À educação é conferido o papel de transformar e aprimorar o ser como cidadão e agente de mudanças, requisito fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária e de um planeta mais sustentável. Não à toa, estudiosos e especialistas do setor enfatizam o importante papel social das instituições de ensino.
A própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional oferece especial atenção ao elemento social, estabelecendo que a educação está vinculada ao mundo do trabalho e à prática social. A Lei n. 10.861/2004, que institui o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), também elenca a responsabilidade social como uma das dez dimensões de avaliação da IES. Sua importância ainda é evidenciada nos eixos do Instrumento de Avaliação para credenciamento de instituições privadas de Educação Superior.
Mas para além das avaliações e até mesmo das ações de cunho comunitário, o pós- -doutor em Ciências da Educação, Adolfo Ignacio Calderón, em artigo intitulado Responsabilidade social universitária: princípios e valores para o desenvolvimento humano, alerta que a Responsabilidade Social Universitária (RSU) está diretamente relacionada ao “compromisso permanente que as IES deveriam ter para cumprir sua missão, isto é, a garantia de boa qualidade de ensino para os cidadãos que adquirem os serviços educacionais por elas oferecidos, seja no âmbito da graduação ou da pós-graduação”. Sob esse aspecto, o pós- -doutor ainda destaca dois enfoques aos quais as instituições deveriam estar atentas: as especificidades dos produtos educacionais na transmissão de princípios e valores e o desenvolvimento de habilidades e competências técnicas necessárias para a inserção dos futuros profissionais no mercado.
De acordo com o especialista, a IES precisa ter como cultura os bons valores e princípios, do contrário, cairá em contradição ao ensinar aquilo que não pratica. Calderón propõe a reflexão: “(...) de que adianta ensinar o respeito aos direitos das pessoas com necessidades especiais, se as universidades não desenvolvem ações específicas de inclusão social, que começam pela adaptação da infraestrutura para as cadeiras de rodas? Ou ainda, ensinar a importância da luta contra o racismo, se há resistências veladas para a contratação de docentes negros?”.
Assim, o autor analisa que as ações comunitárias como prática das IES só têm sentido se forem direcionadas para o cumprimento daquilo que deve ser a missão de uma instituição de Ensino Superior: a formação de recursos humanos e cabeças pensantes de que o País precisa para o seu desenvolvimento. Para ele, seguindo essa direção, as ações comunitárias tornam-se práticas acadêmicas por excelência, que possibilitam não somente o aperfeiçoamento das competências técnicas, mas também o desenvolvimento de valores e princípios direcionados ao desenvolvimento humano. “Trata-se de práticas acadêmicas que quebram os muros da sala de aula e dos laboratórios de pesquisa para se tornar ação sistemática geradora de conhecimentos”, analisa Calderón sobre a promoção e incentivo de ações comunitárias pelas IES.
Desenvolvendo conhecimentos
Os projetos de responsabilidade social praticados pela IES precisam ser essencialmente planejados a partir das ações da instituição, com ou sem parceria, e contribuir para uma sociedade mais justa e sustentável. É o que orienta o diretor-presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), Janguiê Diniz. “É preciso considerar trabalhos, ações, atividades, projetos e programas voltados à comunidade, objetivando a inclusão social, o desenvolvimento econômico e a melhoria da qualidade de vida e da infraestrutura local”, diz.
De acordo com o diretor-presidente da Associação, as ações de responsabilidade social devem estar incluídas na missão de cada IES, que deve assumir institucionalmente, por meio de professores, alunos e funcionários, a responsabilidade de criar projetos e ações que contribuam para um desenvolvimento sustentável, com vistas a uma sociedade melhor e mais participativa. Algo que, na avaliação de Diniz, além de contribuir para a construção de um desenvolvimento mais sustentável, oportuniza que a IES estreite seu relacionamento com a comunidade na qual está inserida.
Ele ainda destaca que o desenvolvimento de ações de responsabilidade social pelas IES favorece a tríade pesquisa, ensino e extensão. “Por meio de ações de responsabilidade social, é possível realizar processos como transferência de tecnologia social e aplicação dos conhecimentos adquiridos ao longo da graduação, ao mesmo tempo em que elas contribuem para a formação de cidadãos mais preparados para lidar com cenários distintos e conscientes do seu papel na construção de uma nação mais justa, sustentável e tolerante”, conclui.
A baixa escolaridade e a dificuldade de acesso à educação, entre outros graves fatores, contribuem para a estagnação socioeconômica. Por isso, melhorar esse índice deve ser uma preocupação das IES. De acordo com o diretor-presidente da ABMES, é preciso que as instituições de Educação Superior, “além de proporcionar uma boa formação do profissional para o mercado do trabalho, desenvolvam cidadãos conscientes e engajados em questões socioambientais”.
Para reconhecer o trabalho daquelas instituições que têm a responsabilidade social embutida na sua missão e, ao mesmo tempo, sensibilizar aquelas que ainda não despertaram para a relevância dessa atuação, a ABMES realiza, desde 2005, a Campanha da Responsabilidade Social do Ensino Superior Particular. A iniciativa envolve as instituições em ações de consultoria jurídica, orientação profissional e educacional, assistência à saúde, promoção da inclusão digital e atividades culturais, recreativas e esportivas para todas as idades.
Na última edição, em 2017, foram promovidas mais de 9 mil atividades em todo o País, com cerca de 1,7 milhão de atendimentos. Nos 13 anos de Campanha, foram realizados mais de 14,8 milhões de atendimentos à população, por meio de 81.748 atividades. “Os resultados são animadores e mostram o quanto a iniciativa é acertada. A Campanha consiste em uma oportunidade ímpar. Para este ano, a expectativa é superar os números do ano passado e estabelecer novas marcas, tanto com relação ao número de instituições envolvidas quanto ao de ações e pessoas beneficiadas”, avalia Diniz.
Para aderir à Campanha, basta cadastrar no site da iniciativa as atividades que a IES irá realizar entre os dias 17 e 22 de setembro, durante a 14ª Semana da Responsabilidade Social do Ensino Superior Particular. Também podem ser cadastradas atividades e projetos realizados ao longo do ano. Saiba mais sobre a Campanha no site responsabilidadesocial.abmes.org.br.