Por Carmen Tavares*
O empreendedorismo é amplamente reconhecido como um motor essencial para o desenvolvimento econômico e a inovação. Governos locais, universidades, escolas e outras instituições têm adotado diversas políticas para fomentar o empreendedorismo em suas regiões. Entre essas políticas, destacam-se o ensino do empreendedorismo no ensino superior e o incentivo à comercialização da investigação e do conhecimento universitário por meio de spin-offs, utilizando ferramentas de apoio como incubadoras e aceleradores (Theodoraki et al., 2018)1 . Este texto explora essas políticas e seus impactos no desenvolvimento de ecossistemas empreendedores.
O ensino do empreendedorismo em instituições de ensino superior é uma das estratégias mais eficazes para promover uma cultura empreendedora. Ao integrar conceitos e práticas de empreendedorismo no currículo, as universidades preparam os estudantes não apenas para o mercado de trabalho tradicional, mas também para criar e gerir seus próprios negócios. O desenvolvimento de habilidades empreendedoras, como pensamento crítico, resolução de problemas, inovação e liderança, é fundamental para o sucesso em um ambiente econômico cada vez mais competitivo e dinâmico (Kuratko, 2005)2 .
O ensino do empreendedorismo pode ser implementado através de várias abordagens pedagógicas. Algumas das mais comuns incluem:
• Cursos de empreendedorismo: Muitas universidades oferecem cursos específicos que abordam tópicos como planejamento de negócios, financiamento de startups, marketing para pequenas empresas e inovação.
• Aprendizagem baseada em projetos: Esse método envolve os alunos na criação de planos de negócios ou na resolução de problemas reais enfrentados por empresas, proporcionando uma experiência prática e aplicável.
• Programas de mentoria e coaching: Parcerias com empresários experientes que atuam como mentores oferecem orientação e conselhos valiosos para estudantes que desejam iniciar seus próprios negócios.
• Competições de startups: Competições promovidas pelas universidades incentivam os alunos a desenvolver e apresentar suas ideias de negócios, proporcionando uma plataforma para a prática e a exposição ao mercado.
Estudos têm demonstrado que a educação empreendedora tem um impacto positivo no comportamento e na intenção empreendedora dos estudantes. De acordo com Nabi et al. (2017)3 , o ensino de empreendedorismo aumenta significativamente a autoeficácia dos estudantes, encorajando-os a considerar a criação de seus próprios negócios como uma carreira viável. Além disso, as universidades que oferecem uma educação empreendedora robusta muitas vezes se tornam centros de inovação, contribuindo para o desenvolvimento econômico local.
A comercialização da pesquisa e do conhecimento gerado nas universidades é um elemento crucial para transformar inovação em produtos e serviços que beneficiem a sociedade. Spin-offs universitários, que são empresas criadas para explorar as inovações desenvolvidas em pesquisas acadêmicas, desempenham um papel central nesse processo. Essas empresas não apenas trazem novas tecnologias para o mercado, mas também criam empregos e estimulam o crescimento econômico regional (Rothaermel, Agung, & Jiang, 2007)4 .
Duas referências de apoio ao empreendedorismo e a inovação que veremos aqui são as incubadoras e as aceleradoras.
As incubadoras de empresas são ambientes controlados que oferecem suporte para startups em estágio inicial. Elas fornecem uma variedade de serviços, como espaço de escritório, assistência técnica, consultoria em gestão, e acesso a redes de contato. As incubadoras ajudam a reduzir os riscos associados ao início de um negócio, permitindo que os empreendedores se concentrem no desenvolvimento de seus produtos ou serviços (Bruneel, Ratinho, Clarysse, & Groen, 2012)5 .
Aceleradores de startups são programas intensivos e de curta duração que oferecem mentoria, financiamento e recursos para ajudar startups a crescer rapidamente. Diferentemente das incubadoras, que podem apoiar empresas por longos períodos, os aceleradores normalmente duram de três a seis meses e culminam em um "demo day", onde as startups apresentam seus negócios a potenciais investidores. Aceleradoras se tornaram modelos globais para a promoção rápida do crescimento de startups (Cohen & Hochberg, 2014)6 .
As spin-offs universitárias têm o potencial de trazer inúmeros benefícios tanto para a universidade quanto para a economia local. Entre esses benefícios, incluem-se:
Transferência de tecnologia: As spin-offs facilitam a transferência de inovações acadêmicas para o mercado, garantindo que os resultados de pesquisas financiadas publicamente tenham um impacto prático.
Criação de empregos: As spin-offs são fontes de novos empregos, muitas vezes em setores de alta tecnologia, que podem transformar a economia local.
Fortalecimento da imagem da universidade: Universidades com um histórico de sucesso em spin-offs se destacam como centros de excelência em pesquisa e inovação, atraindo talentos e investimentos.
Aumento da competitividade regional: Regiões que apoiam spin-offs e inovação acadêmica tendem a se tornar mais competitivas globalmente, atraindo outras empresas e investimentos para o local.
Austin, Texas, é um exemplo de como uma combinação de educação empreendedora, apoio institucional e políticas locais eficazes pode criar um ecossistema empreendedor vibrante. A cidade é conhecida por sua forte conexão entre universidades, como a Universidade do Texas, e o setor privado. Através de incubadoras como a Austin Technology Incubator e aceleradores como Capital Factory, Austin tem sido capaz de transformar inovação acadêmica em sucesso empresarial, contribuindo para sua reputação como um centro tecnológico (Feld, 2012)7 .
A Finlândia é um exemplo de como políticas nacionais podem apoiar a comercialização de pesquisa universitária e o empreendedorismo. O país implementou programas de financiamento direcionados e suporte para a criação de spin-offs acadêmicas. Instituições como a Aalto University desempenham um papel central, com seu ecossistema de startups que inclui o Aalto Design Factory, uma plataforma interdisciplinar que combina ensino, pesquisa e prática empresarial. Como resultado, a Finlândia emergiu como um líder em inovação e comercialização de tecnologia (Clarysse, Wright, & Van de Velde, 2011)8 .
Israel é amplamente reconhecido como um dos ambientes mais favoráveis para startups no mundo. O país investiu pesadamente em educação técnica e empreendedora, com universidades como o Technion – Instituto de Tecnologia de Israel desempenhando um papel fundamental na geração de spin-offs de alta tecnologia. Além disso, o governo israelense implementou políticas como o Yozma Program, que atraiu investidores de capital de risco para apoiar startups emergentes. Essas políticas transformaram Israel em um polo de inovação global, conhecido como a "Startup Nation" (Senor & Singer, 2011)9 .
Conclui-se assim que, a integração do ensino de empreendedorismo nas universidades e o suporte a spin-offs, incubadoras e aceleradoras desempenham um papel crucial no fortalecimento dos ecossistemas empreendedores locais. Ao preparar os estudantes para o mercado e facilitar a transformação de pesquisas acadêmicas em negócios viáveis, essas políticas não só promovem a inovação, mas também impulsionam o crescimento econômico regional. Exemplos globais, como Austin, Finlândia e Israel, evidenciam como uma abordagem estratégica e coordenada pode transformar o potencial acadêmico em sucesso empresarial. Portanto, investir em educação empreendedora e em estruturas de apoio é fundamental para criar ambientes dinâmicos que favoreçam a inovação e o desenvolvimento econômico sustentável.
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Referências
1Theodoraki, C., Messeghem, K., & Rice, M. P. (2018). A social capital approach to the development of sustainable entrepreneurial ecosystems: An explorative study. Small Business Economics, 51(1), 153-170. https://doi.org/10.1007/s11187-017-9924-0
2 Kuratko, D. F. (2005). The emergence of entrepreneurship education: Development, trends, and challenges. Entrepreneurship Theory and Practice, 29(5), 577-597. https://doi.org/10.1111/j.1540-6520.2005.00099.x
3 Nabi, G., Liñán, F., Fayolle, A., Krueger, N., & Walmsley, A. (2017). The impact of entrepreneurship education in higher education: A systematic review and research agenda. Academy of Management Learning & Education, 16(2), 277-299. https://doi.org/10.5465/amle.2015.0026
4 Rothaermel, F. T., Agung, S. D., & Jiang, L. (2007). University entrepreneurship: A taxonomy of the literature. Industrial and Corporate Change, 16(4), 691-791. https://doi.org/10.1093/icc/dtm023
5 Bruneel, J., Ratinho, T., Clarysse, B., & Groen, A. (2012). The evolution of business incubators: Comparing demand and supply of business incubation services across different incubator generations. Technovation, 32(2), 110-121. https://doi.org/10.1016/j.technovation.2011.11.003
6 Cohen, S., & Hochberg, Y. V. (2014). Accelerating startups: The seed accelerator phenomenon. Foundations and Trends® in Entrepreneurship, 10(3), 191-392. https://doi.org/10.1561/0300000044
7 Feld, B. (2012). Startup communities:Building an entrepreneurial ecosystem in your city. John Wiley & Sons.
8 Clarysse, B., Wright, M., & Van de Velde, E. (2011). Entrepreneurial origin, technological knowledge, and the growth of spin-off companies. Journal of Management Studies, 48(6), 1420-1442. https://doi.org/10.1111/j.1467-6486.2010.00991.x
9 Senor, D., & Singer, S. (2011). Start-up nation: The story of Israel's economic miracle. Twelve.
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*Maria Carmen Tavares Christóvão é Mestre em Gestão da Inovação com área de pesquisa em Inovação Educacional. Diretora da Pro Innovare Consultoria de Inovação atuou como Reitora, Pró Reitora e Diretora de Instituições de Ensino de diversos portes e regiões no Brasil. www.proinnovare.com.br