Gênero, cor, raça, deficiência, multiculturalidade. Esses são elementos que precisam ser contemplados em ambientes sociais diversos, inclusive no acadêmico. E foi com o objetivo de debater sobre como prover a diversidade nas instituições de educação superior visando à inovação que o primeiro painel da 12ª edição do Congresso Brasileiro da Educação Superior Particular (CBESP) reuniu dois expoentes de ações promotoras de diversidade no país: Stefano Barra Gazzola, presidente do Grupo Educacional UNIS, e José Vicente, fundador e reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares.
Com enfoques, estratégias e objetivos distintos, ambos provocaram revoluções nas comunidades nas quais estão inseridos. Gazzola transformou um centro universitário do interior de Minas Gerais em referência de internacionalização enquanto Vicente criou uma instituição de educação superior que tem como missão “a inclusão e a formação qualificada de profissionais comprometidos com os valores da ética, da dignidade da pessoa humana e da diversidade étnico racial”.
Internacionalização como porta de entrada da diversidade
“A internacionalização se faz e, a partir desse momento, a diversidade se inicia. São duas coisas extremamente conectadas em instituições de ensino como as nossas”. A afirmação do presidente do Grupo Unis tem como base as experiências vivenciadas dentro da instituição.
De acordo com ele, quando as universidades enviam e recebem alunos e professores elas se abrem para a diversidade. “Podemos ficar horas e horas falando sobre a diversidade, mas a verdade mesmo é que a diversidade a gente vive e ela nos ensina a transmitir o que temos e somos”.
Gazzola rechaça o argumento de que faltam recursos para internacionalizar. “Somos criativos, somos competentes e não dependemos de vontade e de dinheiro de governo, mas, enquanto gestores, precisamos ter vontade política. Se tivermos isso, podemos, sim, ter um processo de internacionalização”. E continua: “será que não está na hora de abrirmos a cabeça para as novas competências, a captar o novo não apenas no saber, mas também no fazer. A diversidade nos ensina a sentir o mundo”.
Desigualdade racial
No que pesem os resultados das políticas de cotas instituídas na última década, a diversidade racial continua sem existir em todos os espaços, assim como há dez anos. Esse é o posicionamento do fundador da Faculdade Zumbi dos Palmares, segundo o qual esta realidade exige uma reflexão tanto dos pontos nos quais estamos falhando quanto das oportunidades que estão sendo deixadas para trás.
“Nossa diversidade não consegue superar o nosso racismo, não consegue superar nossa xenofobia e não consegue superar nossa intolerância. O valor da diversidade está posto como muito importante, mas quando você olha na perspectiva dos negros vê como ela não se realiza”, argumenta.
Para o especialista, a diversidade no ambiente educacional não significa apenas mais professores negros, mais pesquisadores negros e mais gestores negros. “O ambiente acadêmico precisa ser um espaço de laboratório para trabalhar sobre aspectos como racismo, intolerância e mecanismos para superar esse tipo de realidade que, até hoje, ninguém sabe como fazer”. E concluiu: “continuo sendo o único reitor negro de um país em que a diversidade é um valor irrefutável”.
Por fim, o sócio diretor do Pravaler, Rafael Baddini, falou sobre os desafios de encontrar soluções de financiamento estudantil que atendam às necessidades dos estudantes e sejam atraentes também para as instituições de educação superior. “É na construção desse modelo que estamos debruçados. Nosso objetivo é tentar atingir todos os públicos”.