O adiamento do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2020 poderá tirar cerca de 3,5 milhões de estudantes do ensino superior privado, segundo um levantamento da ABMES (Associação Brasileira das Mantenedoras do Ensino Superior), divulgado nesta terça-feira (28).
O adiamento “pode inviabilizar o ingresso de estudantes no ensino superior privado no primeiro semestre de 2021 e aumentar as chances de ‘apagão‘ de mão de obra nos próximos anos. Ao menos 3,5 milhões, dos 5,8 milhões inscritos, devem buscar uma vaga nos cursos das instituições privadas de ensino superior e dependem da divulgação do resultado para cursar a graduação”, diz a ABMES.
As informações fazem parte da 4ª fase do estudo “Coronavírus e Ensino Superior: o que os alunos pensam”, elaborado pela empresa de pesquisas educacionais Educa Insights e divulgado em parceria com a ABMES. Para 76% dos entrevistados, o principal motivo para realização do Enem neste ano é conseguir o melhor desconto possível ou bolsa de estudo.
Isso ocorre porque é a partir da nota conquistada no Enem que os estudantes podem concorrer às vagas do ProUni (Programa Universidade para Todos), pleitear contratos do financiamento pelo Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) ou de agentes do mercado ou, ainda, bolsas de estudo das próprias IES (instituições de ensino superior), concedidas proporcionalmente ao resultado obtido na avaliação.
Em 8 de julho, o MEC (Ministério da Educação) anunciou as novas datas, alterando a aplicação das avaliações de 22 e 29 de novembro deste ano para 17 e 24 de janeiro de 2021, com anúncio das notas finais marcado para 29 de março. Só então poderão ser abertos os prazos para os processos de seleção dos programas de acesso, bolsas e financiamentos, o que pode comprometer toda a programação acadêmica do primeiro semestre.
O calendário da avaliação é tão importante para os alunos quanto para as IES: em média, 64% do total de matrículas no primeiro semestre ocorrem entre a divulgação dos resultados e o início do ano letivo e 80% dos estudantes realizam a matrícula após o conhecimento da nota obtida.
Segundo a ABMES, a proposta de Reforma Tributária enviada pelo Executivo Federal para o Congresso Nacional pode tornar ainda mais distante a inclusão de milhões de brasileiros no ensino superior. Da maneira como foi apresentada, com a unificação do PIS/Cofins para criação da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), a carga tributária vai saltar dos atuais 3% para 12%. A mudança vai não só representar o fim da isenção da tributação atual em razão da adesão ao ProUni, como gerar impacto imediato no valor das mensalidades, estimado em 10%.
O estudo ouviu pessoas que planejam iniciar um curso superior, presencial ou EAD, nos próximos 12 meses. Igualmente preocupados com os impactos da Covid-19 no atual momento do país, apenas 14% dos entrevistados declararam planejar o início do curso de graduação neste segundo semestre. Uma queda de 8 pontos percentuais (p.p.) em relação à primeira apuração, em março. Esse público adiou os planos, em grande parte, para o início de 2021. Eram 30%, no início da pandemia, e se tornaram 39% na pesquisa de julho.
Entre os interessados em se matricular agora nos cursos na modalidade a distância houve um aumento de 30% (3ª fase) para 34% (4ª fase). Os cursos presenciais tiveram movimento contrário e mais acentuado: se em março a intenção de começar em agosto era de 16%; em julho, só 5% confirmaram que pretendem se matricular. Para essa modalidade de ensino, 45% deixarão para decidir quando dar início a uma graduação apenas após o fim da pandemia.
A preocupação com os impactos financeiros e com as ameaças à saúde provocados pela pandemia da Covid-19 é a principal razão para deixar para depois a formação superior. Não ter condições para pagar as mensalidades é o receio de 36% dos questionados, a garantia da segurança sanitária foi apontada por 35% e 29% responderam que os dois motivos são temidos.
As IES estão empenhadas em ajudar seus alunos a continuar os estudos no segundo semestre de 2020, apesar dos impactos negativos da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Em julho, ao menos 71% delas procuraram os estudantes para realizar a rematrícula e 53% ofereceram condições diferenciadas para auxiliar no pagamento das mensalidades. Em 47% dos casos, foi concedido desconto por até três meses; 15% receberam redução dos valores por até seis meses e 9% por mais de seis meses. As informações são da ABMES.