Por: Carmen Tavares*
Conectando conhecimento, tecnologia e transformação social.
As Instituições de Ensino Superior brasileiras encontram-se diante de um ponto de inflexão. A sociedade contemporânea, atravessada por transformações tecnológicas, crises globais e uma crescente complexidade nas demandas sociais, impõe às IES responsabilidades que extrapolam a excelência acadêmica e a produção científica. Espera-se, hoje, que essas instituições se consolidem como plataformas estruturantes de desenvolvimento sustentável, inovação orientada por propósito e inclusão produtiva.
Nesse novo contexto, emerge com força o conceito de IES como ecossistema de inovação — um modelo organizacional dinâmico, interconectado e estratégico, capaz de integrar conhecimento, tecnologia e capital humano com vistas à geração de valor para a sociedade e o mercado. Longe de serem meros espaços de formação técnica ou científica, as IES passam a desempenhar o papel de articuladoras de fluxos entre pesquisa aplicada, formação empreendedora e transferência de conhecimento com impacto social e econômico mensurável.
Essa reconfiguração exige um reposicionamento sistêmico. A IES contemporânea deve atuar como elo entre múltiplos atores: setor público, empresas, startups, comunidades locais e redes globais de inovação. Para tanto, é necessário romper com estruturas segmentadas e promover uma atuação transversal, estratégica e integrada. A metáfora do ecossistema traduz precisamente essa lógica: trata-se de um ambiente onde diferentes elementos — ensino, pesquisa, inovação, empreendedorismo, políticas públicas — coexistem, se influenciam mutuamente e produzem efeitos sinérgicos.
A consolidação desse modelo exige, porém, mais do que intenção. Requer planejamento institucional, investimento em infraestrutura, políticas de incentivo alinhadas ao desempenho de impacto e uma cultura de colaboração intersetorial. A IES precisa ser redesenhada como um sistema de fluxos: de conhecimento, de tecnologia, de competências, de soluções. Não se trata apenas de gerar ciência, mas de garantir que essa ciência circule e seja aplicada nos territórios, nos negócios, nos serviços públicos, nas comunidades e nos ambientes industriais.
Ao se reconhecerem como ecossistemas de inovação, as IES ampliam sua proposta de valor. Passam a considerar a pesquisa aplicada com o mesmo grau de relevância da pesquisa básica, valorizam a formação empreendedora e reconhecem o potencial estratégico de projetos desenvolvidos com o setor empresarial e os governos. Ao promoverem spin-offs, incubadoras, parcerias tecnológicas, programas de capacitação profissional e soluções orientadas por dados, essas instituições transformam-se em vetores de competitividade regional e nacional.
O ganho institucional é expressivo. A ciência ultrapassa os muros acadêmicos e se converte em ativos com potencial de mercado. A pesquisa dialoga com os setores produtivos. O conhecimento transforma-se em inovação tangível. E, sobretudo, a reputação da IES se consolida como uma marca de excelência comprometida com o desenvolvimento.
No entanto, a transição para esse modelo no contexto brasileiro ainda enfrenta barreiras estruturais relevantes. Muitas IES operam sob lógicas organizacionais fragmentadas, com departamentos isolados e núcleos de inovação desconectados da estratégia institucional. A burocracia dificulta processos decisórios ágeis, fundamentais para a celebração de parcerias com o setor privado. Os sistemas de avaliação do corpo docente ainda estão fortemente ancorados em métricas de produção científica clássica, desconsiderando iniciativas de inovação, transferência de tecnologia ou impacto territorial. Some-se a isso a ausência de políticas públicas consistentes e de fontes de financiamento sustentáveis que permitam investimentos em médio e longo prazo.
Apesar dos desafios, há avanços importantes em curso. Diversas IES brasileiras têm investido na criação de núcleos de inovação tecnológica, incubadoras, hubs acadêmico-empresariais e projetos de extensão tecnológica voltados para demandas concretas de mercado. Experiências exitosas de empreendedorismo estudantil, inovação social e pesquisa aplicada mostram que é possível alinhar excelência acadêmica a relevância prática. Tais iniciativas demonstram que o modelo de IES como ecossistema de inovação é viável e escalável.
Contudo, é fundamental que essa lógica não se restrinja a iniciativas pontuais ou centros de excelência isolados. A transformação precisa permear toda a cultura institucional. Da graduação à pós-graduação, dos laboratórios aos setores administrativos, dos editais de fomento às políticas de avaliação de desempenho, é necessário que a integração entre conhecimento e inovação se torne um eixo estratégico da gestão das IES.
A criação de pontes entre o que se ensina e o que se faz, entre o que se descobre e o que se transforma, entre o que se pesquisa e o que se entrega à sociedade deve ser tratada como um diferencial competitivo. Somente com essa convergência será possível consolidar as IES como agentes protagonistas de um novo ciclo de crescimento baseado em conhecimento, inovação e colaboração intersetorial.
Portanto, posicionar as IES como ecossistemas de inovação não é uma tendência acadêmica passageira, tampouco uma aspiração abstrata. Trata-se de uma estratégia institucional crítica para a sustentabilidade e a relevância das IES no século XXI. É uma transição de modelo: do ensino superior tradicional, centrado na lógica interna, para uma atuação orientada por impacto, posicionamento estratégico e compromisso com o desenvolvimento socioeconômico do país.
Ao estruturar conexões sólidas entre ciência, tecnologia e sociedade, ao criar valor compartilhado com os setores público e privado, e ao investir em soluções de alta densidade tecnológica com foco em resultados, as IES brasileiras estarão não apenas cumprindo sua missão, mas se consolidando como plataformas de futuro — preparadas para liderar transformações, gerar competitividade e construir um Brasil mais inovador, inteligente e sustentável.
Convidamos os gestores educacionais a conduzirem suas IES rumo à excelência estratégica, promovendo momentos de capacitação sobre ecossistemas de inovação com a Profa. MSC. Carmen Tavares, da Pro Innovare — uma oportunidade singular de alinhar conhecimento, visão institucional e impacto transformador.
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*Maria Carmen Tavares Christóvão é Mestre em Gestão da Inovação com área de pesquisa em Inovação Educacional. Diretora da Pro Innovare Consultoria de Inovação, atuou como Reitora, Pró Reitora e Diretora de Instituições de Ensino de diversos portes e regiões no Brasil.