Cooperação Institucional em ecossistemas de inovação

Espaço destinado à atualização periódica de tecnologias nacionais e internacionais que podem impactar o segmento educacional e, portanto, subsidiar gestores das instituições de ensino para que sejam capazes de agir proativamente olhando para essas tendências.

01/06/2021 | 6658

Cooperação Institucional em ecossistemas de inovação

Por Carmem Tavares*

Tendo se originado como uma metáfora para identificar os protagonistas de um sistema icônico de inovação regional na Rota 128 em Boston, a Hélice Tríplice tornou-se um modelo reconhecido internacionalmente, que está no âmago da disciplina emergente de estudos de inovação, e um guia de políticas e práticas nos âmbitos local, regional, nacional e multinacional. A Hélice Tríplice provê uma metodologia para examinar pontos fortes e fracos locais e preencher lacunas nas relações entre universidades, indústrias e governos, com vistas a desenvolver uma estratégia de inovação bem-sucedida. Identificar a fonte generativa do desenvolvimento socioeconômico baseado no conhecimento é o cerne do projeto de inovação da Hélice Tríplice para aprimorar as interações universidade-indústria-governo. (ETZKOWITZ, Henry. ZHOU, Chunyan. Hélice Tríplice: inovação e empreendedorismo universidade-indústria-governo, 2017).

Na crise global de saúde em que vivemos observamos a busca da indústria farmacêutica por tratamentos e vacinas sustentada em dois pilares: velocidade e cooperação. Um dos parceiros de cooperação da indústria farmacêutica tem sido a universidade, como nos aponta a teoria da Hélice Tríplice destacada acima.  

A Teoria da Tríplice Hélice possui metodologia própria para a criação de processos de cooperação intersetorial e o link para que conheçam mais sobre a a teoria estará disponível no final do texto.

Um bom conceito para compreensão do processo de cooperação intersetorial pode ser definido como a ligação de organizações em dois ou mais setores para alcançar em conjunto, um resultado que não poderia ser alcançado isoladamente. Portanto, simplificadamente compreende as organizações (parceiros da indústria, do setor de serviços e parceiros da universidade) se atentando para a ligação estabelecida entre essas organizações e os resultados alcançados no processo de cooperação.

Nos últimos anos, tornou-se amplamente reconhecido que os processos de inovação são caracterizados por um considerável grau de interação e cooperação entre empresas que se destaca como uma configuração organizacional alternativa para suportar os avanços tecnológicos e com objetivo de sustentabilidade econômica. Mas, nesse texto abordaremos brevemente as cooperações em que as instituições de ensino superior são partes do processo.

A complexidade dos processos de inovação levou a um grande crescimento no processo de cooperação entre as instituições de ensino com o mercado (industrias, serviços). Essa interação entre o ensino superior e a indústria, ou o segmento de serviços, tem por objetivo principal estimular o conhecimento e a troca de tecnologia. Portanto, o tema tem recebido maior atenção por parte de gestores, tanto de empresas, quanto das instituições de ensino.

A necessidade de inovação no ambiente de negócios e a própria necessidade de políticas de transferência do conhecimento acadêmico intensifica a tendencia de cooperação intersetorial fazendo com que sejam realizadas pesquisas que pontuem fatores que influenciam o sucesso de tais colaborações.

Alguns fatores podem ser apontados na necessidade de cooperação. É o que nos demonstra a figura abaixo:

Fonte: Adaptada de Bonaccorsi & Piccaluga (1994) por Mendes e Sbragia, Revista de Administração FEA/USP 2021.

O primeiro deles seria as motivações de cada um dos setores para o desenvolvimento de cooperações intersetoriais, observa-se que para as universidades há constante pressão para a produção de novos conhecimentos, em contrapartida existe o desafio dos custos e financiamentos contínuos que suportem as pesquisas para que as universidades permaneçam na vanguarda em todas as áreas temáticas e assim possam contribuir para os mais variados negócios sendo vistas como motores de desenvolvimento econômico.

Já para o mercado, os fatores de motivação seriam as pressões vinculadas a rápida mudança tecnológica, ciclos de vida de produto mais curtos e intensa competição global que gera um ambiente totalmente competitivo. Ou seja, a troca de conhecimentos entre domínios acadêmicos e comerciais torna-se totalmente necessária. Um outro fator importante é que a cooperação aumenta a capacidade organizacional de inovação aberta, aquela em que uma organização acopla redes externas no desenvolvimento de inovação e conhecimento, além do seu próprio segmento de PD&I (Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação).

Um segundo fator trata-se da forma como geralmente ocorrem essas cooperações.  Segundo uma revisão da literatura e relatórios de negócios elas se estabelecem através da prática de:

  • Joint Ventures (acordo entre duas ou mais empresas que estabelece alianças estratégicas por um objetivo comercial comum, por tempo determinado).
  • Networks (ação de trabalhar a rede de contatos, trocando informações relevantes com base na colaboração e ajuda mútua).
  • Consórcios (quando uma empresa participa ativamente de consórcios de pesquisa conjuntamente com outras companhias, com o objetivo de acessar conhecimento no estado da arte em alguns campos especializados e de monitorar o movimento dos clientes e concorrentes). COSTA, Priscila. Management of Company-University Cooperation: a Brazilian Multinational Case. FEA/USP, 2010.
  • Alianças de apoio a pesquisa (Endowment, Trust fund) através de acordos institucionais, acordos de grupos, instalações institucionais.
  • Transferência de conhecimento através da contratação de recém formados, interações pessoais com pesquisadores, programas de educação corporativa.
  • Transferência de tecnologia (ou seja, atividades de desenvolvimento e comercialização de produtos através de centros de pesquisa universitários).

Importante pontuar que nos últimos anos a forma de se estabelecer cooperações intersetoriais tornou-se tão diversificada que dificilmente pode ser retratada pela literatura, sobretudo pela diversidade de culturas institucionais, políticas internacionais na área de tecnologia, entre outros.

Fatores como barreiras ou facilitadores do processo de cooperação são apresentados na figura abaixo de forma resumida, bem como a satisfação resultante entre os atores destas parcerias.


Fonte: Mendes e Sbragia, Revista de Administração FEA/USP, 2021.

Torna-se importante ressaltar que as instituições de ensino superior, além das funções de pesquisa e ensino, nessa perspectiva, possuem como processos facilitadores outras ações tais como comercialização do conhecimento acadêmico, por exemplo, por meio de programas de educação continuada no segmento de extensão universitária, patentes, setores de transferência de tecnologia, parques tecnológicos, incubadoras, aceleradoras, intensificando assim a sua relevância econômica e social.

Concluímos identificando a competência de interação como primordial para toda instituição de ensino superior ou empresas objetivando a sobrevivência dentro de um ecossistema de negócios cada dia mais complexo e inovador e este texto procura estimulá-los à implementação na prática. A sustentabilidade e sobrevivência é a maior motivação para cooperação entre os setores e toda IES, por menor que seja, tem como fazê-lo. A mentalidade empreendedora é que deve ser despertada nas instituições e gestores para que possam começar a agir proativamente.

Link do Instituto Internacional de Tripla Hélice -  http://www.triplehelix.net/

 

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*Carmem Tavares é Gestora Educacional e de Inovação com 28 anos de experiência no mercado educacional privado brasileiro em instituições de diversos portes e regiões

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Carmen Tavares

Gestora educacional e de inovação com 28 anos de experiência em instituições de diversos portes e regiões, com considerável bagagem na construção de políticas para cooperação intersetorial, planejamento e gestão no ensino privado tanto na modalidade presencial quanto EAD. Atuou também como executiva em Educação Corporativa e gestora em instituições do Terceiro Setor. É mestre em Gestão da Inovação pela FEI/SP, com área de pesquisa em Capacidades Organizacionais, Sustentabilidade e Marketing. Pós-graduada em Administração de Recursos Humanos e graduada em Pedagogia pela UEMG.

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