Identificando risco de que o adiamento do calendário do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) inviabilize o ingresso de estudantes no Ensino Superior privado no primeiro semestre de 2021, a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) indica que a mudança nas datas da prova pode aumentar as chances de um "apagão" de mão de obra nos próximos anos. O alerta leva em conta que a rede particular abriga 70,2% de todas as matrículas realizadas em cursos presenciais no país e 91,6% dos ingressos nos cursos EAD. Ao menos 3,5 milhões, dos 5,8 milhões de inscritos no Enem, devem buscar uma vaga em cursos de instituições particulares e dependem da divulgação do resultado para cursar a graduação.
Os dados fazem parte do estudo "Coronavírus e Ensino Superior: o que os alunos pensam", elaborado pela empresa de pesquisas educacionais Educa Insights e divulgado em parceria com a ABMES. O calendário da avaliação é importante porque, em média, 64% do total de matrículas no primeiro semestre ocorrem entre a divulgação dos resultados e o início do ano letivo e 80% dos estudantes realizam a matrícula após o conhecimento da nota obtida.
Neste ano, o Ministério da Educação (MEC) alterou a aplicação das avaliações do Enem de 22 e 29 de novembro de 2020 para 17 e 24 de janeiro de 2021, com anúncio das notas finais marcado para 29 de março. Só então poderão ser abertos os prazos para os processos de seleção dos programas de acesso, bolsas e financiamentos, o que pode, conforme a ABMES, comprometer toda a programação acadêmica do primeiro semestre.
É a partir da nota conquistada no Enem que os estudantes podem concorrer às vagas do Programa Universidade para Todos (ProUni), pleitear contratos do financiamento pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) ou de agentes do mercado ou, ainda, bolsas de estudo das próprias instituições de Ensino Superior, concedidas proporcionalmente ao resultado obtido na avaliação. Para 76% dos entrevistados, o principal motivo para realização do Enem neste ano é conseguir o melhor desconto possível ou bolsa de estudo.
A 4ª fase do levantamento "Coronavírus e Educação Superior: o que pensam os alunos" foi realizada virtualmente entre 18 e 21 de julho com homens e mulheres, com idades entre 17 e 50 anos, pertencentes às classes sociais A, B, C e D. Ao longo de todas as fases da pesquisa foram ouvidos 748 alunos de graduação, matriculados em cursos presenciais ou EAD de instituições particulares há pelo menos seis meses. Também foram entrevistados outros 1.244 potenciais alunos que tenham interesse de iniciar cursos de graduação presencial ou EAD em faculdades privadas nos próximos 12 meses. Foram realizadas três outras etapas do levantamento, em março (primeira fase), abril (segunda fase) e maio de 2020 (terceira fase).
Apesar dos desafios, alunos querem seguir matriculados
O estudo ouviu pessoas que planejam iniciar um curso superior, presencial ou EAD, nos próximos 12 meses. Preocupados com os impactos da covid-19 no atual momento do país, apenas 14% dos entrevistados declararam planejar o início do curso de graduação neste segundo semestre. Esse público adiou os planos, em grande parte, para o início de 2021: eram 30% no início da pandemia, e se tornaram 39% na pesquisa de julho.
Os interessados em se matricular agora nos cursos na modalidade a distância somam 34%. Os cursos presenciais tiveram movimento contrário e mais acentuado: se em março a intenção de começar em agosto era de 16%, em julho, só 5% confirmaram que pretendem se matricular. Para essa modalidade de ensino, 45% deixarão para decidir quando dar início a uma graduação apenas após o fim da pandemia.
A preocupação com os impactos financeiros e com as ameaças à saúde provocados pela pandemia da covid-19 é a principal razão para deixar para depois a formação superior. Não ter condições para pagar as mensalidades é o receio de 36% dos questionados, a garantia da segurança sanitária foi apontada por 35% e 29% responderam que os dois motivos são preocupantes.