O atraso na divulgação das notas do próximo Enem, que ocorrerá no fim de março de 2021, vai comprometer o ingresso de 3,5 milhões de alunos no ensino superior privado. Esse é o volume de estudantes que usam a nota do processo seletivo do governo federal para conseguir bolsas do ProUni e descontos de mensalidades nas faculdades privadas.
Segundo levantamento realizado pela consultoria Educa Insights, 80% dos alunos fazem suas matrículas após terem conhecimento de suas notas. Quanto maior a pontuação no Enem, maior é o desconto obtido. No último processo seletivo, as notas do Enem foram divulgadas no fim de janeiro.
A estimativa da Associação Brasileira das Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) é que, se não houver ingresso de novos alunos ou caso o volume seja muito pequeno em 2021 (nos dois semestres), a base total de matrículas pode ter queda de 20%. Não há uma data limite padrão de ingresso no ensino superior, uma vez que depende da carga horária exigida em cada curso, mas o início das aulas a partir de abril compromete boa parte das graduações.
A fim de amenizar o impacto, o setor está pleiteando junto ao governo federal que a concessão da bolsa do ProUni seja desvinculada da nota do Enem. “Estamos pedindo ao presidente Jair Bolsonaro essa desvinculação, que as instituições de ensino possam usar, por exemplo, as notas do seu próprio vestibular ou outros mecanismos”, disse Celso Niskier, presidente da ABMES.
Segundo Niskier, além do atraso no ingresso dos alunos, que pode levar a muitos deles desistir do curso e provocar queda na receita das instituições, a reforma tributária, que elevará a carga de impostos de 3% para 12% , aumentará as mensalidades em 11%.
A reforma proposta pelo governo retira ainda vários impostos das instituições de ensino que concedem bolsas pelo ProUni. Hoje, as faculdades ficam isentas de tributação ao concederam determinada quantidade de bolsas aos alunos carentes.
Ainda conforme o estudo da Educa Insights, o número de estudantes que pretendem se matricular em cursos presenciais no segundo semestre de 2020 caiu para 5% em julho, contra 16% em abril. Nos cursos a distância, o percentual ficou em 34%, estável em relação a três meses antes.
“As instituições de ensino precisam se preparar porque muitos alunos estão adiando sua intenção de entrar no ensino superior em 2021. Entre os entrevistados, 41% disseram que só começam a estudar no primeiro semestre de 2021. Em abril, eram 33%”, disse Daniel Infante, sócio da Educa Insights.