Candidatos suspeitam de erro na nota da redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e cobram que o Inep (Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais), órgão responsável pela prova, revise a correção.
As notas foram divulgadas nesta segunda (29), com muita instabilidade no sistema. A Folha apurou que um alto número de reclamações de erro levou a diretoria de tecnologia do órgão a pedir uma varredura nas notas de todos os estudantes.
Na última edição do Enem, uma falha na identificação dos candidatos levou à troca de notas de 5.974 participantes. Na ocasião, o problema só foi reconhecido pelo Inep depois da reclamação de estudantes.
Pelo histórico de problemas do exame e as instabilidades no sistema, um grupo de 50 estudantes de cursinhos de elite de São Paulo fez uma notificação extrajudicial ao Inep nesta quarta (31). Ele pedem o acesso, em até 24 horas, ao espelho da redação.
Em 6 de abril começam as inscrições para o Sisu (Sistema de Seleção Unificada), que dá acesso às vagas em universidades federais de todo o país.
Eles já preparam um pedido de liminar na Justiça Federal, caso o Inep não dê acesso à redação.
“São alunos que estavam muito bem preparados e tiveram notas menores que em anos anteriores. O fato de o Inep ter problemas recorrentes nos sistemas nos faz ter essa dúvida, por isso, pedimos que os candidatos possam ver o espelho e, assim, dar transparência ao processo”, diz Márcio Danilo Doná, advogado dos estudantes.
Os alunos que contrataram o profissional são de cursinhos como Objetivo Integrado, Poliedro e Etapa, que lideram os rankings de maiores notas na prova.
Candidata a uma vaga em medicina, Hedra Santos, 18 anos, diz que sua nota está 120 pontos abaixo do que tinha tirado na edição anterior. “Minha nota foi de 920 para 800, é uma diferença muito grande e que pode me tirar a vaga em uma universidade federal.”
Técnicos do Inep disseram que foi feita uma varredura no sistema para identificar se houve troca de notas. Até a noite desta quarta (31) nenhuma incongruência tinha sido encontrada.
As notas dos candidatos são repassadas ao Inep pelo consórcio aplicador do Enem, que é quem corrige as provas. O órgão então é responsável por divulgar os boletins aos estudantes e repassar as informações ao Sisu, onde os candidatos verificam quais vaga conseguem acessar com o resultado que tiveram na prova.
Outra suspeita dos técnicos é que a diferença nas notas pode ter ocorrido por algum desvio no padrão de correção, já que, neste ano, o tempo para a avaliação das redações foi menor do que em outras edições.
No Enem 2020 apenas 28 candidatos tiraram nota máxima na redação, de 1.000 pontos. Na prova anterior, 53 pessoas alcançaram o maior resultado. Ainda que a abstenção do exame neste ano tenha sido recorde, com metade dos candidatos ausentes, a queda foi vista com preocupação, já que inscritos, com bom desempenho, tendem a não faltar.
Uma nota da FGV, que faz parte do consórcio aplicador da nota, elencou as ações de capacitação e supervisão dos corretores da redação, como pré-teste de avaliadores, treinamento online e acompanhamento de desempenho durante a correção.
“A soma de todos esses fatores possibilita a entrega de uma nota confiável ao participante, pois, em todas as suas etapas, o processo de correção de redações do Enem é conduzido por uma equipe qualificada, treinada especificamente para essa tarefa e comprometida tanto com o processo como um todo quanto com cada um dos participantes”, diz a nota.
Questionados sobre a possível falha nas notas da redação, MEC e Inep não responderam.
O Enem 2020 foi marcado por uma série de problema organizacionais, como salas superlotadas durante a pandemia e candidatos impedidos de entrar para a prova. Técnicos do Inep relatam ainda falta de coordenação no órgão, que está com o 5º presidente desde o início do governo Jair Bolsonaro (sem partido).
Alexandre Lopes foi demitido do cargo um mês após a realização do Enem. Ele não tinha bom relacionamento com o ministro da Educação, Milton Ribeiro, que considerou as falhas na aplicação da prova como a gota d’água.