Detalhe

Crise impulsiona matrículas em cursos do ensino a distância

21/09/2018 | Por: Estadão | 2526
Foto: Sérgio Castro/Estadão

Quando terminou o ensino médio em 2015, Camilly Fiusa sonhava em cursar Veterinária. Sem dinheiro, ela adiou a entrada no curso, com a esperança de que a situação melhoraria em pouco tempo. No início de 2018, já com 19 anos e sem ver perspectiva de conseguir fazer a graduação que queria, decidiu entrar em um curso EAD (ensino a distância) para estudar Gestão Ambiental. 

“Eu queria ser veterinária, mas é um curso muito caro e muito difícil de ingressar em uma faculdade pública. Achei melhor manter o pé no chão e fazer o que está dentro da minha realidade”, conta ela. No ano passado, Camilly chegou a ingressar em uma faculdade particular para cursar Ciências Biológicas, mas desistiu por causa da duração. Preferiu o curso tecnólogo EAD, que só tem dois anos e custo de R$ 170 por mês, pois conseguiu um desconto de 56% pela empresa Quero Bolsa.

Rodrigo Capelato, diretor do Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp), diz que as pesquisas com alunos do EAD mostram que jovens como Camilly são exceção na modalidade. “A média de idade é de 30 anos, enquanto no presencial fica em 22 anos. Em geral, quem estuda a distância é aquele adulto que já tem família e trabalha, e vê no EAD a possibilidade de ascender na carreira. Para o jovem, só é o caminho quando não vê opção - e isso é muito cruel”, diz. 

Para Solon Caldas, diretor da Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (ABMES), o crescimento das matrículas no ensino a distância apenas posterga o problema de expansão do ensino superior. “É muito bom que pessoas mais velhas tenham a oportunidade de conseguir estudar e ter um diploma. Mas não se consegue captar o jovem, que ainda tem o desejo de fazer uma graduação presencial. Vamos perpetuando o problema de termos gerações com baixa escolaridade”, diz. Em 2007, a modalidade a distância representava 7% das matrículas de graduação. No ano passado, passou a atender 1,7 milhão de alunos - o que representa 21,2% dos graduandos do País. Nos cursos de licenciatura, a modalidade já tem 46,8% do total de alunos. 

Ensino a distância
Modalidade foi responsável pelo crescimento de matrículas no País

Público
Em constante aumento na rede privada, a modalidade a distância também teve neste ano um salto nas instituições públicas de ensino. O número de matrículas cresceu 35% e o de ingressantes, 255%. 

“Estamos recuperando o tamanho que essa modalidade tinha há alguns anos, mas foi reduzida por causa da queda orçamentária. Neste último ano, conseguimos retomar a oferta por um incentivo da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Por isso, esse aumento tão expressivo”, diz Reinaldo Centoducatte, presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). 

Ele também ressalta que a maior parte das vagas não é preenchida por jovens que acabaram de sair do ensino médio, mas por professores e gestores que atuam em escolas do ensino básico. “A maior parte da oferta é para a formação de professores, com as licenciaturas”, diz. Em 2016, o EAD nas públicas teve apenas 24,5 mil ingressantes (menor número dos últimos dez anos). No ano passado, o número de ingressantes subiu para 86,9 mil. 

Governo planeja criar Sisu de vagas remanescentes
Com uma alta taxa de alunos que abandonam as graduações, o Ministério da Educação quer criar o já chamado Sistema de Seleção Unificada (Sisu) Transferência para preencher as vagas que sobram desses cursos. Só no ano passado, a rede pública tinha 164 mil vagas remanescentes disponíveis - 99 mil só nas universidades federais - e 70% delas continuaram ociosas. 

“Essas vagas ociosas representam um verdadeiro desperdício de dinheiro público, que vem sendo acumulado há anos. Temos um potencial de ampliar, sem custo, o número de alunos na rede pública, porque as universidades já têm os professores e a infraestrutura para preencher essas vagas na totalidade”, disse o ministro Rossieli Soares.

O sistema único, segundo ele, facilitará ao aluno encontrar as vagas que sobram, já que hoje cada instituição tem suas regras e seu processo seletivo. O sistema ainda vai ser discutido e a adesão será voluntária. 

Em 2015, o ministro Aloizio Mercadante anunciou o lançamento do mesmo sistema - na época, as vagas remanescentes somavam 150 mil. Ele chegou a anunciar que mudaria a forma de pagamento para as universidades, fazendo a transferência pelo número de matrículas efetuadas e não mais pelo de vagas. Com o impeachment, o programa nunca saiu do papel. 


Conteúdo Relacionado

Áudios

Áudio: Número de alunos que ingressam no Ensino Superior tem alta de 8% em 2017

Data:20/09/2018

Descrição:

CBN: Em entrevista à CBN o diretor executivo da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior, Sólon Caldas, afirma que os cursos a distância são mais baratos e atraem um perfil diferente de alunos

Download

Eventos

Seminário ABMES | Responsabilidade social e inovação

06/11/2018

Hora:8h30 (credenciamento) a 12h30

Legislação

PORTARIA CAPES Nº 273, DE 18 DE DEZEMBRO DE 2018

Dispõe sobre a tramitação de recursos das decisões do Conselho Técnico Científico da Educação Superior CTC-ES, nos termos do Decreto 8.977 de 30 de janeiro de 2017.


Notícias

Regulamentação de pós-graduação stricto sensu a distância

Os cursos serão acompanhados e avaliados periodicamente pela Capes

Mais universitários na rede privada

Correio da Paraíba:Em entrevista ao Correio da Paraíba, Sólon Caldas, o diretor executivo da Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (ABMES), comenta o cenário do crescimento da modalidade EAD

Estado ganha mais polos de educação a distância

Gazeta Online: Em entrevista, o diretor executivo da ABMES, Sólon Caldas, explica que o aumento expressivo do ensino a distância é uma tendência mundial

Número de alunos que ingressam no Ensino Superior tem alta de 8% em 2017

CBN: Em entrevista à CBN o diretor executivo da ABMES, Sólon Caldas, afirma que os cursos a distância são mais baratos e atraem um perfil diferente de alunos

Fies tem redução de 12% e deixa de beneficiar 155 mil alunos em um ano

Dados são do Censo da Educação Superior divulgados pelo governo nesta quinta-feira

Ensino superior volta a crescer no país, mas só na modalidade a distância

País não retoma patamar pré-crise; ensino presencial segue estagnado

Direito, pedagogia e administração são cursos mais procurados

Juntos, respondem por 27,4% das matrículas no ensino superior

Aumento das matrículas na graduação a distância é o maior desde 2008, aponta censo

G1: Dados do Censo da Educação Superior 2017 divulgados nesta quinta-feira (20) mostram que, entre 2016 e 2017, o número de alunos de EAD cresceu 17,6%

Ensino a distância

Artigo de Arnaldo Niskier publicado em 18 de outubro no Correio Braziliense , explana a flexibilidade de se estudar na modalidade EAD adequando as atividades acadêmicas ao dia a dia

Ensino a distância deve ultrapassar o presencial em poucos anos Estimativa prevê que o recente método supere o tradicional em 2023

Diário de Petrópolis: em matéria descreve o crescimento da modalidade EAD baseada na pesquisa divulgada pela ABMES. Ainda relata que em alguns anos mais alunos estarão estudando a distância do que em modalidade presencial

Ainda há preconceito no mercado de trabalho com quem faz EAD?

Em estudo feito pela ABMES, os cursos de modalidade EAD serão cursos de maior aceitação em comparação aos presenciais

Curso híbrido e 'novo Enade' viram bandeiras de ensino superior privado

Para setor, prova não é capaz de indicar qualidade exata de instituições; fórum de entidades ainda cobra flexibilização do Fies e permissão para oferta que combine modelos presencial e a distância

Diploma sem sair de casa

Com custo menor que o de uma faculdade convencional, flexibilidade de horário e a possibilidade de acompanhar as aulas pela internet de qualquer lugar, os cursos de graduação a distância têm procura recorde

Grupo de trabalho discute pós-graduação stricto sensu a distância

Reunião aconteceu na sexta-feira, 24 de agosto. A ABMES é uma das entidades que compõe o grupo de trabalho

Graduação a distância permite que profissionais conciliem estudos e trabalho

Saiba como adultos vêm dando um drible na falta de tempo na luta pelo diploma

Polos de ensino superior a distância crescem 133% em um ano

Oferta explode após decreto reduzir as exigências para faculdades online

EAD: 1,5 milhão estuda a distância no Brasil

Mais baratos e flexíveis, cursos online ganharam força; conheça boas faculdades, histórias de quem fez e como o mercado vê esse tipo de diploma

Coluna

Educação Superior Comentada | A polêmica envolvendo a oferta de cursos da área da saúde na modalidade EAD

Na edição desta semana da Coluna Educação Superior Comentada, o consultor jurídico da ABMES, Gustavo Fagundes, analisa o debate acerca da oferta de cursos de graduação na área da saúde na modalidade de educação a distância. Segundo ele, o cerne da discussão é a divulgação equivocada da informação de que o contexto regulatório tornou possível a oferta desses cursos de forma totalmente virtual

#ABMESINFORMA

04/11/2016

Sugestões - Sistema de Coleta do Censo 2017

ABMES encaminha para conhecimento de todos comunicado do Inep sobre a discussão do novo sistema de coleta de dados do Censo – Censup 2017. As contribuições podem ser enviadas até o dia 11 de novembro