Para ampliar o acesso ao ensino superior no Brasil, é preciso não apenas aumentar o escopo de programas como o Prouni (que concede bolsas para alunos de baixa renda em faculdades privadas) e o Fies (de financiamento estudantil), mas oferecer uma educação de qualidade, que de fato promova o acesso dos estudantes ao mercado de trabalho.
Para Daniel Castanho, fundador do grupo educacional privado de ensino superior Ânima Educação, o acesso à universidade gera pouco impacto na sociedade se a qualidade da formação for baixa.
“Hoje temos um número ridículo de 17% dos jovens entre 18 e 24 anos com acesso à universidade. Os outros não têm nem chance de se desenvolver como cidadãos. Mas, se você der acesso a uma universidade ruim, passam a ser excluídos com uma dívida”, afirmou.
As universidades brasileiras, segundo o executivo, estão defasadas e precisam estudar as novas tendências e se adaptar às novas regras de um mercado de trabalho em constante mudança, aproximando empresas e alunos.
Para Castanho, o financiamento estudantil deve deixar de ser visto pelo governo como um gasto, e passar a ser encarado como forma de resgatar a cidadania de parte da população.
Ele também defendeu incentivos aos melhores estudantes, com a oferta de bolsas e financiamentos em condições melhores para alunos com melhor desempenho.
Castanho participou nesta quarta-feira (26) do seminário Desafios do Ensino Superior, promovido pela Folha com patrocínio da Unip (Universidade Paulista), no campus da universidade em São Paulo. A mediação do debate foi feita pela jornalista Sabine Righetti, organizadora do RUF (Ranking Universitário Folha).
Hermes Figueiredo, presidente do Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo), vê como necessário para a melhoria da educação superior que o governo invista prioritariamente em um grupo reduzido de universidades públicas, de forma que se tornem instituições de pesquisa de ponta, seguindo o modelo chinês. As restantes ficariam voltadas ao ensino e extensão, assim como à realização de pesquisas de cunho regional.
Ele também disse ser favorável à ampliação do Prouni e do Fies e afirmou que uma das principais formas de evitar a evasão nesses programas é possibilitar que os estudantes possam arcar com o convívio acadêmico, que também tem custos.
“No caso do Prouni, não há mensalidade, mas o estudante precisa pagar por locomoção, alimentação, materiais e até pelas demandas de sociabilidade, como ir a um cinema, balada, barzinho. Esses alunos vêm de famílias que não têm renda, os que estudam de dia não podem trabalhar”, disse.
De acordo com Janguiê Diniz, presidente do grupo Ser Educacional e da ABMES (Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior), as novas regras para o Fies, que começaram a valer em 2018, tornaram o processo de aprovação restritivo e burocrático.
“Ficou muito parecido com um financiamento bancário qualquer, em alguns casos com regras até mais rígidas.”
Janguiê afirmou que mecanismos como o Prouni e as cotas raciais são necessários para ajudar a combater a alta desigualdade social no país, mas lembrou que, uma vez formados, estudantes que entram na universidade dessa forma ainda encontram dificuldades no mercado de trabalho.
“É uma consequência da desigualdade econômica no Brasil, muitos não chegam a cargos altos nas empresas. Uma vez formado, como ter acesso? Os mais qualificados, de melhor condição financeira, acabam ficando com as melhores vagas.”