Por Carmen Tavares*
Alvo generalizado de debates é o sucesso econômico obtido por Israel citado como claro exemplo de um sistema educacional que fomenta o empreendedorismo e a inovação. Da mesma forma que, ao longo da história alguns povos têm demonstrado que é possível superar adversidades naturais, culturais, sociais, demográficas e edificar um novo modelo de sociedade. Israel ilustra com perfeição esta possibilidade.
Vejam a ficha técnica:
• Um país com menos de setenta anos;
• Um dos menores países do mundo em dimensão territorial;
• Durante toda sua história passou por mais conflitos de guerra que o Japão ou o Reino Unido;
• Apenas 7,587 milhões de habitantes;
• Escassos recursos hídricos;
• Fustigado intensamente com conflitos pelos países fronteiriços.
Ainda assim, chegou aonde chegou. Possui hoje um número bastante expressivo de empresas científicas de tecnologia avançada no mercado de ações de tecnologia (NASDAQ). Destaca-se mundialmente em áreas importantes como segurança, biotecnologia, equipamentos médicos, tecnologia da informação e tecnologias sustentáveis.
Dan Senor e Saul Singer autores do livro Nação Empreendedora definem o país de Israel como a terra das empresas iniciantes (“startups”) e dizem que mais empreendimento se abrem no local do que em nações estáveis e sem conflitos como Japão e Reino Unido. Também relacionam a disposição para o empreendimento e para inovação demonstrada pela indústria do país com características culturais, educacionais e filosóficas do povo de Israel. Os autores apontam que esse comportamento empreendedor pode ser adotado por empresários de todo o mundo. Isso alberga também o segmento educacional diante de um mundo cada vez mais competitivo em que o conhecimento assume papel extremamente relevante e onde há um ambiente propício para a geração e transferência de novos conhecimentos.
Ao observarmos os rankings internacionais o Brasil aparece na lanterna das posições em que se mensura o grau e a qualidade de instrução. Esse é um dos aspectos, entre muitos outros, em que se conclui que a educação não é prioridade para o país, portanto, é periférica.
Quando a educação se torna periférica deve-se buscar alternativas para imprimir características inovadoras nos espaços formais e informais de educação. Percebe-se a necessidade de ações inovativas partindo de gestores, educadores e professores conscientes que atuam nos espaços acadêmicos e também nos espaços informais de educação, tais como educação corporativa.
Trata-se da busca pela desconstrução de modelos arcaicos que resultam numa formação pouco competitiva e efetiva para a realidade do século XXI. Na sociedade do conhecimento o currículo ou saberes dentro dos espaços formais de educação devem estar em sintonia com as demandas globais e com a nova natureza do conhecimento que não é mais cumulativa, mas alicerçada nos desafios globais presentes e futuros.
Entendendo que para cumprir o disposto pelos órgãos de regulação, as matrizes curriculares, bem como os saberes nelas organizados devem ser compostos de forma coerente, mas há a necessidade de buscar e incorporar novas técnicas, tecnologias, metodologias e procedimentos, tanto na área de entrega da educação, quanto na área de relacionamento com os seus pares, alunos, professores e a sociedade em geral, que possam transformar instituições de ensino em espaços para inovação que realmente colabore para o desenvolvimento de CT&I (Ciência, Tecnologia e Inovação).
Se há um lugar que deva albergar uma metodologia criativa e instigante, composta por uma boa dose de estímulo ao empreendedorismo e inovação esse espaço é ambiente universitário, pois é preciso considerar que na economia formal o emprego com carteira assinada está cada dia mais escasso. Como em Israel é necessário desenvolver uma cultura de empreendedorismo e inovação não apenas nos ambientes de negócios e nas universidades, mas no entorno social das instituições educacionais.
Nas escolas em Israel a experiência de atuar coletivamente e no enfrentamento de desafios e problemas é uma prática muito comum. Ao término do ciclo que para nós representaria o Ensino Básico, antes de ingressarem na Faculdade, tanto os meninos quanto as meninas passam pelo serviço militar onde o exercício de tomada de decisões, liderança, criatividade e resolução de conflitos são constantes. Há a necessidade de aprenderem a lidar com inúmeras variáveis buscando a melhor solução para as operações realizadas. Por exemplo, um jovem de 20 anos precisa estar pronto para numa situação de risco pensar em poucos segundos como evacuar uma área, proteger pessoas, impedir catástrofes e mobilizar o inimigo. Portanto, são habilidades e competências adquiridas ao longo da vida que os tornam criativos e empreendedores, uma mola mestra para inovação científica e tecnológica e para o desenvolvimento econômico do país.
Outro fator que deve ser considerado na cultura de Israel é que um jovem militar que tenha alcançado êxito em uma missão é tão valorizado pela sociedade quanto um doutor em qualquer área do conhecimento. Este reconhecimento social faz com que o jovem desempenhe suas atividades militares com o máximo de competência técnica, cognitiva, emocional e comportamental. O Rabino Adrián Gottfried, Sênior da Comunidade Shalow de São Paulo observa que “a criatividade, a capacidade de inovação e o grau de prosperidade alcançados por esta nação em meio a tantos problemas é simplesmente admirável”!
A inovação educacional passa por um currículo que atenda as reais demandas de mercado e que construa novas competências profissionais para o aluno que irá atuar num mercado cada vez mais global. Uma formação de sujeitos criativos, críticos, autônomos e empreendedores. Nesse sentido, as práticas de formação são periféricas, ou seja, não atingem o âmago das questões realmente indispensáveis para uma sólida formação tornando assim, pífios os resultados no sentido de levar o Brasil para um status de nação empreendedora através da educação. Somando-se ao fator educacional existem ainda as políticas econômicas desanimadoras com escassez de financiamento e alta carga tributária.
Os sistemas educacionais do século XXI devem adquirir novas competências apoiadas em ações inovativas para formação de profissionais capazes de responder aos desafios e demandas globais do mercado e da sociedade. Uma nação competitiva possui um modelo de educação que interage com mercado e com a gestão pública criando condições para que as empresas e organizações nele instaladas cresçam e se desenvolvam. Só assim ela deixará de ser periférica.
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*Maria Carmen Tavares Christóvão é Mestre em Gestão da Inovação com área de pesquisa em Inovação Educacional. Diretora da Pro Innovare Consultoria de Inovação atuou como Reitora, Pró Reitora e Diretora de Instituições de Ensino de diversos portes e regiões no Brasil. www.proinnovare.com.br