Consultor na área de educação da campanha presidencial de Jair Bolsonaro (PSL), Stavros Xanthopoylos afirmou nesta terça-feira que um eventual governo do deputado fixará critérios para financiamento de pesquisas nas universidades federais para priorizar áreas de "valor intelectual agregado". Questionado se estudos no campo de humanidades, por exemplo, estariam ameaçados, ele disse que serão "redimensionados".
— Não posso ter mil pesquisas numa área que teoricamente não tem significância nenhuma para o desenvolvimento científico do país em termos de valor intelectual agregado, que vai trazer elementos econômicos e puxar cadeias produtivas, e ter praticamente zero ou pouquíssima coisa nessa área. Tem que ter equilíbrio.
Stravos afirmou que o governo não poderá "limitar o desejo de cada um estudar o que quiser", mas que na hora de aplicar a verba pública é preciso prestigiar áreas que efetivamente aumentem a produtividade e inovação no país, resultando em crescimento do número de pedidos de patentes e desencadeando o desenvolvimento econômico. O consultor deu alguns exemplos de áreas que terão prioridade:
— Temos medicina; recursos minerais, naturais e materiais; temos uma indústria de serviços que em todas as áreas é capenga.
O assessor da campanha de Bolsonaro deu as declarações na saída de evento organizado pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) com representantes das campanhas dos presidenciáveis na área de educação. André Stábile falou em nome de Marina Silva (Rede) e Washington Bonfim pela candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB). Os demais concorrentes ao Planalto não enviaram representantes para o debate.
Os representantes dos três candidatos garantiram que manterão o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), de empréstimos subsidiados para alunos de faculdades particulares, e o Programa Universidade Para Todos (ProUni), que oferece isenção de impostos a instituições que concedam bolsas de estudo a estudantes carentes. Aos representantes do setor privado, que organizou o encontro, as campanhas manifestaram a necessidade de ajuste, mas se comprometeram em continuar os programas.
Tanto Stravos quanto Bonfim afirmaram que vão estudar um modelo de financiamento estudantil, sugerido pelo segmento do ensino superior privado, inspirado em experiência da Austrália. Nesse formato, segundo explicaram, o empréstimo é menos subsidiado pelo governo, mais alongado no tempo e tem como base a renda do beneficiado. Eles, no entanto, não deram detalhes do que pretendem propor em termos práticos.
Modelos alternativos de contratação de professores
Bonfim, da campanha de Alckmin, sugeriu outras formas de contratação de professores da educação básica que afaste o peso da aposentadoria, argumentando que a a curva demográfica brasileira está em queda, o que resultará em menos alunos nos níveis fundamentais e médio nas próximas décadas. Segundo ele, seria uma forma de viabilizar melhores salários aos docentes, tornando a carreira mais atrativa.
— Não se trata de findar a estabilidade, mas sim de diversificar os sistema, ter possibilidade de novos tipos de contratação que não sejam tão onerosas para o Poder Público de maneira tão longeva — disse Bonfim.
Para André Stábile, que representa Marina Silva, antes de falar de financiamento da educação é preciso colocar luz sobre as "áreas de sombra" que existem no setor. Ele diz que parte significativa das verbas escoa pelos ralos da corrupção nos três níveis de governo (federal, estadual e municipal) e propõe soluções de governança, incluindo inteligência artificial, como robôs que checam preços de licitação, para conter o desperdício.
— Não há um 'follow the money' no Brasil na área de educação. Mesmo com o Fundeb, não sabemos como o dinheiro é arrecadado, para onde vai exatamente e como é gasto. O que explica um mesmo produto licitado em municípios diferentes por preços muito discrepantes?— questiona Stábile.
Em um ponto, os representantes dos três candidatos concordaram: a descontinuidade das ações em educação a cada gestão — às vezes dentro de um mesmo governo — prejudicam o setor. Stravos brincou que a área sofre da "síndrome de Frank Sinatra", sempre com um "let me try again", ou me deixe tentar de novo, em tradução livre.
O representante de Bolsonaro passou mal no início do debate com uma elevação da pressão arterial. Teve que deixar a mesa por duas vezes e foi atendido por uma equipe do Samu nas dependências do prédio onde ocorria o debate. Recuperou-se e retornou ao auditório, participando do restante do evento. Ele atribuiu o mal-estar a estresse e privação de sono nos últimos dias por conta de um problema de saúde de um familiar.