A intenção de retomar as relações diplomáticas – que passaram por maus bocados recentemente – foi a tônica do primeiro dia da visita do ministro das Relações Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes Ferreira, a Israel.
Em todos os encontros do dia, incluindo com o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, o chanceler fez questão de salientar que o mal-estar são águas passadas e que o Brasil que aprofundar o relacionamento com Israel em termos econômicos e diplomáticos.
Esse foi o tom do artigo publicado nesta terça-feira (27), de autoria do ministro, publicado no maior jornal do país, o "Yedioth Aharonoth": “Juntos, poderemos fazer muito mais e eu espero que, após a minha visita, poderemos dar um passo adiante para aumentar a cooperação mútua”.
No encontro com Netanyahu, que também atua como ministro das Relações Exteriores de Israel, o chanceler brasileiro afirmou que a orientação do governo Michel Temer é a de definir caso a caso como será o voto do país em moções anti-Israel em organismos internacionais como a ONU e a Unesco.
Há anos Israel pede ao Brasil para que deixe de se alinhar automaticamente ao bloco de países árabes que sistematicamente promovem votações contra Israel.
No encontro com Netanyahu, em Jerusalém, Aloysio Nunes Ferreira convidou o premiê israelense para visitar o Brasil.
Os dois também discutiram o aprofundamento da cooperação entre Israel e o Brasil em campos como segurança, educação, cultura e academia.
"Israel está muito interessado nos contatos com o Brasil e acredita em seu potencial", disse Netanyahu.
A visita, a primeira de um chanceler brasileiro à região desde 2012, está sendo encarada como a retomada de um relacionamento mais estreito entre os dois países.
"O ministro está dando continuidade a uma retomada das relações", disse à Folha o embaixador do Brasil em Israel, Paulo César Meira de Vasconcellos, referindo-se ao mal-estar entre os dois países em 2015 e 2016, quando o governo Dilma Rousseff não aceitou a nomeação de um embaixador israelense para o cargo em Brasília.
"Houve aquele período muito ruim e, de um ano para cá, isso vem melhorando. Então, ele veio para sedimentar essa retomada."
Antes do encontro com Netanyahu, o chanceler brasileiro se reuniu com o presidente israelense, Reuven Rivlin, que notou a importância de trabalhar para fortalecer os laços com o Brasil e observou: “Nós concordamos sempre politicamente, mas devemos ser claros que os boicotes não promovem o entendimento”.
O chanceler brasileiro afirmou a Rivlin que o Brasil entende e compartilha os desafios de segurança de Israel ligados a questões geopolíticas e ao aumento do fundamentalismo.
“Percebemos esse crescimento, que também é um desafio para nós”, disse Nunes Ferreira.
A agenda do ministro começou no Yad Vashem, o Museu do Holocausto de Israel, onde depositou uma oferenda floral em honra dos dois brasileiros citados no memorial dos “Justos entre as Nações”, pessoas que ajudaram a salvar judeus durante o regime nazista: Luiz Martins de Souza Dantas e Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, que, trabalhando na diplomacia brasileira na Europa, ignoraram as leis de Getúlio Vargas e emitiram passaportes para judeus durante o Holocausto.
“Nós, no Ministério das Relações Exteriores, sempre cultuamos a memória de quem conseguiu encontrar brechas, mesmo com uma legislação extremamente restritiva como aquela que havia e discriminatória em relação a judeus”, disse o chanceler à Folha.
A viagem ao Oriente Médio, que será encerrada no dia 6 de março, também inclui passagens pelos territórios palestinos, a Jordânia e o Líbano.