Com a queda na taxa de juros, redução no tamanho do Fies e entrada de recursos do BNDES para uma das modalidades do programa de financiamento estudantil do governo, o crédito universitário administrado pela iniciativa privada ganha fôlego. Grandes bancos como Bradesco e Santander e a gestora de crédito universitário Ideal Invest, que tem recursos do Itaú e Votorantim, esperam por um aumento expressivo na demanda por esse tipo de financiamento
O cenário que se desenha é bem diferente do atual e, principalmente, do que se via até 2015. Naquela época, o Fies era ofertado pelo governo com uma taxa de juros de 3,5% ao ano e atendia alunos com renda de até 20 salários mínimos, o que tornava esse mercado completamente inviável para o setor privado. Neste ano, o governo restringiu o programa, reduzindo os aportes públicos. Agora, o Fies passa a ter três modalidades. A versão com recursos da União e juros bancados pelo governo ficou limitada a 100 mil vagas (Fies 1). Nas outras duas modalidades, que estão sendo chamadas de Fies 2 e 3, o risco de risco de crédito será dos bancos que assumirão a gestão dos financiamentos. Esses dois modelos terão recursos provenientes dos fundos constitucionais regionais e do BNDES.
O Bradesco registrou um aumento de 82% no volume financeiro de contratos de crédito universitário entre 2016 e 2017. A expectativa é que neste ano o crescimento seja ainda mais expressivo. "Além do nosso financiamento universitário próprio, vamos oferecer o Fies 3, que numa primeira etapa terá recurso próprio do banco", disse Hynde Fonseca Neto, gerente departamental de nichos de mercado do Bradesco. O Fies 3 tem recursos do BNDES e conta com 60 mil vagas.
A Ideal Invest, que também atuará como correspondente bancária das modalidades 2 e 3 do Fies, já percebe aumento na demanda. A gestora de crédito universitário acaba de captar no mercado R$ 200 milhões para financiar os calouros deste ano e poderia ter levantado o dobro desse valor, uma vez que a procura pelas cotas dos fundos de investimento (FDIC) da gestora chegou a R$ 420 milhões. "Percebemos uma confiança maior dos investidores. Foi a nossa maior captação. Não levantamos mais porque esse valor já é suficiente para financiarmos nossos alunos", disse Luiz Barros, diretor financeiro da Ideal Invest. A gestora já financiou mais de 120 mil alunos e atende estudantes de 500 faculdades.
O Santander começou a ofertar, neste mês, financiamento para alunos de graduação de medicina, pós-graduação e MBA de outras áreas. O banco também tem planos de lançar o crédito universitário para alunos de outras graduações, mas ainda não definiu a data. "Com a redução na taxa de juros, o financiamento estudantil, que é de longo prazo, torna-se mais interessante e viável financeiramente", afirmou Ronaldo Rondinelli, diretor do Santander Universidade. Sua meta é fechar 1 mil contratos de financiamentos para alunos de medicina neste ano.
No crédito estudantil privado, o aluno paga 50% da mensalidade durante o curso e a outra metade depois que se forma, por um período equivalente ao da graduação, com juros e reajustes anuais. Com a maior concorrência, já se percebe uma oscilação nos juros cobrados. No Bradesco, a taxa de balcão está em 1,69%; no Santander, fica na casa de 1,99% e na Ideal Invest é de cerca de 1,5% quando a instituição de ensino assume parte dos juros. Esses percentuais variam conforme a parceria com a universidade e o perfil de crédito do aluno. Os bancos, por exemplo, adiantam o valor do semestre ou anuidade e com isso os alunos podem conseguir abatimentos e redução do custo do juros. Na Ideal, metade das faculdades parceiras subsidiam 100% dos juros e recebem, em contrapartida, as mensalidades de todo o semestre à vista.
Além do crédito privado, os grandes grupos educacionais como Kroton, Estácio, Ser Educacional e Unip têm programas próprios de financiamento estudantil.