplinares é um desafio complexo. Isso exige a colaboração de professores de diversas áreas para criar programas de estudo que transcendam as fronteiras das disciplinas tradicionais.

Além disso, avaliar o desempenho e a qualidade de uma universidade interdisciplinar pode ser mais complicado do que em instituições tradicionais, dada a diversidade de áreas de pesquisa e ensino envolvidas.

Por fim, construir parcerias sólidas com a indústria, organizações governamentais e comunidades locais é essencial para o sucesso de uma universidade interdisciplinar. No entanto, isso pode ser desafiador devido à falta de compreensão ou tradição sobre o papel desse tipo de instituição na sociedade.

Para superar esses desafios, é necessário um compromisso forte e sustentado por parte de líderes acadêmicos, governamentais e da sociedade em geral, juntamente com investimentos significativos em recursos humanos, financeiros e infraestruturais. A criação de universidades interdisciplinares não é apenas uma questão de estabelecer novas instituições, mas sim de transformar fundamentalmente a maneira como o ensino superior é concebido e implementado.

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*Maria Carmen Tavares Christóvão é Mestre em Gestão da Inovação com área de pesquisa em Inovação Educacional. Diretora da Pro Innovare Consultoria de Inovação atuou como Reitora, Pró Reitora e Diretora de Instituições de Ensino de diversos portes e regiões no Brasil.  www.proinnovare.com.br 

 

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Carmen Tavares

Gestora educacional e de inovação com 28 anos de experiência em instituições de diversos portes e regiões, com considerável bagagem na construção de políticas para cooperação intersetorial, planejamento e gestão no ensino privado tanto na modalidade presencial quanto EAD. Atuou também como executiva em Educação Corporativa e gestora em instituições do Terceiro Setor. É mestre em Gestão da Inovação pela FEI/SP, com área de pesquisa em Capacidades Organizacionais, Sustentabilidade e Marketing. Pós-graduada em Administração de Recursos Humanos e graduada em Pedagogia pela UEMG.

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