Por: Carmen Tavares*
Para nossa coluna de hoje, gostaria de abordar os principais desafios da sociedade 5.0 e seus impactos alancando as mudanças vêm ocorrendo no mundo, e, por consequência, impactam as instituições de ensino. Hoje, o que se nota é um movimento em prol da reconstrução do país e da humanidade trazendo para executivos essa narrativa de uma nova sociedade que vem surgindo, bem como seus impactos na vida de cada um, da coletividade e das instituições. Portanto, o momento é oportuno para refletirmos sobre o tema.
Trata-se de uma sociedade que usa a inteligência e a imaginação para sua própria transformação. A Sociedade 5.0 prevê um sistema socioeconômico sustentável e inclusivo, alimentado por tecnologias digitais como análise de big data, inteligência artificial (AI), Internet das Coisas e robótica. O “sistema ciberfísico”, no qual o ciberespaço e o espaço físico estão fortemente integrados, torna-se um modo tecnológico generalizado que suporta a Sociedade 5.0.
A transição para a Sociedade 5.0 é considerada semelhante à “Quarta Revolução Industrial”, na medida em que ambos os conceitos se referem à atual mudança fundamental do nosso mundo econômico em direção a um novo paradigma. No entanto, a Sociedade 5.0 é um conceito de maior alcance, mais relacionada com Inovação Social, pois prevê uma transformação completa do nosso modo de vida.
Nela, espera-se que qualquer produto ou serviço seja entregue de maneira ideal às pessoas e adaptado às suas necessidades. Ao mesmo tempo, a Sociedade 5.0 ajudará a superar desafios sociais crônicos, como envelhecimento da população, polarização social, despovoamento e restrições relacionadas à energia e ao meio ambiente. Parece uma tanta utopia, quando ainda se vê fome e falta de esgoto, então para isso é preciso mais que esperança, ou sonho, mas mudança de mentalidade e ação, preferencialmente de forma ampla e colaborativa.
Queremos uma sociedade na qual qualquer pessoa pode criar valor a qualquer momento, em qualquer lugar, com segurança e em harmonia com a natureza, nesse sentido será necessário nos libertarmos de alguns paradigmas, como:
- O foco na eficiência. Em vez disso, a ênfase será colocada na satisfação das necessidades individuais, na solução de problemas e na criação de valor.
- As influências supressoras sobre a individualidade. As pessoas serão capazes de viver, aprender e trabalhar, livres de discriminação por gênero, raça, nacionalidade e alienação por causa de seus valores e modos de pensar.
- A disparidade social. Causada pela concentração de riqueza e informação, e qualquer pessoa poderá obter oportunidades de desempenhar um papel a qualquer momento, em qualquer lugar.
- Ansiedade sobre o terrorismo, desastres e ataques cibernéticos, pois as pessoas viverão com mais segurança em redes reforçadas para lidar com as questões do desemprego e a pobreza.
- Recursos e restrições ambientais, assim podermos viver vidas sustentáveis em qualquer região.
O conceito grandioso e um tanto nebuloso da Sociedade 5.0 tornou-se gradualmente uma peça central da estratégia de crescimento em que a política de ciência, tecnologia e inovação (CTI) tornou-se uma agenda dominante.
O Japão, que criou o conceito de Sociedade 5.0, agiu fortemente nesse sentido, estimulados por uma força motriz política, que inclusive alterou significativamente o orçamento de ciência e tecnologia do país de cerca de US$ 33 bi em 2017 para US$ 35 bi em 2018 e US$ 38 bi em 2019. Tal aumento seria inconcebível apenas alguns anos atrás. Por outro lado, sabemos que aumentar o orçamento no Brasil não basta, se não houver responsabilidade de transparência do seu uso e aplicação correta, com acompanhamento via métricas e geração de resultado efetivo para as organizações e para a sociedade.
No Japão a Sociedade 5.0 obteve um suporte robusto da indústria. Ministros e líderes empresariais relevantes se reuniram várias vezes para discutir a direção que o Japão deveria tomar, gerando um estreito relacionamento entre o governo e a indústria, focados neste propósito. Os principais temas abordados foram:
- mobilidade de próxima geração / cidade inteligente;
- serviços públicos inteligentes;
- infraestrutura de última geração;
- Tecnologia financeira / sociedade sem necessidade dinheiro, e
- cuidados de saúde de próxima geração.
Outro pilar fundamental é a IA com foco na saúde, mobilidade e produtividade.
Percebe-se que há um relacionamento entre Sociedade 5.0 e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), pois ambos tratam de questões econômicas, sociais e ambientais. As políticas de estratégia de crescimento do Japão esperam uma grande contribuição desta nova sociedade com os ODS.
Alguns muros ou barreiras que estão sendo considerados são: ministérios e agências; sistema legal; educação tecnológica para adquirir e usar o conhecimento necessário; engajamento e integração social.
No Brasil isto está começando acontecer no Japão e envolveu todas as partes interessadas incluindo não só a indústria, mas também os cidadãos, governos, academia etc. Ainda é cedo para ver os resultados, porém eles estão além de simples iniciativas. O Brasil é um país grande, com muitos recursos e um potencial enorme para fazer isso acontecer por aqui, mas é necessário começar.
No momento estamos trabalhando uma Agenda brasileira para a Indústria 4.0, mesmo com os grandes desafios em nossa economia, pois a indústria enfrentou muitas adversidades nas últimas décadas. Esta agenda é suportada por um Grupo de Trabalho para a Indústria 4.0, composto por mais de 50 instituições representativas (governo, empresas, sociedade civil organizada, etc.), por onde ocorreram diversas contribuições e debates sobre diferentes perspectivas e ações para a Indústria 4.0 no Brasil. Basta agora alinharmos com os conceitos da Sociedade 5.0 para irmos além desta proposta inicial.
Particularmente eu gostaria de ver o Brasil correr nesta direção. Sabemos que os anseios e sonhos humanos só serão atingidos se trabalharmos colaborativamente para realizá-los. A educação é chave nesse processo, dela virão as inciativas, os programas e os projetos necessários. A ciência assim com a tecnologia são as ferramentas de apoio viabilizadoras ao planejamento e a execução. Sigamos juntos.
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*Maria Carmen Tavares Christóvão é Mestre em Gestão da Inovação com área de pesquisa em Inovação Educacional. Diretora da Pro Innovare Consultoria de Inovação atuou como Reitora, Pró Reitora e Diretora de Instituições de Ensino de diversos portes e regiões no Brasil. www.proinnovare.com.br