Práticas inovativas e de empreendedorismo no Ensino Superior Brasileiro

Espaço destinado à atualização periódica de tecnologias nacionais e internacionais que podem impactar o segmento educacional e, portanto, subsidiar gestores das instituições de ensino para que sejam capazes de agir proativamente olhando para essas tendências.

01/11/2022 | 3284

Práticas inovativas e de empreendedorismo no Ensino Superior Brasileiro

Com o advento da sociedade do conhecimento e com as reconfigurações dos interesses econômicos e demandas da globalização, impulsionadas por novos padrões de inovação e pela rápida mudança tecnológica, existem várias reformas universitárias em curso no mundo com o objetivo de tornar o sistema educacional de ensino de cada país mais competitivo.

A inovação das universidades é um dos pilares de inserção no mercado global propiciando um posicionamento mais competitivo diante do cenário econômico. Para Vaidergorn (2001, p.84) a globalização traz em si novos apelos para a modernidade que está diretamente relacionado à competitividade e alberga “o domínio da tecnologia e a habilitação do maior número de trabalhadores em maiores quantidades de conhecimentos”. Como decorrência, educação superior passou a ser considerada como um dos pilares que possibilitam uma inserção mais vantajosa do país no mercado globalizado.

No documento recente (2022) Inovação e Empreendedorismo nas universidades da América Latina recente da OECD - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, registram-se algumas iniciativas de duas universidades públicas, a saber, USP e UFSCAR, tanto no apoio ao empreendedorismo quanto na transferência do conhecimento. O documento estuda conexões que as universidades geraram com stakeholders externos por meio dessas atividades no ecossistema de São Paulo, Brasil e exterior”.

O documento apresenta:

  • Práticas de educação para o empreendedorismo em ambas universidades com resultados muito significativos do Núcleo de Empreendedorismo da USP, Centro de Inovação INOVA USP com números significativos: Mais de 400 alunos receberam investimentos e foram criadas 90 startups que estão presentes em 30 países. Em junho de 2021 foi realizada uma conferência para start-ups de base científica e 77 tecnologias foram apresentadas aos investidores.  

Em recente entrevista para a Rádio USP, o Prof. Dr. Artur Tavares Vilas Boas, Coordenador do Núcleo de Empreendedorismo da USP e Prof. da POLI/USP, afirmou que hoje, quase todas as Faculdades da USP já ofertam disciplinas e iniciativas que promovem o empreendedorismo e a inovação no início da graduação. Em seminário do Núcleo de Empreendedorismo da USP, ocorrido no dia 22.10.2022 foi apresentado cases de sucesso recentes daquele que é considerado o melhor ecossistema empreendedor da América latina. A entrevista pode ser conferida no link abaixo:

https://revistapesquisa.fapesp.br/negocios-rejeitos-cidade/

 

  • CONEXÃO COM O ECOSSISTEMA GERADO PELA EDUCAÇÃO PARA O EMPREENDEDORISMO

A USP possui quatro incubadoras, todas no estado de São Paulo, sendo duas na capital, Hábitos e Cytec. A universidade é um polo de inovação, pois o número de empresas incubadas é bastante alto: 576, além de 1.934 “empresas DNA USP” (empresas criadas por estudantes) e sete unicórnios criados por ex-alunos.

A universidade também possui um parque científico e tecnológico que, diferentemente da incubadora, é mais genérico e voltado para o agronegócio. Seu objetivo é criar um ecossistema forte para que os alunos se conectem com empresas do setor de agronegócios e desenvolvam seus empreendimentos. A universidade não administra um programa de aceleração, mas agora está estabelecendo um relacionamento mais estreito com os investidores para que as startups tenham mais apoio para crescer. Há também o centro de inovação da Universidade de São Paulo (INOVA.USP) que reúne todas as atividades de pesquisa em toda a universidade e promove atividades colaborativas. Hackathons são organizados por associações de estudantes e são apoiados pela agência de inovação anualmente (100 alunos).

AUFSCAR   emitiu 300 patentes e 20 acordos de licença trabalhando em inovações como a modificação genética da cana-de-açúcar. A universidade recebeu cerca de R$ 6 milhões em royalties de desenvolvimento de propriedade intelectual (PI) no período 2017-2020. Sua Agência de Inovação é responsável por coordenar atividades e treinamentos para promover a cultura de inovação e empreendedorismo dentro da universidade. A universidade oferece um Doutorado em Inovação. Também é responsável pelas transferências de IP e, portanto, funciona como uma espécie de TTO. A agência acompanha todas as atividades que realiza, bem como os principais indicadores de desempenho em suas atividades de transferência de conhecimento (número de patentes, contratos de licença). A agência também realiza anualmente desafios de inovação e atividades de resolução de problemas com empresas. Possui três parques tecnológicos e um laboratório de inovação. Há um ecossistema em torno da universidade com vários FabLabs e vários espaços makers.

 

  • ESTRATÉGIA DE TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO

A agência INNOVA.USP está no centro da estratégia de transferência de conhecimento da universidade. Foi criado há quatro anos, em 2018, e tem como missão alcançar o setor privado e ser o destinatário das demandas do setor privado (de grandes empresas e pequenas e médias empresas [PMEs]). Além disso, o Departamento de Colaboração (departamentos de convênios), criado em 2021, acompanha todos os acordos firmados pela universidade com parceiros externos e abriga o escritório de transferência de tecnologia da universidade. (TO). Há também TTOs nos campi de Piracicaba, Ribeirão Preto e São Carlos.

 

  • CONEXÃO COM O ECOSSISTEMA IMPULSIONADO POR ATIVIDADES DE TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO

A USP possui quatro incubadoras em três cidades diferentes e em duas delas; a instituição mantém convênios com a prefeitura para promover o desenvolvimento de start-ups por meio da criação de parques científicos. Em Ribeirão Preto, o campus da USP já montou um parque tecnológico (em consórcio com a prefeitura) e na cidade (Piracicaba), o campus da USP pretende ter o parque tecnológico consolidado até o final de 2022.

Trabalha com qualquer empresa interessada em inovação, principalmente nas áreas de energia, biotecnologia e construção. Por exemplo, a USP assinou um acordo com a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP). O acordo é administrado pela Escola Politécnica da USP e tem como foco o aprimoramento das tecnologias construtivas. Como a ABCP é uma associação de indústrias, os empreendimentos estão dispersos por toda a comunidade industrial. A USP também trabalha com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) em um programa para melhorar as PMEs, mas a falta de cultura de inovação nessas empresas é um problema mais difícil de ser superado.

Colabora com o governo federal para apoiar a transferência de conhecimento, principalmente com a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII), que possui sete unidades dentro da USP, por meio das quais as universidades celebram convênios com as empresas sobre um assunto específico.

Outra forma de colaboração inclui o envolvimento da indústria na educação. Em algumas disciplinas de negócios ou engenharia, representantes de empresas ou indústrias frequentemente ministram palestras e os alunos trabalham em plantas industriais para desenvolver atividades. Em alguns dos cursos de empreendedorismo, os alunos são agrupados em equipas para desenvolver e apresentar um plano de negócios e recebem mentores da comunidade empresarial ou de capital de risco que participam na avaliação final (e orientam as equipas durante o desenvolvimento do projeto).

A universidade  também garante que os alunos se beneficiem de sua estratégia de colaboração. A universidade desenvolveu uma colaboração com a FEA Angels (uma rede de ex-alunos da Faculdade de Administração e Negócios, criada para fomentar o empreendedorismo através de mentoria e financiamento) e reuniu 130 mentores para ajudar as start-ups nas incubadoras da universidade. Como outro exemplo, a construtora Tegra Incorporadora está apoiando estudantes em desenvolvimento de start-ups no ramo da construção.

A USP também está elaborando uma “política de investimento” para permitir que a universidade invista em spin-offs, não apenas fomentar o empreendedorismo, mas também melhorar a troca de conhecimento. Para que as start-ups tenham sucesso, a ajuda de mentores e capital de risco é crucial.

Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), conta com quatro campi: Araras, Lagão do Sino, São Carlos e Sorocaba e mais de 20 mil alunos. Vinte disciplinas estão relacionadas ao tema inovação e empreendedorismo. O campus principal da universidade (cidade de São Carlos) se beneficia de um ecossistema vibrante: a Universidade de São Paulo também tem um campus lá e 20% da população está envolvida em atividades acadêmicas. A universidade criou a primeira incubadora da América Latina e é apoiada por empresários e órgãos federais e estaduais.

Para desenvolver um ecossistema de inovação e empreendedorismo as inúmeras atividades realizadas pela universidade são muitas vezes mais importantes do que as próprias disciplinas ofertadas é o que nos demostra o Professor Dr. Artur Tavares Vilas Boas , em seu paper publicado recentemente no Journal Education+Training. Segundo o professor: “sempre foi uma das minhas maiores referências para ensino de empreendedorismo. Considero-o um dos top 3 do mundo no assunto”.

Na figura abaixo é perceptível o quanto outras práticas colaboram para a formação do empreendedor nos alertando para o fato de as disciplinas em si são responsáveis apenas por 17% na carreira de um empreendedor que está dentro da universidade ainda como aluno.

Um das práticas que mais contribui para essa formação são os movimentos de base e para uma reflexão mais aprofundada convido aos leitores para a participação gratuita da palestra “Movimentos de base e mudanças universitárias em direção ao empreendedorismo e inovação” que acontecerá no dia 03 de novembro às 13:00 no seguinte link: https://blogs.brighton.ac.uk/centrim/2022/10/20/grassroots-movements-and-university-change-towards-entrepreneurship-and-innovation/

Que possamos aprender com experiências que estão dando certo nas universidades públicas e adaptá-las para a realidade das Instituições de Ensino Superior Privadas. A PROINNOVARE se coloca à disposição para auxiliar a sua IES nesse processo.

 

 

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*Carmen Tavares é Gestora Educacional e de Inovação com 28 anos de experiência no mercado educacional privado brasileiro em instituições de diversos portes e regiões

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Carmen Tavares

Gestora educacional e de inovação com 28 anos de experiência em instituições de diversos portes e regiões, com considerável bagagem na construção de políticas para cooperação intersetorial, planejamento e gestão no ensino privado tanto na modalidade presencial quanto EAD. Atuou também como executiva em Educação Corporativa e gestora em instituições do Terceiro Setor. É mestre em Gestão da Inovação pela FEI/SP, com área de pesquisa em Capacidades Organizacionais, Sustentabilidade e Marketing. Pós-graduada em Administração de Recursos Humanos e graduada em Pedagogia pela UEMG.

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