Após um ano da publicação do Decreto nº 9.057/2017, que estabeleceu o novo marco regulatório da educação a distância (EAD) no país, o cenário do segmento já apresenta evoluções significativas, que podem contribuir para a ampliação do acesso de estudantes à graduação. Estudo realizado pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) em parceria com a empresa de pesquisas educacionais Educa Insights mostra que a modalidade cresceu no último ano e desponta como uma das principais escolhas de boa parcela dos estudantes ao optarem por uma faculdade. Seguindo a média das projeções de crescimento, a expectativa é de que no ano de 2023, a EAD supere o formato presencial nos cursos de graduação no país, com mais alunos ingressando e estudando por meio de plataformas online.
O estudo “Um ano do Decreto EAD - O impacto da educação a distância na expansão do ensino superior brasileiro” ouviu, 1.012 homens e mulheres de 18 a 50 anos de idade, de classes A e B, C, D e E, com interesse em cursar uma graduação nos próximos 12 meses ou já matriculados na educação superior nas modalidades EAD ou presencial em todas as regiões brasileiras. “Este primeiro levantamento após o novo marco regulatório da EAD é um importante passo no sentido de aferir como está o processo de desenvolvimento da educação superior no Brasil. E o que pudemos observar com a pesquisa foi que a resistência à modalidade EAD praticamente se desfaz quando o estudante tem conhecimento de que a parte prática do curso é oferecida de modo presencial”, aponta o diretor presidente da ABMES, Janguiê Diniz.
De acordo com o Censo da Educação Superior, a diferença entre o número de matrículas em cursos presenciais e EAD tem caído a cada ano, passando, respectivamente, de 80% contra 20%, em 2010, para 67% contra 33% em 2016. Essa aceitação à modalidade online também foi constatada pela pesquisa. Quando perguntado aos entrevistados qual a modalidade de curso de graduação preferida, embora o modelo presencial clássico ainda seja o mais aceito, com 56% da preferência, 44% dos respondentes não fazem questão exclusivamente do modelo presencial.
O que pensam sobre as opções de EAD com aulas práticas
A “semipresencialidade” apresenta uma ótima aceitação entre os entrevistados. Quando mencionado ao grupo de entrevistados que elegem o formato presencial como primeira opção que as aulas práticas podem ser realizadas presencialmente, a aceitação à EAD chega a 93%. “Isso demonstra que boa parte da resistência que ainda notamos em relação à EAD se dá por falta de informação sobre as características da modalidade”, observa Diniz.
Quais as barreiras para alunos que não abrem mão do formato presencial clássico?
O levantamento também buscou saber os motivos pelos quais ainda há um pequeno percentual de estudantes que não troca o modelo presencial pela EAD de forma alguma. Foi observado que a barreira existente está atrelada, na maioria das vezes, à preocupação com a percepção de baixa qualidade e também à dificuldade de adaptação ao novo método. Além disso, para 62% deste público pesa o fato de acreditarem que o curso não oferece suporte para tirar dúvidas na hora e também a dificuldade com plataformas de estudo online (37%).
Observa-se que a visão que estes estudantes resistentes à EAD ainda têm da baixa qualidade esbarra na realidade do que tem sido apresentado nos resultados do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), realizado pelo MEC, segundo os quais o desempenho dos estudantes de EAD supera os resultados daqueles que cursaram graduações presenciais.
Quem são os estudantes entrevistados?
O levantamento analisou o perfil dos estudantes que responderam à entrevista observando sexo, idade, classe social, estado civil, além de região e proveniência do Ensino Médio (público ou privado). Também aferiu quais respondentes realizaram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no último ano.
Deste público, averiguou-se que as mulheres estão mais receptivas à EAD. Do grupo que opta exclusivamente pelo formato presencial, 57% são mulheres e 43% são homens. Já no grupo que opta por EAD, a adesão feminina é ainda maior, com 63% do total.
Ainda sobre o grupo que optou pelo EAD, predomina um público de faixa etária mais elevada (38% possui de 31 a 40 anos de idade, e 29% está acima dos 40 anos); a maioria destes estudantes são de classe C (58%) e provenientes de escola pública (75%). Também é predominante a parcela de pessoas que trabalham (83%) e que são casadas (62%). Outro aspecto que chama a atenção é que apenas 23% prestaram a última edição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Tecendo o comparativo com o grupo de entrevistados que não abre mão do formato clássico presencial, observa-se maior presença do público jovem até 24 anos (25%) e menor adesão das pessoas acima dos 40 anos de idade (16%). A diferença entre homens e mulheres é menor (43% e 57%, respectivamente). Na comparação, nota-se um volume menor entre pessoas das classes C, D e E, ao passo que o número de pessoas de classes A e B é maior. Da mesma forma, aumenta no número de estudantes provenientes de escola particular (36%) e a diminui dos que vêm da rede pública (64%). Também é comparativamente menor o percentual de pessoas que trabalham (76%) e de casados (53%). Além disso, mais pessoas deste grupo prestaram o Enem (38%).
E qual a percepção dos estudantes em relação à oferta da EAD no último ano, após a publicação do Decreto nº 9.057/2017?
O levantamento mostra que houve uma clara percepção de “aumento das opções de oferta” entre potenciais e atuais alunos e em todas as regiões do país. 78% dos entrevistados acreditam que a oferta de cursos EAD aumentou no último ano. A percepção de 20% foi de que se manteve e apenas 2% acha que diminuiu a oferta.
Além disso, os entrevistados acreditam que à medida que a oferta aumenta, os cursos a distância terão qualidade compatível com a dos presenciais, sendo que 62% considera que a qualidade das faculdades EAD ficará igual à das presenciais, 18% pensa que será ainda melhor e apenas 20% acredita que cairá.
Ainda em relação ao crescimento da oferta, a percepção quanto aos preços também varia, sendo que a expectativa de dois terços dos entrevistados é de que os valores das mensalidades tendem a diminuir. Para 66% os preços devem cair, 25% pensa que se manterão, e 9% teme um aumento das mensalidades.