Detalhe

Brasil ainda longe das metas na educação

15/11/2020 | Por: Estado de Minas | 4808
Jair amaral/EM/D.A Press Metas do PNE estão distante em todos os níveis

Os números projetados em 2014 para o Brasil ter de fato um salto na educação no prazo de um decênio estão ficando cada vez mais distantes e não serão alcançados no tempo estipulado. O prazo e 20 metas foram pactuados na forma de plano nacional, proposto para pôr fim a mazelas que vão da incapacidade do país de garantir o direito aos primeiros passos rumo à escola até a inaptidão de assegurar a entrada de jovens na universidade. As mudanças já andavam a passos lentos e ganharam ritmo ainda mais desacelerado com a pandemia, que pôs fim a qualquer possibilidade de reação. No ensino superior, estudos mostram que objetivos a serem alcançados em 2024 só o serão em 2041. Na educação básica, os desajustes da atualidade não permitem nem mesmo traçar um novo panorama de datas.

O primeiro baque está previsto para a meta 1 do Plano Nacional de Educação (PNE), que previa resultados ainda mais cedo. Até 2016, era esperada a universalização do acesso de crianças de 4 e 5 anos ao ensino infantil e ampliação da oferta em creches para atender, no mínimo, 50% das crianças de até 3 anos. Quatro anos depois do prazo estipulado, dos quase 5 milhões de crianças em idade escolar obrigatória (a partir dos 4 anos), 6,2% ainda estão longe das salas de aula.

Já as creches conseguem atender 35,7% dos 3,7 milhões de meninos e meninas com até 3 anos, segundo o relatório de acompanhamento das metas do Ministério da Educação (MEC). Em Minas Gerais, 5,4% das crianças de 4 e 5 anos ainda não encontraram o caminho da escola e, entre os pequeninos, 36% estão nas creches. “Quando vemos essa debandada de crianças de 4 e 5 anos da escola, ainda que em idade escolar obrigatória, por causa das circunstâncias atuais, tememos que as matrículas na rede pública afetem os indicadores, pois não sabemos se ela conseguirá absorver a demanda”, afirma a coordenadora de projetos do Movimento Todos pela Educação, Thaiane Pereira.

Thaiane se refere ao fenômeno inédito de evasão no ensino infantil, conforme mostrou o Estado de Minas no mês passado. Pais estão tirando filhos das escolas privadas durante a pandemia. A rede pública se prepara para enfrentar uma demanda maior ainda, mas desconhece esse contingente. Uma nova ruptura também é temida, numa eventual volta ao ensino presencial, por parte de pais que não se sentem seguros em mandar seus filhos para a escola.

A partir do nível fundamental, são aguardadas consequências nos resultados – taxas de aprovação e reprovação, bem como as de abandono e evasão escolar. “Historicamente, o fechamento de escolas leva ao aumento de evasão e estamos passando por fechamento jamais visto. Quase seis meses longe das salas de aula, possivelmente haverá aumento da evasão, e as taxas de abandono e reprovação dependerão muito do que os conselhos de educação determinarem sobre o que poderá ou não ser aproveitado desse período”, diz Thaiane. Segundo ela, o aumento da evasão deixa ainda mais evidente o abismo nas metas de aprendizagem, que pode se refletir no ensino superior, com redução do número de novos universitários.

Outro bloco de metas que pode ser afetado é o relativo aos professores, na opinião da coordenadora do Todos pela Educação, devido aos desafios impostos à carreira docente, que ficaram ainda mais evidentes no contexto atual. “Eles não estavam preparados para lidar com esse volume de tecnologia. Pode trazer inovação para sala de aula, algo que já era necessário, mas também tem lados difíceis. O papel do professor ficou ainda mais evidente.”

Revisão 
Além de tratar novos horizontes de metas, será preciso também revisar algumas, a exemplo da ampliação da oferta de creches, levando em conta diferentes necessidades e realidade das demandas de grandes centros e pequenos municípios. Ou, ainda, as metas relacionadas a professores, que preveem mais mestres e doutores no corpo docente das instituições de ensino superior, atingindo os 75% –  o quadro deve ser composto por no mínimo 35% de doutores até 2024. “O mais importante não é ele ter titulação, no sentido de número de professores com pós-graduação, mas número de professores com avaliação correta. Importante também é ele saber dar uma boa aula, saber ensinar, e isso não está contemplado no PNE”, ressalta Thaiane.

A coordenadora diz que é difícil dizer para quanto tempo as metas serão reportadas. “Se a creche estiver nos planos de governos municipais e for tratada com a devida importância, pode ser que atinja mais rápido (os objetivos). Da forma como está, não chegaremos em 2024. Pré-escola igual é algo que já deveria estar resolvido. Importante as novas gestões municipais se atentarem para isso e fazer esse movimento. Primeiro ponto é acesso, e depois que o aluno permaneça e tenha trajetória adequada, pois o cenário atual é crítico”, destaca. “Se isso não for tomado com a maior seriedade do mundo, vamos permanecer no status quo no qual alargamos esse vale da desigualdade que existe na educação brasileira.”

'Reprovado' no ensino superior
Se na educação básica o cenário passou a ser o de incertezas, no ensino superior os números não deixam dúvidas de que será impossível ter 7,4 milhões de jovens nas universidades nos próximos quatro anos para atingir a meta 12 do Plano Nacional de Educação (PNE). Ela prevê, até 2024, a taxa bruta de matrículas superior a 50% e a líquida, a 33%. Isso significa que o Brasil precisa ter na graduação um total de estudantes matriculados equivalente a 50% da população de 18 a 24 anos e ter em suas universidades uma parcela de estudantes da faixa de 18 a 24 anos (idade correta para essa etapa acadêmica) correspondente a 33% da população dessa idade. Além disso, até 2024, o país deveria assegurar a oferta de pelo menos 40% das novas matrículas nas instituições públicas.

A projeção feita pela empresa de estudos e pesquisas educacionais Educa Insight, em parceria com a Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (ABMES), aponta que a taxa líquida só será alcançada em 2041 – sem levar em conta os efeitos da pandemia. Ela calculou, a partir da expectativa de população para 2024 dada pelo IBGE, a quantidade adicional de estudantes que nesse ano precisarão estar matriculados na educação superior em relação aos que estavam em 2018, para atingir as metas do decênio. O alcance da taxa bruta depende de um acréscimo de matrículas da ordem de 2,6 milhões de estudantes e a líquida, de 3 milhões na comparação com 2018 (veja arte).

O número de brasileiros cursando nível superior saiu de 31,2%, em 2012, para 37,4%, em 2019, segundo o Ministério da Educação (MEC). Em Minas, esse índice saiu de 30,4% para 38,2%. Já os jovens de 18 a 24 anos na universidade compõem hoje 21,5% desse grupo – em Minas, o percentual é semelhante à taxa nacional (21,4%), de acordo com o Observatório do PNE. Já a taxa de matrículas em instituições públicas soma 12,9% no país.

O diretor-executivo da ABMES, Sólon Caldas,  mostra que se os números para se atingirem as metas são relevantes, as condições atuais são ainda mais significativas. Entre 2010 e 2018, as matrículas em instituições públicas e privadas tiveram crescimento de 3,6% ao ano. Para atingir a taxa bruta em 2024, esse aumento deveria se situar na casa dos 4,6% entre 2018 e 2024 –  entre 2017 e 2018, ele foi de apenas 1,9%. Para se alcançar a taxa líquida, o crescimento deveria ser de 9,3% ao ano (a média anual entre os oito anos analisados pelo estudo foi de 3,6%).

Ou seja, “ter os 7,4 milhões de estudantes entre 18 e 24 anos na graduação depende de se conseguir ter 72% a mais de alunos (3,1 milhões) em relação ao número alcançado em 2018, de 4,3 milhões de jovens”, afirma Sólon Caldas. Se a taxa líquida levará pelo menos mais duas décadas para ser alcançada, a taxa bruta é esperada para mais cedo: 2030. Desde que mantido o ritmo de crescimento verificado entre 2015 e 2018, de 1,7%.

O aumento das matrículas, que teve seu auge entre 2010 e 2014, pôs o pé no freio a partir de 2015, quando começou a redução drástica da oferta do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Em 2014, ele bateu recorde, com a celebração de 731 mil contratos. Em 2015, despencou para 287 mil e não parou mais de diminuir, chegando em 2019 com 85 mil. A expectativa do setor de educação superior privada é que em 2020 o MEC feche em torno de 80 mil contratos. “O Brasil não se importa com educação. O governo não tem mais uma política pública adequada de expansão da educação superior. Pelo contrário, está indo totalmente na contramão.”


Conteúdo Relacionado

Vídeos

Coronavírus e educação superior: 5ª fase do estudo sobre o que pensam os alunos

Confira a íntegra do seminário "Coronavírus e educação superior: 5ª fase do estudo sobre o que pensam os alunos". O evento foi realizado na terça-feira (17/11), pelo YouTube da ABMES

 

Bate-papo com Inep: avaliação de curso e de IES

Confira a íntegra do bate-papo com o Inep, realizado em 29 de outubro de 2020, pelo canal da ABMES no YouTube. O evento tratou sobre a avaliação de curso e de instituições de educação superior (IES)

Bate-papo com o Ministro da Educação, Milton Ribeiro

Confira o bate-papo inédito com o Ministro da Educação, Milton Ribeiro, realizado em 28 de agosto de 2020. 

- Participação
Milton Ribeiro – Ministro da Educação
Celso Niskier – Diretor presidente da ABMES
Sólon Caldas – Diretor executivo da ABMES

Seminário Virtual ABMES | Coronavírus e educação superior: 4ª onda do estudo

Confira a íntegra do seminário virtual da ABMES "Coronavírus e educação superior: 4ª fase do estudo sobre o que pensam os alunos". Coordenação: Celso Niskier, diretor presidente da ABMES Participação: Daniel Infante, sócio-fundador Educa Insights Sólon Caldas, diretor executivo da ABMES

Bate-papo CNE e Seres/MEC: Aula práticas nas IES em tempos de Covid-19

Confira a íntegra do webinar "Bate-papo CNE e SERES/MEC: aulas práticas nas IES em tempos de Covid-19", realizado em 16 de junho 2020, com a participação de Luiz Roberto Liza Curi, presidente do CNE e Márcio Coelho, diretor de Política Regulatória da SERES/MEC

Seminário Virtual ABMES | Coronavírus e educação superior: 3ª onda do estudo

Confira a íntegra do seminário virtual da ABMES "Coronavírus e educação superior: 3ª fase do estudo sobre o que pensam os alunos". Coordenação: Celso Niskier, diretor presidente da ABMES Participação: Daniel Infante, sócio-fundador Educa Insights Sólon Caldas, diretor executivo da ABMES 

Seminário Virtual ABMES | Coronavírus e educação superior: 2ª onda do estudo

Confira a íntegra do Seminário Virtual ABMES, realizado no dia 5 de maio de 2020, que apresentou a segunda onda do do estudo sobre o impacto do novo coronavírus na educação superior, feito pela empresa de pesquisas educacionais Educa Insights. Coordenado por Celso Niskier, diretor presidente da ABMES, o evento contou com a participação de Daniel Infante, sócio-fundador Educa Insights, e Sólon Caldas, diretor executivo da ABMES

Um ano do Decreto da EAD - o que mudou?

Após um ano da publicação do Decreto Nº 9.057, que regulamentou a educação a distância no Brasil, a modalidade se tornou ainda mais popular. Confira mais informações sobre a EAD neste vídeo produzido pela ABMES TV.

Legislação

PORTARIA MEC Nº 984, DE 18 DE NOVEMBRO DE 2020

Altera a Portaria 794/2013 que organiza o Censo da Educação Superior.


PORTARIA SETEC Nº 589, DE 18 DE NOVEMBRO DE 2020

Prorroga, até 28 de fevereiro de 2021, o prazo para análise dos pedidos de autorização de cursos técnicos recebidos entre 1º de julho e 31 de agosto de 2020, de que trata a Portaria Setec nº 62, de 24 de janeiro de 2020, alterada pela Portaria Setec nº 394, de 30 de junho de 2020.


PORTARIA INEP Nº 599, DE 16 DE NOVEMBRO DE 2020

Declara a revogação do ato normativo inferior a decreto no âmbito do Inep, para os fins do disposto no art. 8º do Decreto nº 10.139, de 28 de novembro de 2019.


PORTARIA CAPES Nº 157, DE 27 DE OUTUBRO DE 2020

Dispõe sobre os prazos para entrega da prestação de contas final e para atendimento à diligências de beneficiários de Auxílio Financeiro a Projeto Educacional ou de Pesquisa (AUXPE) da CAPES durante a pandemia reconhecida pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020.


Notícias

Paulo Chanan publica análise sobre os cursos em EAD a partir do Censo da Educação Superior 2019

Membro do Conselho de Administração da ABMES elabora estudo que analisa o cenário dos cursos de graduação em EAD levando em consideração o Censo da Educação Superior 2019, divulgado em outubro de Inep/MEC

Pandemia cria demanda reprimida para educação superior em 2021

Estudo com mais de 1.000 pessoas mostra que brasileiros que estavam adiando os estudos pretendem retomar planos nos próximos meses

Educação é atividade essencial

Correio Braziliense: Em artigo, Celso Niskier, diretor presidente da ABMES, avalia que o setor educacional é tão importante quanto outras atividades econômicas

ABMES pede agilidade nos processos em andamento em reunião com Seres/MEC

Encontro teve como objetivo apresentar o trabalho da nova gestão da secretaria e anunciar as próximas medidas para a redução do estoque de processos em trâmite no sistema e-MEC

Estudantes não querem mais adiar o sonho do curso superior

Pesquisa da ABMES e Educa Insights aponta melhoria do otimismo e confiança dos futuros alunos. Demanda acumulada do segundo semestre tende a buscar as IES no início de 2021

Revista Valor 1000: Na rota da consolidação

Forte queda nos contratos do Fies, pandemia que afeta a entrada de calouros e mudanças digitais levam a fusões e aquisições

Futuros universitários ainda sofrerão efeitos da pandemia em 2021

Além de interferir na rotina de quem já está matriculado no ensino superior este ano, a pandemia de covid-19 também vai impactar aqueles que pretendem entrar na universidade em 2021

Paulo Chanan publica análise sobre dados do Censo da Educação Superior 2019

Para explicar melhor alguns cenários apontados pelo Censo da Educação Superior 2019, Paulo Chanan, compilou e analisou alguns dados e publicou um estudo comentado.

Meta para matrículas no ensino superior deverá ser atingida só em 2041, afirma entidade; pandemia poderá agravar ainda mais o quadro

Plano Nacional de Educação prevê que 33% dos brasileiros entre 18 e 24 anos estejam no ensino superior até 2024. No ritmo que as matrículas estão, percentual deverá ser alcançado 17 anos após o previsto

Brasil não atinge metas e fica estagnado na educação sob Bolsonaro

Dados são de relatório de metas do Plano Nacional de Educação, do governo

Meta 12 do PNE: iremos cumpri-la?

Estudo mostra que, apesar do crescimento da Educação Superior no País, será preciso um grande esforço para alcançar o que estipula o Plano Nacional de Educação

Estudo projeta que Metas do Plano Nacional de Educação (PNE) só serão atingidas em 2037

O estudo da ABMES analisou o período entre 2015 e 2017 e projeta que essa meta só será atingida em 2037

Editora

Números do Ensino Superior Privado no Brasil 2019

A décima nona edição dos “Números do Ensino Superior Privado no Brasil 2019” – ano base 2018 –, organizada pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), com base nos dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC), tem como objetivo demonstrar, compacta e claramente, as dimensões da iniciativa privada de ensino superior.

Números do Ensino Superior Privado no Brasil 2020

A vigésima edição dos “Números do Ensino Superior Privado no Brasil 2020” – ano base 2019 –, organizada pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), com base nos dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC), tem como objetivo demonstrar, compacta e claramente, as dimensões da iniciativa privada de ensino superior.

ABMES Pesquisas