Educação Superior Comentada | A invasão e depredação do MEC e a preparação para a cidadania na educação superior

Ano 4 - Nº 43 - 07 de novembro de 2016

A Coluna Educação Superior Comentada desta semana trata sobre a recente invasão e depredação do prédio do Ministério da Educação, por supostos manifestantes, que deixaram, ainda, rastro de destruição na Esplanada dos Ministérios, com extensos danos aos patrimônios público e privado

07/12/2016 | Por: Gustavo Fagundes | 2772

Recebi sugestão de tratar, nesta derradeira coluna do ano de 2016, da recente invasão e depredação do prédio do Ministério da Educação, por supostos manifestantes, que deixaram, ainda, rastro de destruição na Esplanada dos Ministérios, com extensos danos aos patrimônios público e privado.

Inicialmente, resisti à ideia, temendo que minhas concepções ideológicas contaminassem o texto, mas percebi que, como cidadão, não poderia permanecer calado diante de tão abjeta conduta.

Não pretendo, e nem poderia, questionar o direito constitucional à livre manifestação do pensamento, muito menos à realização de protestos, desde que realizados nos moldes dos princípios que norteiam o estado democrático de direito, com respeito à ordem pública e sem causar danos de qualquer espécie.

Acontece que os fatos havidos recentemente não podem, de forma alguma, ser classificados como legítimos atos de protesto ou manifestação de contrariedade a propostas de mudança no ensino médio ou de limitação de gastos públicos, como aventado pelos organizadores para justificar a convocação.

O que presenciamos foram atos de vandalismo e banditismo explícitos, com depredação de patrimônio público e privado, atos de violência deliberada e previamente organizada, ou seja, sem qualquer vinculação lógica ao suposto fundamento da atividade programada.

Cidadão honesto que se dispõe a sair de casa para protestar de forma legítima não esconde o rosto, muito menos carrega consigo mochila repleta de pedras, barras de ferro ou coquetéis molotov.

Quem vai para as ruas com este arsenal está, inequivocamente, adotando uma conduta previamente ajustada com vistas ao cometimento de atos criminosos, organizada e preparada com antecedência.

A imensa maioria daquelas pessoas não tinham a menor noção do conteúdo da proposta de reforma do ensino médio ou das medidas destinadas à necessária limitação dos gastos públicos, mas se apresentavam como manifestantes contrários aos dois projetos, apenas para justificar seu verdadeiro desiderato: a prática de crimes e atos de vandalismo, apostando na impunidade gerada pelo contexto coletivo.

Descortina-se, com isso, a desabrida intenção por trás do evento, que, evidentemente, jamais foi participar propositivamente, de discussões sobre a reforma do ensino médio do da proposta de limitação de gastos públicos.

A intenção, desde a etapa de planejamento e organização, era buscar a intimidação pela violência, pelo desprezo aos princípios que embasam o estado democrático de direito e pela depredação do patrimônio público e privado.

Pichar prédios públicos, quebrar suas vidraças, invadi-los e depredar móveis, equipamentos e instalações não é protestar ou manifestar ideias, é simplesmente cometer crimes injustificáveis, sob o abrigo covarde da coletividade.

O exercício pleno da cidadania passa, necessariamente, pelo protesto, pela manifestação do pensamento e pela participação ativa na vida do País, mas não passa, de forma alguma, pelo vandalismo ou pelo desrespeito ao ordenamento jurídico.

Tão alarmante quanto a inequívoca e preordenada intenção dos vândalos travestidos de manifestantes foi a incompetência das forças de segurança neste caso, evidente desde os serviços de inteligência, que parecem não ter acompanhado adequadamente os preparativos para a suposta manifestação, passando pelos serviços de policiamento ostensivo, que não tiveram a capacidade de conter a turba em sua sanha depredatória, chegando aos serviços de investigação, que ainda não foram capazes de identificar e individualizar suas condutas criminosas.

Chega a parecer que essa conduta foi intencional, buscando apenas permitir que o foco das atenções fosse desviado do Congresso Nacional, onde atos tão lesivos quanto o badernaço eram praticados na calada da noite.

Mas, voltando ao tema central deste espaço, que é a educação superior, esses fatos, aliados a tantos outros que presenciamos nos últimos tempos, conduzem a uma conclusão, no mínimo, preocupante.

Nossas instituições parecem estar tão preocupadas com o ensino que estão deixando de lado sua missão maior, a educação, em suas três vertentes, sobretudo no que se refere à preparação para a cidadania.

É uma preocupação enorme com quantidade de livros, quantidade de doutores, resultados do ENADE, CPC e IGC, mas o que, de fato, tem sido feito para a preparação de nossos acadêmicos para a cidadania?

Qual é o tipo de formação humana e cidadã que está sendo oferecida, além da mera informação técnica que está sendo disponibilizada?

Qual é o tipo de cidadão que está sendo devolvido à sociedade, para atuar indissociavelmente com o profissional bem informado que está sendo entregue?

Gostaria de convidar todos a, junto com as tradicionais reflexões de final de ano, dedicar um pouco de tempo a refletir sobre o real compromisso das instituições de ensino superior com a formação efetiva e a preparação para a cidadania, para a gritante diferença entre os conceitos de “educação” e “ensino”.

Encerro esta derradeira coluna do ano de 2016 desejando a todos um excelente final de ano, com os votos de um 2017 menos turbulento, lembrando que, como bem colocado pela Ministra Cármem Lúcia, “os ‘brasileiros de bem’ precisam ter a mesma ousadia dos ‘canalhas’ para ajudar a tirar o país da crise política, econômica e financeira que o Brasil enfrenta”.

Podemos fazer a diferença, mas não conseguiremos isso agindo apenas no conforto de nossos lares e gabinetes de trabalho, pois, para isso, precisamos ser tão ou mais ousados que “eles”.

Tenhamos, pois, um 2017 pleno de cidadania e de ousadia!

Qualquer crítica, dúvida ou correções, por favor, entre em contato com a Coluna Educação Superior Comentada, por Gustavo Fagundes, que também está à disposição para sugestão de temas a serem tratados nas próximas edições.

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