Dos estudantes brasileiros que ainda não foram vacinados contra a covid-19, 55% planejam tentar ingressar num curso de ensino superior apenas em 2022, e 29% não sabem quando poderão dar esse passo. Desse grupo, só 16% manifestaram vontade de começar a graduação ainda no segundo semestre deste ano. Entre os imunizados, a proporção de interessados em começar a graduação neste ano é maior: 39%. O levantamento é da empresa de pesquisas educacionais Educa Insights em parceria com a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES).
Os dados mostram a importância da vacinação, sob os aspectos sanitário e econômico, para que os alunos decidam entrar em cursos de graduação. Pelo Brasil, grande parte das faculdades mantém o modelo de aulas remotas, diante do número ainda elevado de infecções e mortes pelo novo coronavírus. O descontrole da pandemia também resultou em perda de emprego e renda, o que, segundo especialistas, levou parte dos estudantes a trancar seus cursos ou adiar o ingresso na faculdade.
Para a pesquisa, foram entrevistados 1.212 homens e mulheres, de 17 a 50 anos, de todas as regiões do País. Entre os estudantes ouvidos que já receberam ao menos uma dose da vacina, outros 52% projetam iniciar o curso no ano que vem.
De acordo com o levantamento, a indefinição de planos também é maior entre os não vacinados: 29% não decidiram quando querem começar a faculdade. Já entre aqueles que tomaram ao menos uma dose, essa taxa despenca para 9%.
“Começamos a ter uma sinalização positiva de retomada do setor, ainda que pequena. Outro ponto é a diminuição da incerteza, pois a evolução da vacinação ensinou o mercado a se preparar. Hoje, se tem uma projeção das condições muito mais clara do que há doze meses”, analisa Rafael Infante, sócio-fundador da Educa Insights.
“As pessoas e as universidades querem a segurança trazida pela vacinação para poderem se planejar. Os estudantes despertaram novamente para o ensino superior”, diz Sólon Caldas, diretor-executivo da ABMES. Ele se preocupa, porém, com possíveis atrasos na formação de mão-de-obra qualificada para as empresas, com aumento na evasão do ensino superior na pandemia e pela retomada estar apenas no início. Durante a crise sanitária, 608 mil estudantes abandonaram o ensino superior privado, apontam dados divulgadosde 2020 pela Semesp, outra entidade que congrega mantenedoras de ensino superior.
Infante, por outro lado, se preocupa com possíveis lacunas no aprendizado de quem teve que fazer o ensino médio com aulas híbridas ou somente remotas. “Isso pode ter alguns impactos, com alunos entrando com uma base mais precária. As universidades particulares, principalmente, precisariam corrigir esses problemas para formar uma mão-de-obra adequada para o mercado”, comenta o pesquisador.
Candidatos sonham com imunização e vestibular
“Fiz o 3° ano (do ensino médio) na modalidade EAD e ficou muito óbvio a falta de preparo da escola em lidar com isso, tanto que estou pagando cursinho para poder suprir essa falta no último ano”, comenta Bernardo Sales, de 18 anos, morador de Belo Horizonte, egresso de escola pública.
Ainda assim, ele planeja fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ou outros vestibulares no início de 2022 de qualquer forma. “Vou fazer caso esteja vacinado ou não, é um risco que eu acho que vale a pena ser tomado. Meus pais estarem vacinados já me dá a segurança que eu julgo necessária”, afirma Sales.
Gabriel Maia, de 17 anos, no 3º ano na rede pública de Porto Alegre, diz que não se vê "deixando de prestar o vestibular" caso não esteja imunizado. O Enem está previsto para ser realizado em novembro deste ano, quando o jovem gaúcho pretende prestá-lo.
“Gostaria sim de fazer já vacinada, mas caso não estivesse, acredito que não me impediria de prestar o vestibular”, diz a gaúcha Eduarda Cazuny, 18 anos, também no último ano do ensino médio e que deve prestar o Enem. Caso seja aprovada em alguma faculdade, ela pretende começar de imediato, ainda que seja necessário ter aulas a distância.