A designer Izabelle Arruda, 41, decidiu mudar de carreira e estudar pedagogia. Mãe de quatro crianças, ela leva uma rotina que não permitiria frequentar uma universidade. Optou, então, pela graduação a distância.
“Para mim, só é viável estudar dessa forma. Ou eu adiava a empreitada por uns bons anos ou encarava agora como fosse possível”, diz.
A história de Izabelle é comum na educação a distância. Apesar de a idade média dos alunos estar caindo, estudo deste ano da ABMES (Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior) sugere que o público mais velho ainda predomina nessa modalidade de educação: 38% dos alunos têm de 31 a 40 anos e 29% têm acima de 40.
A maioria é de mulheres (62%), pessoas casadas (62%) e que trabalham (82%). Já no ensino presencial apenas 16% têm mais de 40 anos, segundo o estudo.
Acostumada a outro tipo de aula em sua primeira faculdade, Izabelle teve que se adaptar. Ela estranhou a falta de contato humano.
“Têm lacunas que o ensino a distância não consegue preencher. Fica faltando aquele contato mais próximo com o professor, com outros alunos. Não tenho a mínima ideia de quem são meus colegas. A gente conversa no fórum, mas não acho que tenha a mesma qualidade que uma discussão presencial”, afirma.
Por outro lado, ela aponta como vantagens a flexibilidade e a autonomia. “Posso assistir à aula às 22h, de madrugada, às 6h da manhã. E faço o curso do meu jeito, me aprofundo no que quero”, diz.
Pessoas que buscam uma segunda carreira e aquelas que não fizeram universidade na juventude estão entre as que tradicionalmente buscam a flexibilidade da graduação a distância, afirma Celso Niskier, vice-presidente da ABMES. “Esses dois públicos são naturalmente mais velhos. Muitos trabalham e têm filhos”, diz.
Para alguns desses alunos, o menor traquejo com a tecnologia pode ser um desafio. Segundo Niskier, para sanar o problema, as instituições oferecem apoio presencial com tutores e palestras que explicam a metodologia.
“Muitas aulas já ensinam também administração do tempo, para ajudar o aluno a ter disciplina e diminuir o risco de evasão”, diz Niskier.
A professora particular Luzia Athayde, 56, que não é fã de computadores e celulares, recorreu à ajuda presencial para aprender a usar a plataforma de EaD e tirar dúvidas sobre o conteúdo de seu curso de pedagogia.
“Me enrolei com esse jeito de estudar pelo computador. Mando perguntas por mensagem também, mas prefiro perturbar o pessoal pessoalmente. Nada como o olho no olho”, diz ela, que costumava ir ao polo duas vezes por semana e agora já consegue estudar melhor sozinha.
Para Ivete Palange, conselheira da Abed (Associação Brasileira de Educação a Distância), as dificuldades com a tecnologia, quando existem, são “absolutamente superáveis”. “Tem um período de adaptação, mas logo o aluno deslancha”, afirma.
Segundo ela, esse problema está cada vez menos frequente, já que a familiaridade geral com a internet é maior do que no passado. “E hoje as plataformas de EaD são muito intuitivas. Quando comecei a trabalhar na área, no ano 2000, existia um número muito restrito de plataformas. Isso mudou.”