Por Ronaldo Mota*
Alfabetização para o futuro diz respeito à característica profundamente humana de, ao refletir sobre sua própria reflexão acerca do passado e do presente, ser capaz de antecipar o futuro, antevendo cenários diversos, frutos exclusivos de sua mente. Ainda que natural esse processo, jamais foi tão relevante quanto atualmente e, para ser efetivo, demanda ser adequadamente estimulado, tornando imprescindível fazer parte das metodologias contemporâneas de aprendizagem.
Bloom e outros pesquisadores, ao longo da segunda metade do século passado, estabeleceram uma divisão didática por 3 domínios principais para definir a taxonomia dos objetivos de aprendizagem: 1) Físico, ligado aos cinco sentidos, visão, audição, tato, paladar e olfato; 2) Cognitivo, relacionado à como a pessoa pensa e aprende; 3) Emocional, refere-se à forma como o indivíduo se sente em termos psicológicos e fisiológicos.
Mais recentemente, especialmente a partir do advento do mundo digital, incorpora-se, no mesmo nível de relevância, um quarto domínio: Metacognição. Etimologicamente, significa “para além da cognição”, ou seja, a faculdade de conhecer o próprio ato de conhecer, associado à ampliação da consciência dos atores envolvidos no processo ensino-aprendizagem acerca de como se aprende.
Entre as principais características, complementares ao domínio dos conteúdos fundamentais de cada área, o que se espera de um profissional diferenciado e preparado para o futuro estão: 1) Capacidade de aprender a aprender continuamente ao longo da vida; 2) Capacidade analítica para resolver problemas práticos, desenvolvendo o domínio de raciocínios abstratos sofisticados; 3) Familiaridade em juntar diferenças áreas do saber e das artes, com especial disposição para a área de gestão de informações, incluindo o domínio de linguagens e de plataformas digitais; 4) Habilidade de comunicação, sabendo lidar com pessoas e a negociar com flexibilidade e competência em todos os contextos; 5) Inteligência emocional desenvolvida, incluindo perseverança, empatia, autocontrole e capacidade de gestão emocional coletiva; 6) Disposição plena para o cumprimento simultâneo de multitarefas, propiciando capacidade de análises apuradas e de tomada de decisões; e 7) Colaborar em equipe de forma produtiva, sendo respeitoso e cordial, entendendo as características individuais e as peculiaridades das circunstâncias, promovendo ambientes criativos e empreendedores, resultantes de processos coletivos e cooperativos.
As principais tarefas e demandas do mundo analógico costumavam ser previsíveis (território do enfoque cognitivo) e, progressivamente, estão sujeitas a serem substituídas por processos baseados em automação e inteligência artificial, movidas pela ciência dos dados e por máquinas que aprendem, dispensando, praticamente, intervenções humanas diretas.
O analfabeto atual, aquele não dotado da capacidade da escrita e da leitura, faz parte dos mais excluídos na escala social. Por sua vez, o analfabeto do futuro será aquele incapaz de imaginar, pela ausência da prática de refletir sobre a própria reflexão. Este cenário próximo pode ser mais devastador ainda, gerando o risco de uma indesejável sociedade ainda mais excludente que a atual.
A surpreendente e positiva diferença é que, em tese, pela primeira vez podemos conjugar qualidade com quantidade. Mais do que isso, só haverá qualidade onde houver escala. Quantidade é essencial para gerarmos, com qualidade, uma aprendizagem híbrida (incorporando os predicados das modalidades presencial e a distância), flexível (adaptável aos diversos contextos e propósitos educacionais), personalizada (customizável, via trilhas de aprendizagem individualizadas, a partir das características específicas de cada educando), e, principalmente, assentada no letramento para o futuro.
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*Ronaldo Mota é Diretor acadêmico do ITuring