A mãe de Iane Maria Pessoa, de 20 anos, sonhava em ver a filha com o ensino médio completo. “Na minha família muita gente nem concluiu os estudos”, conta a jovem. Apesar de ter crescido em um bairro pobre do Recife, onde a realidade dura limita a maioria dos sonhos, Iane teimou em ir mais longe. Hoje a pernambucana estuda Administração Pública na Fundação Getulio Vargas em São Paulo (FGV-SP). “Da minha turma da escola, fui a única a entrar numa faculdade. A realidade faz você se acostumar com o que tem. Meus colegas se conformaram que vão ter de trabalhar por um salário mínimo”, afirma a estudante.
Para mudar de rota e chegar até uma das mais prestigiadas instituições do país, Iane se empenhou nos estudos. E também contou com ajuda de muita gente. “A FGV me garantiu a bolsa, mas eu não tinha dinheiro nem para a passagem. Meu irmão conseguiu comprar o bilhete um dia antes, com o cartão de crédito emprestado de um vizinho”, relembra a pernambucana.
Entrar na faculdade permitiu a Iane ter perspectivas de vida e carreira mais amplas. “Já conheci pessoas que nunca imaginei encontrar um dia. Projeto, agora, um futuro muito diferente, quero alcançar coisas maiores”, afirma a estudante. Depois de formada, Iane pretende trabalhar para dar novas possibilidades de futuro a pessoas como seus vizinhos e colegas de escola.
Melhoria. Como está acontecendo com Iane, cursar o ensino superior tem o potencial de mudar muitas vidas, a começar pela perspectiva de ter um emprego. A pesquisa Mapa do Ensino Superior no Brasil de 2017, realizada pelo Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp), mostrou que de 2014 a 2015 houve avanço de 1,5% no mercado de trabalho para quem tem diploma. No mesmo período, o desemprego entre os brasileiros de forma geral cresceu 1,7 ponto percentual, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Além de melhorar a empregabilidade, terminar a faculdade garante também salários melhores. O estudo Education at a Glance, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apontou que a diferença de salário entre quem faz faculdade e quem não faz é maior no Brasil do que em outros países desenvolvidos e em desenvolvimento. Por aqui, uma graduação pode render salário até 2,4 vezes maior - a média da OCDE é de 1,5 salário a mais.
“Proporcionalmente, nós temos um número pequeno de pessoas com curso superior. Mesmo com a massificação recente, na realidade do mercado ainda faz muita diferença”, afirma Luiz Carlos Cabrera, professor da FGV. Essa larga vantagem, porém, tende a diminuir, acredita. “Alguns dos bacharéis e tecnólogos serão absorvidos nas corporações nos postos que deveriam ser de técnicos, então podem ser recebidos com salários menores. A qualidade institucional de onde se estuda vai ter mais peso”, defende o professor.
Estudioso desde pequeno, Luan Maike Felicio de Souza Barros, de 24 anos, cursou Economia no Insper graças a uma bolsa. Para ele, fazer uma faculdade sempre esteve em seus objetivos de vida, mas a formação em uma instituição bem reconhecida lhe deu chances melhores. “Ter o ensino superior é sempre bom. Mas cursar uma faculdade de ponta faz muita diferença", conta o economista, que trabalha como analista em um banco de investimentos e hoje ganha mais do que seus pais.
Apenas dois anos depois de formado, já se tornou “padrinho” de outro estudante de baixa renda do Insper. “Todo ex-aluno pode fazer uma contribuição mensal para ajudar a compor a bolsa desses estudantes”, explica.
Indispensável. Quando conseguem um bom emprego antes de completar a faculdade, alguns jovens acabam deixando os estudos para segundo plano. “Fui coordenadora de faculdade e via alguns alunos sem interesse, deixando a monografia para depois - e esse depois nunca chegava. Quando perdiam o emprego e precisavam refazer o currículo é que percebiam o peso. Porque o mercado cobra sim”, afirma Lina Eiko Nakata, diretora de conteúdo do Great Place to Work Brasil. Uma das provas da importância que o mercado dá à formação superior está no fato de que as empresas do ranking aumentaram o investimento na educação dos funcionários nos últimos três anos, apesar da crise econômica. “Elas acreditam que diminuir o benefício vai prejudicar a empresa como todo.”
Estudar é importante durante toda a vida, alerta Silvio Laban, coordenador do Insper. “Qualquer indivíduo que não estudar está fadado à obsolescência - digo estudar para além da educação formal. Mas chegamos a uma época em que, sem diploma, você não é sequer avaliado em muitas organizações”, afirma.