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Paulo Chanan publica análise dos números do Censo da Educação Superior 2023

10/02/2025 | Por: ABMES | 729

O Censo da Educação Superior 2023 revela uma dinâmica complexa no ensino superior brasileiro, com crescimento expressivo da modalidade a distância (EAD) e desafios para a sustentabilidade econômica das Instituições de Educação Superior (IES), especialmente no setor particular. A análise é do estudo “Comentários aos Números do Censo da Educação Superior Brasileira – 2023”, realizado por Paulo Chanan, presidente da Associação Brasileira das Mantenedoras das Faculdades (Abrafi) e membro do Conselho de Administração da ABMES.

Recuperação no número de instituições
Após a queda observada em 2020, devido à pandemia da Covid-19, o número de IES credenciadas voltou a se estabilizar entre 2021 e 2023, demonstrando a resiliência do setor educacional. O censo indica que, em 2023, o Brasil contava com 2.580 instituições de ensino superior, das quais 2.264 eram particulares e apenas 316 públicas.

A concentração de instituições privadas segue mais elevada nas regiões Sul e Sudeste, enquanto o Norte permanece com menor oferta educacional, o que levanta questionamentos sobre a distribuição de recursos públicos na educação superior, segundo o estudo.

Expansão da EAD e declínio do ensino presencial

O censo confirma a tendência já observada nos últimos anos: enquanto o número de matrículas na modalidade presencial continua caindo pelo oitavo ano consecutivo, a educação a distância segue em ascensão. Em 2023, a EAD representou 49,25% do total de matrículas, a maior participação já registrada. O crescimento dessa modalidade foi impulsionado pelo acesso facilitado e mensalidades mais baixas, permitindo que um público mais amplo ingressasse no ensino superior.

Entre os cursos mais procurados na EAD, destacam-se Pedagogia, Administração, Sistemas de Informação e Enfermagem. A maior surpresa foi o curso de Sistemas de Informação, que registrou um crescimento de 26% nas matrículas em EAD e 17,2% no presencial.

Por outro lado, o curso de Direito, mesmo sendo oferecido exclusivamente no modelo presencial, apresentou queda de 2% nas matrículas, reforçando a tendência de queda da modalidade tradicional.

Alta taxa de evasão na EAD
O crescimento da EAD, no entanto, vem acompanhado de um desafio significativo: a alta taxa de evasão. Segundo os dados do censo, cerca de 58,44% dos alunos matriculados na EAD abandonam seus cursos, número muito superior à evasão do ensino presencial, que foi de 21,48% em 2023.

A evasão é mais acentuada no primeiro ano do curso, evidenciando a necessidade de políticas institucionais para reter estudantes, especialmente aqueles de idade mais avançada, que vêm crescendo como público da EAD.

Impacto financeiro e sustentabilidade do setor
No estudo, Paulo Chanan aponta que, apesar do aumento nas matrículas, o setor privado enfrenta desafios econômicos devido à redução no ticket médio das mensalidades. A queda nos valores pagos pelos alunos de EAD foi de 47% entre 2015 e 2023, impactando diretamente a receita das instituições.

Mesmo com o crescimento constante da EAD, o mercado de educação superior está encolhendo financeiramente. O tamanho do mercado privado caiu 36,6% desde 2017, fechando 2023 com uma receita média de R$ 41,98 bilhões. Essa redução impõe desafios operacionais às IES, que precisam equilibrar custos e qualidade de ensino diante da competição crescente.

Perspectivas e regulamentação
Chanan aponta ainda que a regulação da EAD se tornou um ponto central para o futuro do setor. O Ministério da Educação (MEC) anunciou medidas para endurecer as regras da modalidade, prevendo um novo referencial de qualidade e instrumentos de avaliação em 2025. A expectativa é que essas mudanças impactem a oferta de cursos e influenciem a retomada do ensino presencial.

O cenário indica que as IES precisam adaptar suas estratégias para lidar com um mercado em transformação. Investir na qualidade da oferta, adotar políticas para reduzir a evasão e explorar novos modelos híbridos de ensino podem ser caminhos para garantir a sustentabilidade e a competitividade no setor educacional.

A análise completa pode ser acessada aqui.

Paulo Chanan é advogado, especialista em Direito Empresarial, Mestre em Administração, professor Universitário, Diretor de Regulação e Procurador Institucional do Grupo SER Educacional, Presidente da ABRAFI, Membro do Conselho de Administração da ABMES e Conselheiro do Instituto Êxito de Empreendedorismo.


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