Detalhe

Covid-19 obriga mudanças profundas no ensino superior

04/10/2020 | Por: Rede Brasil Atual | 7113
Foto: Reprodução/ Rede Brasil Atual

Depois de quase sete meses de adoção das primeiras medidas de isolamento social no estado de São Paulo, escolas de todos os níveis, faculdades e universidades, ainda convivem com um cenário de grande incerteza sobre a retomada de atividades presenciais, que estão previstas para retornar gradualmente no dia 7 de outubro. As indefinições sobre a reabertura das instituições educacionais, inclusive de ensino superior, ainda sob pandemia da covid-19, são uma questão global a ser solucionada. A ainda apresentam dificuldades operativas para o retorno ao funcionamento.

Por melhores que sejam as ferramentas e possibilidades de ensino e aprendizagem utilizadas para a realização de aulas e outras atividades virtuais, ainda é impossível transferir toda a experiência de formação no ensino superior para a tela de um celular ou computador.

Na 13ª Carta de Conjuntura do Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura Universidade do Município de São Caetano do Sul (Conjuscs), tratei do tema das mudanças trazidas pela pandemia no ensino superior. A crise sanitária da covid-19 vem se consolidando, como fato histórico, em um ponto capital deste século. E determinando um “antes e depois” dessa enfermidade em nível global.

Transformações que ocorriam em um ritmo mais suave em grande parte das instituições, como a virtualização dos processos de aprendizagem, se transformaram em questões de prioridade máxima. A consultoria Educa Insights projetar que o volume de alunos em cursos on-line deve superar os matriculados no modelo presencial já em 2022. Segundo estudo divulgado pela Associação Brasileira das Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), o processo é pelo momento que estamos vivendo, de pandemia de covid-19.

Desconectados
A adoção de ferramentas disponíveis entre as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s) no ambiente educacional foi a tentativa mais comum no sentido de remediar as consequências do isolamento social a que ainda estamos submetidos. No entanto, em um país como o Brasil, onde ainda persistem inúmeras desigualdades, essa solução atendeu apenas uma parte do público que frequenta as faculdades e universidades do país.

Os questionários socioeconômicos, respondidos no ato de inscrição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nos últimos cinco anos, apontam que um em cada três estudantes não tem acesso à internet. E nem a dispositivos que possibilitem o acesso a programas de educação a distância. A análise, realizada pela plataforma interativa Quero Bolsa, aponta a dificuldade de universalização desse modelo educativo. Isso decorre de obstáculos socioeconômicos e da precariedade da infraestrutura de telecomunicações em algumas partes do Brasil.

As escolas privadas estão passando por problemas consideráveis para a sobrevivência pós-pandemia da covid-19, principalmente para as pequenas e médias instituições de ensino superior. A consultoria Atmã Educar indicou a diminuição de 17% no total de novos alunos previstos para 2020 (de 2,5 milhões para 2,06 milhões). As matrículas devem diminuir em 70%. Somente cento e oitenta mil, das seiscentas e vinte cinco mil matrículas esperadas, devem ser efetivadas.

Efeitos imediatos e o dia seguinte
As instituições de educação superior privadas já vinham sofrendo grande diminuição de recursos provenientes do Fies. O Programa de Financiamento Estudantil do Governo Federal era nove vezes maior em 2014 do que em 2019. A situação de falta de recursos acomete também as três universidades públicas paulistas. USP, Unesp e Unicamp terão diminuição nos recursos, grande parte vinculados a um percentual da arrecadação do ICMS, de pelo menos R$ 1,2 bilhão.

Esse cenário de tantas incertezas e dificuldades do ensino superior, tanto no Brasil como em toda a América Latina, foi a base do documento Covid-19 y Educación Superior: de los efectos inmediatos al día después. O trabalho foi elaborado pelo Instituto Internacional para a Educação Superior na América Latina e Caribe (Unesco-Iesalc). E apresenta um plano composto por três fases, destinadas ao enfrentamento das consequências da pandemia e de medidas de retomada de atividades dentro do que se está convencionando chamar de “novo normal”. Primeiro, a continuidade pedagógica através do ensino a distância, Segundo, a retomada das atividades pedagógicas presenciais de acordo com as indicações das autoridades de saúde. E terceiro, a estruturação de um modelo de ensino híbrido, que inclua presencial e virtual.

O instituto também apela aos países e instituições para que tratem prioritariamente da falta de equipamentos e conectividade. E ofereçam serviços e aplicativos para telefones celulares, garantindo que alunos e professores tenham linhas de suporte constantes, por telefone ou on-line. Além disso, antecipa um declínio de curto prazo na demanda por ensino superior, devido à crise da saúde e suas conseqüências financeiras. E incentivando que seja considerado o papel do ensino superior nos planos de recuperação econômica e social, promovendo a cooperação internacional sobre esses temas.

Medidas compensatórias
A Unesco-Iesalc defende também a implementação de medidas compensatórias para apoiar o aprendizado de alunos desfavorecidos. Além disso, propõe a transferência de conteúdo curricular para formatos digitais, incluindo tutoria individualizada. E também a formação de pequenos grupos de aprendizagem para nivelamento e escolas de verão (ou inverno) que ofereçam atividades compensatórias.

Muitas dúvidas persistirão por um bom tempo no setor do ensino universitário. O funcionamento dessas instituições de maneira plena só virá com a descoberta de uma vacina ou medicamento que permita a retomada de suas atividades com o maior grau de normalidade possível.

No entanto, é necessário que se aproveite esse momento para refletir sobre medidas que adaptem as faculdades e universidades para o que está por vir.

Muitas delas vêm atuando de maneira destacada no enfrentamento às consequências do covid-19, e poderão seguir com tal destaque caso consigam acompanhar as transformações que irão se consolidar a partir do próximo capítulo da história da humanidade, que passaremos a viver depois de superarmos essa enorme crise global.


Conteúdo Relacionado

Vídeos

Webinar | Retomada com segurança das atividades presenciais nas IES

Confira a íntegra do webinar "Retomada com segurança das atividades presenciais nas IES", realizado em 21 de julho de 2020, com a participação de Maurício Garcia, consultor educacional e cientista digital;  Margareth Dalcolmo, pneumologista e pesquisadora da Fiocruz, e Marcos Alencar, advogado especializado no ramo trabalhista empresarial

Legislação

PORTARIA FNDE Nº 655, DE 29 DE OUTUBRO DE 2020

Prorrogar, para o dia 30 de novembro de 2020, o prazo estabelecido na Resolução nº 03, de 28 de junho de 2012, para a realização dos aditamentos de renovação semestral dos contratos de financiamento concedidos pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), simplificados e não simplificados, do 2º semestre de 2020.


Notícias

Faculdades privadas estimam perda de 1 milhão de calouros

Estadão: Em estudo realizado pela ABMES mostra que a intenção de ingressar em um curso de graduação caiu de 38%

Pandemia faz estudantes voltarem a morar com os pais e uso dos self storages crescem

Band News: O levantamento realizado pela ABMES mostra o desempenho acadêmico dos estudantes e a permanência na faculdade

Futuros universitários ainda sofrerão efeitos da pandemia em 2021

Além de interferir na rotina de quem já está matriculado no ensino superior este ano, a pandemia de covid-19 também vai impactar aqueles que pretendem entrar na universidade em 2021

Trabalhar com as suas habilidades

Diário do Nordeste: Nilson Filatieri comenta em seu artigo o levantamento realizado pela ABMES

Do presencial ao online no susto: por que o EaD não pode ser feito sem planejamento, mesmo na pandemia

Estadão: Em artigo elaborado por Francisco Sardo, ele comenta cobre o estudo realizado pela ABMES

CNE edita normas educacionais a serem adotadas durante a pandemia da Covid-19

Deliberação do Conselho regulamentou a Lei nº 14.040, de 18 de agosto de 2020

Ministério da Educação abre inscrições para vagas do Fies que não foram preenchidas

Jornal Nacional: Sólon Caldas, diretor executivo da ABMES, comenta sobre a dificuldade dos estudantes em pagarem o financiamento estudantil

Conselho de Educação permite aula remota até fim de 2021 no ensino básico e no superior

Flexibilização valerá em instituições públicas e particulares

A Covid-19 e o ensino superior

Diário da Grande ABC: A consultoria Educa Insights projeta, em estudo divulgado pela ABMES , que o volume de alunos em cursos on-line deve superar os matriculados no modelo presencial já em 2022

Mais do que nunca, EAD

Educação em Revista: Em crescimento antes da pandemia, atividades remotas podem avançar ainda mais durante a retomada da economia

Nº de alunos que abandonam faculdade deve subir após a pandemia, e setores poderão enfrentar falta de mão de obra

Queda na renda e falta de perspectiva levam alunos a desistência de seus cursos. Evasão universitária, que já vinha em tendência de alta, pode observar aumento em 2020

Educação pós-pandemia

O Globo: Em artigo, o professor Arnaldo Niskier comenta sobre a educação híbrida

Como será a volta às aulas após a temporada compulsória de ensino on-line

Veja: Intensifica-se o debate sobre as aulas virtuais. Poucos gostaram da experiência, mas ela é inescapável — e isso pode ser bom

A hora do plano B

A pandemia de covid-19 abriu a cabeça de estudantes para as aulas à distância, mas piorou a crise das faculdades, que buscam alternativas para sobreviver

Mais de 40% dos alunos do ensino superior privado afirmam que podem desistir do curso, diz pesquisa

Agência Brasil: Quase a totalidade dos estudantes matriculados no ensino superior privado querem continuar os estudos.

ABMES Pesquisas