Detalhe

Graduação abre novos horizontes profissionais

20/10/2017 | Por: Estadão | 2965
Rafael Arbex / Estadão Iane veio para São Paulo para estudar Administração Pública na FGV com uma bolsa

A mãe de Iane Maria Pessoa, de 20 anos, sonhava em ver a filha com o ensino médio completo. “Na minha família muita gente nem concluiu os estudos”, conta a jovem. Apesar de ter crescido em um bairro pobre do Recife, onde a realidade dura limita a maioria dos sonhos, Iane teimou em ir mais longe. Hoje a pernambucana estuda Administração Pública na Fundação Getulio Vargas em São Paulo (FGV-SP). “Da minha turma da escola, fui a única a entrar numa faculdade. A realidade faz você se acostumar com o que tem. Meus colegas se conformaram que vão ter de trabalhar por um salário mínimo”, afirma a estudante.

Para mudar de rota e chegar até uma das mais prestigiadas instituições do país, Iane se empenhou nos estudos. E também contou com ajuda de muita gente. “A FGV me garantiu a bolsa, mas eu não tinha dinheiro nem para a passagem. Meu irmão conseguiu comprar o bilhete um dia antes, com o cartão de crédito emprestado de um vizinho”, relembra a pernambucana.

Entrar na faculdade permitiu a Iane ter perspectivas de vida e carreira mais amplas. “Já conheci pessoas que nunca imaginei encontrar um dia. Projeto, agora, um futuro muito diferente, quero alcançar coisas maiores”, afirma a estudante. Depois de formada, Iane pretende trabalhar para dar novas possibilidades de futuro a pessoas como seus vizinhos e colegas de escola.

Melhoria. Como está acontecendo com Iane, cursar o ensino superior tem o potencial de mudar muitas vidas, a começar pela perspectiva de ter um emprego. A pesquisa Mapa do Ensino Superior no Brasil de 2017, realizada pelo Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp), mostrou que de 2014 a 2015 houve avanço de 1,5% no mercado de trabalho para quem tem diploma. No mesmo período, o desemprego entre os brasileiros de forma geral cresceu 1,7 ponto percentual, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Além de melhorar a empregabilidade, terminar a faculdade garante também salários melhores. O estudo Education at a Glance, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apontou que a diferença de salário entre quem faz faculdade e quem não faz é maior no Brasil do que em outros países desenvolvidos e em desenvolvimento. Por aqui, uma graduação pode render salário até 2,4 vezes maior - a média da OCDE é de 1,5 salário a mais.

“Proporcionalmente, nós temos um número pequeno de pessoas com curso superior. Mesmo com a massificação recente, na realidade do mercado ainda faz muita diferença”, afirma Luiz Carlos Cabrera, professor da FGV. Essa larga vantagem, porém, tende a diminuir, acredita. “Alguns dos bacharéis e tecnólogos serão absorvidos nas corporações nos postos que deveriam ser de técnicos, então podem ser recebidos com salários menores. A qualidade institucional de onde se estuda vai ter mais peso”, defende o professor. 

Estudioso desde pequeno, Luan Maike Felicio de Souza Barros, de 24 anos, cursou Economia no Insper graças a uma bolsa. Para ele, fazer uma faculdade sempre esteve em seus objetivos de vida, mas a formação em uma instituição bem reconhecida lhe deu chances melhores. “Ter o ensino superior é sempre bom. Mas cursar uma faculdade de ponta faz muita diferença", conta o economista, que trabalha como analista em um banco de investimentos e hoje ganha mais do que seus pais.

Apenas dois anos depois de formado, já se tornou “padrinho” de outro estudante de baixa renda do Insper. “Todo ex-aluno pode fazer uma contribuição mensal para ajudar a compor a bolsa desses estudantes”, explica. 

Indispensável. Quando conseguem um bom emprego antes de completar a faculdade, alguns jovens acabam deixando os estudos para segundo plano. “Fui coordenadora de faculdade e via alguns alunos sem interesse, deixando a monografia para depois - e esse depois nunca chegava. Quando perdiam o emprego e precisavam refazer o currículo é que percebiam o peso. Porque o mercado cobra sim”, afirma Lina Eiko Nakata, diretora de conteúdo do Great Place to Work Brasil. Uma das provas da importância que o mercado dá à formação superior está no fato de que as empresas do ranking aumentaram o investimento na educação dos funcionários nos últimos três anos, apesar da crise econômica. “Elas acreditam que diminuir o benefício vai prejudicar a empresa como todo.”

Estudar é importante durante toda a vida, alerta Silvio Laban, coordenador do Insper. “Qualquer indivíduo que não estudar está fadado à obsolescência - digo estudar para além da educação formal. Mas chegamos a uma época em que, sem diploma, você não é sequer avaliado em muitas organizações”, afirma.


Conteúdo Relacionado

Notícias

Desmistificando os Rankings Acadêmicos

Jornal da PUC - Campinas: Entrevista com o Prof. Dr. Adolfo Ignácio Calderón fala sobre o tema Rankings Acadêmicos que, embora sejam cada vez mais utilizados como referência em termos de projeção e divulgação das instituições de ensino, é cercado de controvérsias

Aprimoramento do e-MEC está entre as prioridades do Ministério para 2018

Anúncio foi feito pelo diretor de Política Regulatória da Seres/MEC durante o ABMES Regional realizado em Fortaleza/CE

Educação superior no Ceará cresce duas vezes mais do que a média nacional

Levantamento também constatou tendência de crescimento da modalidade a distância e áreas do conhecimento com o maior número de matrículas

Um ano após MEC mudar regra, polos de ensino a distância aumentam 133%

Estadão: segundo especialistas, crescimento no número de cursos facilita acesso ao ensino superior, mas há a preocupação com queda na qualidade e também com falta de fiscalização

Cursos a distância crescem 127% em um ano

Jornal da Band: o vice-presidente da ABMES, Celso Niskier, fala sobre o resultado da pesquisa "Um ano do Decreto EAD - O impacto da educação a distância na expansão do ensino superior brasileiro"

EAD passará o ensino presencial em 5 anos

DCI: Previsão é que em 2023, 2,2 milhões de matrículas sejam para aulas à distância, somando 51% do total de alunos

Cortes reduzem em 80% número de alunos beneficiados pelo Fies

Correio do Estado: A redução ocorreu depois de mudanças no programa, iniciadas em 2015 e que endureceram as regras para liberação do financiamento; o cenário deve piorar

Em 5 anos, nº de brasileiros que fazem graduação nos EUA aumenta 65,8%

Currículo mais flexível de cursos estrangeiros e maior conexão com mercado de trabalho explicam fenômeno, segundo alunos e especialistas

Trabalhador com nível superior ganha 140% a mais, mostra estudo

A diferença salarial média entre o brasileiro com e sem diploma é a maior entre os 40 países analisados pela OCDE

Estudo: Brasil tem disparidade entre gastos na educação básica e superior

O Brasil é um dos países que menos gastam com alunos do ensino fundamental e médio, mas as despesas com estudantes universitários se assemelham às de países europeus