Inteligência Artificial: Inovação com Consciência Energética e Ambiental

Espaço destinado à atualização periódica de tecnologias nacionais e internacionais que podem impactar o segmento educacional e, portanto, subsidiar gestores das instituições de ensino para que sejam capazes de agir proativamente olhando para essas tendências.

29/07/2025 | 2467

Inteligência Artificial: Inovação com Consciência Energética e Ambiental

As instituições de ensino superior têm desempenhado papel estratégico nas grandes transformações da sociedade: formam profissionais, produzem conhecimento e influenciam políticas públicas e práticas empresariais. Hoje, com a ascensão da Inteligência Artificial (IA), as universidades enfrentam uma nova responsabilidade — não apenas no desenvolvimento e aplicação da tecnologia, mas também na análise crítica de seus efeitos colaterais, muitas vezes invisíveis aos olhos do público e negligenciados nos discursos de inovação.

 

A IA, frequentemente associada a ganhos de produtividade, avanços na medicina, personalização do ensino e automação de processos, carrega consigo um custo que vai além da infraestrutura tecnológica. Trata-se de um custo energético e ambiental que precisa ser urgentemente compreendido, debatido e incorporado à formação acadêmica, à pesquisa e às políticas institucionais.

 

A Face Oculta da Inteligência Artificial

Estudos recentes indicam que a geração de uma única imagem por meio de IA pode consumir energia suficiente para alimentar centenas de lâmpadas por uma hora. Um texto gerado automaticamente, aparentemente inofensivo, também demanda um volume expressivo de processamento de dados, que por sua vez exige energia elétrica e sistemas de refrigeração potentes. Esses dados, muitas vezes tratados como meras curiosidades técnicas, revelam uma realidade concreta: a IA é uma tecnologia de alto consumo energético e com impacto ambiental direto.

 

Se pensarmos em milhões de usuários solicitando tarefas simples, como resumos, imagens ou traduções automáticas, os números se tornam assustadores. Imagine, por exemplo, toda uma comunidade universitária — estudantes, professores e pesquisadores — utilizando sistemas baseados em IA diariamente. A universidade, enquanto ambiente de produção e disseminação do saber, torna-se também um polo de consumo massivo de energia digital. E, nesse cenário, é fundamental que esse consumo venha acompanhado de responsabilidade.

 

O Desafio da Transição Universitária

Estamos habituados a enxergar a IA como uma solução, mas raramente como uma questão. No entanto, as instituições de ensino superior precisam assumir o protagonismo em um novo tipo de transição: aquela que não é apenas tecnológica, mas energética, ambiental e ética.

 

A transição universitária para um ecossistema digital sustentável exige planejamento e comprometimento. Não se trata apenas de implantar laboratórios de IA ou adotar plataformas inteligentes de ensino. Trata-se de refletir criticamente sobre o modelo de inovação que está sendo promovido e dosar, com precisão, os ganhos intelectuais, sociais e econômicos com os custos ambientais envolvidos.

 

Isso significa repensar o modo como as universidades escolhem e utilizam suas ferramentas tecnológicas. Que tipo de servidores está sendo usados para hospedar seus sistemas de IA? Qual é a origem da energia que alimenta seus data centers? Existem políticas de compensação de carbono? As respostas para essas perguntas ainda são raras, mas precisam se tornar centrais nos debates institucionais.

 

A Universidade como Guardiã da Ética Digital

Além das questões ambientais, a IA levanta dilemas éticos que precisam ser enfrentados com seriedade. A autonomia dos algoritmos, o uso indevido de dados pessoais e a possibilidade de reprodução de vieses discriminatórios já são discutidos em diversas frentes. No entanto, há um novo campo ético emergente: a responsabilidade pelo uso racional dos recursos naturais em função da expansão tecnológica.

 

A universidade deve ser o espaço onde essas reflexões são aprofundadas. Ela tem o poder de formar não apenas especialistas em IA, mas pensadores críticos capazes de antecipar consequências, formular alternativas e propor novos parâmetros de uso responsável. Nesse contexto, a ética digital não pode ser vista como um acessório opcional — ela precisa ser parte intrínseca da cultura acadêmica e da governança institucional.

 

Pesquisa com Consciência Ambiental

Do ponto de vista da pesquisa, é urgente fomentar estudos que meçam, de forma concreta, os impactos ambientais da IA no ambiente universitário. Quantificar o consumo de energia associado a diferentes tipos de uso acadêmico da IA pode orientar decisões mais conscientes. Além disso, projetos interdisciplinares que envolvam engenharias, ciências da computação, administração, economia e ciências ambientais podem criar soluções inovadoras voltadas à eficiência energética e à sustentabilidade tecnológica.

 

Por exemplo, a adoção de protocolos de uso racional de ferramentas baseadas em IA, o desenvolvimento de modelos mais leves e eficientes, e a preferência por sistemas que operem em servidores com energia limpa são estratégias possíveis e desejáveis. A universidade pode liderar essa frente ao adotar práticas internas que sirvam de exemplo para outras instituições, públicas ou privadas.

 

Inovação Sem Desperdício

A pergunta que precisa ser feita é simples: é possível inovar sem desperdiçar? A resposta passa pelo conceito de inovação responsável, no qual crescimento e sustentabilidade caminham juntos. A universidade que busca excelência não pode se limitar a indicadores de produtividade científica ou rankings internacionais. Ela precisa também medir o impacto ambiental das tecnologias que adota, promove e ensina.

Nesse sentido, a adoção de indicadores ESG (ambientais, sociais e de governança) nas instituições de ensino superior não deve ser vista como tendência passageira, mas como imperativo institucional. Incorporar a variável ambiental nos planos de expansão tecnológica é tão importante quanto garantir a inclusão digital ou a qualidade pedagógica dos cursos. 

Formação de Lideranças Conscientes

Por fim, a universidade tem a responsabilidade de preparar líderes para o futuro. Esses líderes não podem ser apenas tecnicamente competentes. Precisam ser sensíveis às implicações éticas e ambientais de suas escolhas. A formação de engenheiros, programadores, gestores e professores deve incluir disciplinas e práticas que desenvolvam essa consciência crítica.

 

A IA que se deseja construir — no setor público, no mercado ou no ambiente acadêmico — deve ser não apenas eficaz e veloz, mas também ética, sustentável e responsável. E a universidade é o terreno fértil para essa construção.

 

Assim, estamos diante de uma revolução silenciosa que não se limita ao código ou à tela. A inteligência artificial transforma a maneira como vivemos, trabalhamos e aprendemos — mas também transforma a forma como consumimos energia, lidamos com os recursos naturais e pensamos o futuro do planeta.

 

As universidades, como agentes estratégicos na formação de conhecimento e no avanço tecnológico, não podem ignorar o custo invisível da IA. Cabe a elas liderar o debate, propor soluções, educar com responsabilidade e garantir que o futuro digital seja também sustentável.

 

Afinal, não se trata apenas de gerar inteligência. Trata-se de gerar sabedoria. Quer conversar mais sobre o tema? Entre em contato com a Profa. Carmen Tavares, Diretora da Pro Innovare. (11) 982600699

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Carmen Tavares

Gestora educacional e de inovação com 28 anos de experiência em instituições de diversos portes e regiões, com considerável bagagem na construção de políticas para cooperação intersetorial, planejamento e gestão no ensino privado tanto na modalidade presencial quanto EAD. Atuou também como executiva em Educação Corporativa e gestora em instituições do Terceiro Setor. É mestre em Gestão da Inovação pela FEI/SP, com área de pesquisa em Capacidades Organizacionais, Sustentabilidade e Marketing. Pós-graduada em Administração de Recursos Humanos e graduada em Pedagogia pela UEMG.

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