O adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para janeiro de 2021 poderá provocar uma postergação de matrículas nas faculdades do País e, em um efeito de bola de neve, levar a um apagão de prossionais qualicados daqui alguns anos.
O alerta foi feito nesta terça-feira (28), com a divulgação da 4ª fase do estudo Coronavírus e Ensino Superior, fruto de uma parceria da empresa Educa Insights com a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES).
Conforme o levantamento, o adiamento do calendário do Enem pode inviabilizar o ingresso de pelo menos 3,5 milhões de estudantes nas faculdades no primeiro semestre de 2021.
Entre os 5,8 milhões de inscritos, é esse o montante de candidatos que deve buscar uma vaga nos cursos de instituições particulares e depende dos resultados da prova para conseguir condições melhores no valor das mensalidades. A pesquisa mostra que, para 76% dos entrevistados, o principal motivo para realização do Enem é a chance de obter descontos ou bolsas de estudo.
É a partir da nota conquistada que eles podem concorrer às vagas do Programa Universidade para Todos (Prouni), pleitear o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) ou ir atrás de agentes do mercado ou bolsas das próprias instituições de ensino, concedidas proporcionalmente ao desempenho no exame.
De acordo com o sócio-fundador da Educa Insights, Daniel Infante, estudos com base em anos anteriores mostram que 80% dos estudantes decidem pela matrícula a partir da divulgação da nota do Enem.
Novas datas
No início deste mês, o Ministério da Educação (MEC) anunciou que o exame foi adiado de novembro deste ano para os dias 17 e 24 de janeiro de 2021. A divulgação das notas está marcada para 29 de março.
Na oportunidade, o MEC armou que a decisão poderia não atender a todos, mas que havia chegado a uma solução técnica. Por meio de enquete, a maioria dos estudantes havia optado por provas apenas em maio do ano que vem.
“O adiamento compromete o calendário acadêmico. O Enem é a principal porta de entrada a instituições públicas e privadas. A divulgação a partir de 29 de março inviabiliza a entrada de muitos estudantes no primeiro semestre de 2021”, avalia o diretor executivo da ABMES, Sólon Caldas.
Além disso, o impacto no ingresso de estudantes será sentido entre os egressos no futuro, arma Celso Niskier, diretor presidente da associação. Somado a outras problemas do setor, a situação poderá levar a um apagão de mão de obra qualicada daqui a cinco anos, que é o tempo médio de duração das graduações.
No País, as instituições privadas correspondem a 73,7% das matrículas no Ensino Superior, segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) de 2019.
Mudança no Prouni é vista como saída
Para minimizar os impactos deste cenário, uma das principais bandeiras da Abmes é o m da vinculação do calendário do Prouni à divulgação da nota do Enem, como previsto na Medida Provisória 934, posteriormente transformada no Projeto de Lei 22/2020. O texto foi aprovado no Senado e encaminhado para sanção presidencial.
A pressão é para que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vete o artigo que trata da questão e as instituições possam utilizar critérios denidos pelo MEC nos seus próprios sistemas de seleção para ofertar as vagas do Prouni.
“Hoje, a lei do Prouni já permite isso. Sem essa vinculação, conseguiríamos resolver parte do problema”, arma o diretor presidente da ABMES, Celso Niskier.
Outro esforço é para que o Senado aprove o projeto que cria o Fies Emergencial, ampliando a cobertura do nanciamento a estudantes matriculados que tiveram a renda reduzida durante a crise provocada pela Covid-19.