Na conquista por uma vaga no curso de medicina, alunas são aprovadas, inclusive em universidades federais, com a ajuda de processamento de dados avançados. Ou seja, obtiveram a ajuda de uma EdTech, a Gama Ensino, que através de IA (Inteligência Artificial) conseguiu avaliar a evolução do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), estabelecendo tendências de temas a serem abordados nas próximas provas.
Vulnerabilidade do Enem? Sim e não! Sim, porque qualquer processo seletivo pautado para medir competências e conhecimento humano estará vulnerável a partir do momento que a tecnologia vai dominando os contornos da aprendizagem. Não, porque o Exame foi elaborado para mensurar inteligência e competências humanas, e essas, sabe-se cada vez mais, que podem ser sobrepostas pela IA em muitas situações como a aqui relatada. Lembrando que a IA vem aprimorar a IH e não a substituir. Ainda assim, fica a pergunta: o uso de dados das provas do Enem para aprovar alunas em cursos de medicina foi ético ou não?
Deve-se lembrar que as provas do Exame Nacional do Ensino Médio estão disponíveis à população e, portanto, o uso desses dados foi manipulado para um fim que considero nobre: os alunos não terem que passar pela tortura de decorar conteúdos e mais conteúdos para serem aprovados no vestibular de medicina sendo que esse não é o parâmetro que poderá mensurar se serão ou não bons médicos. Ou seja, esse case demonstra que o processo seletivo em sua concepção está pequeno demais e não nos cabe mais.
A Inteligência Humana pode ser definida como uma habilidade mental geral para raciocinar, resolver problemas e aprender. Devido à sua natureza geral, a inteligência integra funções cognitivas como percepção, atenção, memória, linguagem ou planejamento. Com base nessa definição, a inteligência pode ser medida de forma confiável por testes padronizados, como o Enem, com pontuações obtidas prevendo vários resultados sociais amplos, como desempenho educacional. A Inteligência Artificial é o estudo e projeto de Agentes Inteligentes. Esses agentes inteligentes têm a capacidade de analisar os ambientes e produzir ações que maximizem o sucesso. Foi o que fez a EdTech Gama Ensino.
Esse case nos demonstra que estamos diante da especial possibilidade de buscar a compreensão de como avaliar habilidades e competências humanas reinventando exames que podem ser previsíveis o que pressupõe uma prática educacional totalmente disruptiva em relação aos modelos atuais, pois para mudar o modelo de avaliação é necessário mudar a proposta pedagógica. Creio que fazê-lo seja um processo extremamente lento no Brasil, mas acontecimentos semelhantes nos forçará a isso, como a pandemia nos forçou o avanço da educação a distância (EAD).
Paradoxalmente, ainda que não inesperadamente, o avanço tecnológico vem nos surpreendendo. Um outro case de como o sistema educacional se tornou refém da tecnologia é que ao fechar suas portas em 22 de setembro de 2022 a Edmodo, uma das comunidades de aprendizado gratuitas mais amplamente utilizadas, por mais de cem milhões de professores, alunos e pais em todo o mundo, deixa seus usuários totalmente vulneráveis. Todo os cursos, materiais, avaliações ali hospedadas tiveram que migrar para uma outra plataforma até a data de encerramento, ou seja, desde o aviso até o fechamento houve um prazo de menos de um mês. Os que não conseguiram migrar perderam o trabalho de anos, construídos com o propósito de apoiar a busca da comunidade educacional para enriquecimento de experiências de aprendizado dos alunos por meio de tecnologias emergentes e modelos inovadores de ensino em sala de aula e iniciativas que foram fundamentais durante a pandemia.
O encerramento da plataforma B2C gratuita (Edmodo.com) permitirá que a empresa concentre seus esforços na melhor otimização da plataforma B2G – Business to Government, para atender às necessidades dos diferentes países, criando valor para os usuários que será consistente com a visão de blended learning da empresa. Além disso, a Edmodo espera obter economias substanciais nos custos operacionais, o que acelerará o caminho para alcançar a lucratividade de seu negócio de educação. Nesse caso considero a atitude da empresa foi pouco ética, mas devemos nos lembrar que todos nós que hospedamos materiais em plataformas gratuitas estamos sujeitos a isso.
Encerramos o texto, com a Alura, comunidade de aprendizado em tecnologia, uma das maiores EdTechs do setor anunciando na segunda quinzena de setembro a aquisição majoritária da FIAP, um dos Centros Universitários de maior excelência na formação de profissionais de tecnologia configurando-se assim, uma parceria que criou um dos maiores ecossistemas de educação e tecnologia no Brasil. Esse movimento de parceria entre as EdTechs e Instituições de Ensino me parece que tende a crescer e a dar cada vez mais certo no Brasil.
E no avanço da tecnologia, vamos farejando o que vem por aí. Afinal proatividade é o que nos move!
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*Carmen Tavares é Gestora Educacional e de Inovação com 28 anos de experiência no mercado educacional privado brasileiro em instituições de diversos portes e regiões