Detalhe

No Brasil não falta inteligência, imaginação, criatividade. Talvez falte só a atitude

18/06/2018 | Por: Projeto Draft | 5726

Por: Hayim Makabee

Emigrei para Israel em 1992, aos 21 anos de idade, imediatamente depois de me formar em Informática pela UFRJ. Fiz mestrado em Ciências da Computação no Technion, em Haifa, e há mais de 20 anos trabalho na indústria de software israelense. Durante esse período, voltei muitas vezes de férias para o Brasil, e cheguei a trabalhar remotamente nos escritórios da Yahoo em São Paulo.

Penso muito sobre as diferenças entre Israel e o Brasil, e neste artigo gostaria de trazer uma visão comparativa entre a “startup nation” e o “país do futuro”. Começo trazendo alguns fatos representativos, que considero bem interessantes.

Cargos e aptidões de universitários aqui e aí

Dados disponíveis no LinkedIn permitem comparar a UFRJ com a Universidade de Tel-Aviv, mostrando os cargos e locais de trabalho dos profissionais formados nessas instituições. Vejamos. O maior empregador de profissionais da UFRJ é a Petrobras, uma estatal. Se destacam também três instituições de ensino: própria UFRJ, a UERJ e a FGV. Completando a lista estão Vale, uma ex-estatal, e a Rede Globo. Entre os cargos que ocupam, há uma concentração nas áreas de ensino, pesquisa e consultoria.

Por sua vez, os maiores empregadores de profissionais formados pela Universidade de Tel-Aviv são grandes empresas de high-tech: Intel, Amdocs, HP, Google e Microsoft. A exceção da lista é o exército israelense. Entre os cargos que ocupam, há uma concentração nas áreas de engenharia e tecnologias da informação. Mas o mais importante: Entrepreneurship – empreendedorismo!

Também é possível comparar as profissões e aptidões dos profissionais formados pela UFRJ e pela Universidade de Tel-Aviv. A maioria dos formados na UFRJ estudou na área de Humanas, incluindo Direito e Psicologia. Suas principais aptidões (informa o LinkedIn) são: Microsoft Office e inglês.

Entre os profissionais formados pela Universidade de Tel-Aviv, por sua vez, há um maior balanço entre disciplinas Humanas e tecnológicas, com destaque para Ciências da Computação e Engenharia Eletrônica. Entre as aptidões mais frequentes: administração, gerência de produtos e gerência de projetos. E uma importante qualificação: Startups!

Esse dados, além de interessantes, são representativos, mas não vou analisá-los profundamente. Fica como material para a reflexão de quem se sentir assim impelido.

Quero agora contar um pouco da minha experiência pessoal. Quando me formei pela UFRJ em 1992, meus colegas estavam em busca de emprego. A maioria sonhava em trabalhar para grande empresas estatais, como a Companhia Vale do Rio Doce. Isso me intrigava. Perguntei a eles: “Mas por que vocês querem trabalhar em uma estatal?”. A resposta que recebi: “Estabilidade no emprego!”.

Deixei meus amigos no Brasil e vim para Israel. Terminei meu mestrado no Technion em 1995, e desde então já trabalhei para nove empresas diferentes, a maioria startups. Em média trabalhei dois anos em cada empresa. Nesse período, também tentei duas vezes criar minha própria startup. Atualmente, sou o CEO da KashKlik, startup na área de Marketing de Influência. Minha vida profissional em Israel não foi nem um pouco monótona…

Hoje em dia, a maioria dos estudantes israelenses na área de Ciências da Computação sonham em ter sua própria startup. Mas o mais importante é que realmente boa parte deles, em algum momento, tentará montar sua própria empresa. E parte destes vai conseguir. Alguns vão ficar ricos, outros vão criar novas tecnologias. E o país inteiro vai se beneficiar com isso.

Onde começam as diferenças?

Já como estudantes nas universidades, as diferenças entre brasileiros e israelenses são muito significativas. Começam pela idade. Os brasileiros entram nas universidades imediatamente depois do segundo grau, e estudam dos 18 aos 21 anos. Os israelenses fazem três anos de serviço militar obrigatório e depois disso viajam ou trabalham por algum tempo. Assim, em geral estudam dos 22 aos 25 anos, quando já estão mais maduros e disciplinados com a experiência do exército.

As diferenças passam pelos custos. Muitos brasileiros esperam que seus pais ajudem ou paguem totalmente os custos de estudos universitários. Os israelenses, em geral, trabalham durante os estudos para poder pagar as mensalidades, evitando pedir ajuda aos pais.

Há ainda a questão da moradia. Enquanto os brasileiros continuam morando com os pais durante o período em que estão nas universidades, os israelenses não costumam voltar para a casa dos pais depois de terminar o exército, e alugam apartamentos com amigos estudantes.

A experiência militar também é importante, e pode incluir liderança de equipes para os que foram oficiais no exército.

Um dos objetivos do Projeto Draft é estimular o empreendedorismo no Brasil. Na minha opinião, para que isso aconteça, será preciso uma mudança cultural.

Não tenho dúvida que o profissional brasileiro tem a plena capacidade de realizar grandes empreendimentos. No Brasil não falta inteligência, imaginação nem criatividade. Talvez o que falte seja apenas a atitude.

Assim como a maioria dos brasileiros residentes no exterior, estou aqui de longe torcendo por um país melhor. Tenho certeza que o empreendedorismo será um ingrediente essencial pare se enfrentar os desafios sociais e econômicos do Brasil. Boa sorte!

Hayim Makabee, 46, é brasileiro e mudou-se para Israel há mais de 20 anos. Engenheiro, trabalhou em diversas empresas de tecnologia. Atualmente é CEO da KashKlik.


Conteúdo Relacionado

Notícias

Israel adota lei que o define como "Estado-nação do povo judeu"

Adotado por 62 votos contra 55, o texto estipula, entre outras coisas, que o hebraico se torna a única língua oficial de Israel

Por que Israel é um polo tecnológico preocupado com cibersegurança

Israel tem muito o que compartilhar com outras nações a respeito de cibersegurança

Universidade russa busca IES brasileiras para criação de programas de dupla graduação

A High School of Economics (HSE), localizada em São Petersburgo, já possui diversas disciplinas em parceria com algumas das principais escolas de negócios da Inglaterra, Itália, França e outros países

Internacionalização em casa - Estácio abre suas portas para ONU em evento para alunos

Ronaldo Mota, membro do Colegiado da Presidência da ABMES e chanceler do Grupo Estácio, participou da abertura do evento, em uma plenária com autoridades da ONU

Na França, União das Grandes Escolas Independente recebe a ABMES

Na França, União das Grandes Escolas Independente recebe a ABMES O encontro foi realizado em 20 de junho. A UGEI reúne 34 grandes instituições francesas de educação superior das áreas de engenharia e negócios

ABMES visita Universidade Católica de Lille, na França

Representando a Associação, a consultora de parceria internacional visitou em 21 de junho uma das mais reconhecidas universidades particulares da França, a Universidade Católica de Lille

ABMES realiza visita técnica em Israel

Representando o programa ABMES Internacional, o vice-presidente da Associação e a consulta de parceria internacional estão no país para conhecer e preparar os locais que serão visitados pela 2ª Delegação ABMES Internacional

IES recebem convite para cooperações internacionais

Como resultado das articulações da ABMES Internacional, instituições estrangeiras têm demonstrado interesse em IES brasileiras

Education: When Everything That Has Been Done Is Still Not Enough

Artigo escrito pelo chanceler do Grupo Estácio, Ronaldo Mota, falando sobre a educação no Brasil e como o país apresenta instabilidade ao gerenciar formas diferentes para o desenvolvimento sustentável

Confira novas atualizações sobre chamadas públicas internacionais

Os detalhes, datas, informações e demais procedimentos sobre os programas na área de educação internacional são atualizados rotineiramente no documento "Chamadas Públicas" elaborado pela ABMES

Em 70 anos, Israel se ergueu sobre tradições culturais e guerras com vizinhos

Contrastes marcam cosmopolita Tel Aviv e histórica Jerusalém

Student Loans in Brazil: Investment or Expenditure?

Artigo assinado pelo vice-presidente da ABMES, Celso Niskier, juntamente com o diretor executivo, Sólon Caldas, e com a consulta internacional da Associação, Lioudmila Batourina, publicado em 13 de maio no site internacional "Inside Higher ED"

Feira das universidades israelenses acontece em São Paulo e no Rio de Janeiro

Cada instituição de ensino participante contará com um estande próprio, para esclarecer dúvidas e conversar com os visitantes

Câmara recebe exposição inédita no Brasil sobre o Holocausto

Mostra, exibida na ONU em 2015, busca estimular a reflexão sobre o extermínio de judeus durante a Segunda Guerra Mundial

Ministro da Educação participa de lançamento do projeto 100 Anos de Educação Judaica no Brasil

Na ocasião, ele comentou sobre uma das visitas que fez a Israel, quando pôde conhecer experiências de ensino bem-sucedidas

Como é estudar em Israel? Vale a pena?

Em artigo, a brasileira Yasmin Franceschi, que estuda na universidade de Tel Aviv, em Israel, descreve a experiência de cursar uma faculdade em um país do Oriente Médio

2ª Delegação ABMES Internacional acontecerá em outubro de 2018

Associação levará os participantes para conhecerem as universidades de referência de Israel, um dos países mais inovadores do mundo