A Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) promoveu, na tarde desta quarta-feira (28), uma audiência pública para debater os projetos de cooperação científica entre Brasil e Israel, com foco na tecnologia da preservação e do uso sustentável da água.
O presidente da comissão, senador Otto Alencar (PSD-BA), coordenou a audiência e destacou que, apesar de o Brasil ter um grande reservatório de água doce, a perda dos recursos fluviais tem sido muito grande nos últimos anos, diante do aumento do consumo humano, industrial e agrário. Ele lembrou que uma de suas principais bandeiras legislativas é a defesa da revitalização do Rio São Francisco. Segundo o senador, talvez o Brasil seja o país mais irresponsável do mundo em termos de recuperação de suas reservas fluviais.
— Estamos vendo uma redução anual crescente na vazão dos principais rios do país. O governo não tem política de preservação dos rios que abastecem nossas populações — declarou.
Otto Alencar disse ter uma admiração especial pelo povo israelense e elogiou a tecnologia de Israel em termos de preservação e recuperação do potencial da água, citando os projetos de dessalinização e de reuso da água. O senador aproveitou para pedir mais atenção do governo brasileiro com a ciência, a pesquisa e a inovação, e apontou que a atuação de Israel deve servir de exemplo para o Brasil no uso sustentável da água e na preservação dos recursos hídricos.
Pioneirismo
O ministro da Ciência e Tecnologia de Israel, Ofir Akunis, que está em visita oficial ao Brasil, classificou o encontro na CCT como “histórico”. Ele, que tem reunião prevista para o final desta tarde com o ministro da Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab, disse que esta é a primeira vez que um ministro da Ciência de Israel vem representar seu país em um evento em solo brasileiro. O ministro ressaltou que, nos últimos anos, tem visto uma melhora nas relações entre Brasil e Israel.
— Em minha atuação no ministério, procuro fortalecer as relações entre os países por meio da tecnologia. Esta audiência pode começar um novo caminho para os dois países — afirmou.
Segundo o ministro israelense, o convênio entre os ministérios de ciência e tecnologia de Israel e Brasil para compartilhar a tecnologia do uso da água será duradouro e importante para ambas nações. Akunis disse que Israel já aprendeu muito com o Brasil, por exemplo, na tecnologia do uso do gás. Ele também ofereceu ao Brasil o uso das imagens do satélite Vênus, o que poderia ajudar na atuação do governo brasileiro para enfrentar problemas como a seca e a recuperação de rios.
Akunis ainda afirmou que Israel tem o mérito do pioneirismo em encarar o desafio do uso da água. O país se tornou, ao longo dos anos, uma referência no uso racional da água, mesmo sem grandes rios e com cerca de metade de seu território em terras desérticas. Soluções concretas foram encontradas por meio do reaproveitamento da água em indústrias, e até em estações de esgoto, e campanhas educativas direcionadas a toda a população, desde a infância. Parcerias entre o governo, empreendedores e universidades também têm sido importantes para o desenvolvimento de tecnologias implementadas na agricultura. Além disso, o processo de dessalinização israelense evoluiu bastante na última década.
Exemplo
O secretário-executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia, Elton Santa Fé Zacarias, lembrou que Brasil e Israel firmam acordos diplomáticos desde o ano de 1949. Na visão de Zacarias, Israel é o exemplo de um país que passou por mudanças significativas baseadas em educação e inovação tecnológica. Ele reconheceu que ainda há muito desafios para o Brasil ultrapassar na sociedade da informação e destacou algumas parcerias entre os dois países na área de tecnologia.
— A parceria com países como Israel é um caminho para o avanço no desenvolvimento científico e tecnológico no Brasil. Estou certo de que essa parceria vai trazer muitos benefícios para nossa população — afirmou.
Também participaram da reunião os senadores Wilder Morais (PP-GO) e Lasier Martins (PSD-RS), o embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shely, e funcionários da embaixada israelense. Lasier elogiou o processo de dessalinização de Israel e disse que essa tecnologia pode ser uma solução para o nordeste brasileiro. Wilder relatou que, há alguns anos, fez uma visita oficial a Israel em um centro de produção de peixes e teve uma boa impressão da tecnologia para o uso sustentável da água.
— Com certeza esse acordo será muito proveitoso, tanto para o Brasil como para Israel, com o uso da inteligência dos dois países — afirmou.