Pequim voltou a ter céus azuis depois de 20 anos de intensa poluição. A capital chinesa, que promove um ambicioso plano para controlar poluentes há duas décadas, está demonstrando que é possível distanciar crescimento econômico de danos e impactos ambientais.
Durante os últimos 20 anos, o Produto Interno Bruto (PIB) de Pequim cresceu 6,5% ao ano, um aumento de 10,8 vezes. Ao mesmo tempo, as concentrações anuais de poluentes derivados da queima de combustíveis fósseis em carros e ônibus, e do carvão das usinas térmicas, caíram consideravelmente.
A guerra contra a poluição começou em Pequim em 1998. Em 20 anos, as concentrações de dióxido de enxofre (SO2 ), dióxido de nitrogênio (NO2 ) e material particulado (PM10) caíram respectivamente 93,3%, 37,8% e 55,3%.
No período o PIB da cidade cresceu 1078%, a população aumentou 74% e o número de carros, 335% no final de 2017.
Os dados fazem parte do relatório “Avaliação de 20 anos de controle da poluição do ar em Pequim” lançado ontem durante o Fórum de Ciências, Negócios e Políticas Públicas da ONU Meio Ambiente que acontece este fim de semana em Nairóbi, capital do Quênia. Há 2000 participantes de empresas, governos e pesquisadores do mundo todo.
“Para ter sucesso em esforços do gênero é preciso ter mensagens simples e falar algo que as pessoas nas ruas possam entender”, diz Dechen Tsering, diretora da ONU Meio Ambiente . “Conquistar novamente a visão do céu azul é uma boa ideia para comunicar uma iniciativa como esta e fazer com que o público se sinta incluído no esforço”, continua.
“O controle da poluição em Pequim tem quatro eixos-chave”, diz Yu Jianhua, vice-diretor geral do Escritório de Ecologia e Meio Ambiente Municipal. O primeiro é construir um sistema de monitoramento da qualidade do ar eficiente. O segundo, trabalhar ao mesmo tempo na cidade e na região. O terceiro aspecto é buscar novas tecnologias e, finalmente, envolver toda a sociedade na iniciativa.
Em 2013, foram espalhadas pela capital chinesa 35 estações de monitoramento do ar que podem controlar as concentrações de seis poluentes, além de uma rede de mil sensores de material particulado (MP 2.5).
O programa de controle do ar é abrangente e busca evitar episódios recorrentes de altos níveis de poluição causados pelos carros e pelas térmicas a carvão e que provocaram sérios problemas de saúde pública.
As ações buscaram trocar térmicas a carvão por usinas movidas a gás. A política, iniciada em 2005, reduziu a queima de carvão em 11 milhões de toneladas em 2017.
Outra frente foi de criar políticas públicas de incentivo a opções ambientalmente mais limpas. Investimentos em sistemas de transporte público foram cruciais, destaca o professor He Kebin, da Universidade Tsinghua.
Os maiores avanços foram conseguidos no período entre 2013 e 2017, quando surgiu o “Clean Air Action Plan”. O esforço incluiu 28 cidades vizinhas a Pequim.
“A Cidade do México, Santiago, São Paulo, Nova Déli e Hong Kong fizeram avanços no combate à poluição do ar”, diz o consultor internacional Michael Walsh, que trabalhou em todos os casos. “Mas nenhuma delas teve um programa continuado de combate à poluição como Pequim”.
Walsh diz que é preciso analisar os congestionamentos, o padrão das emissões veiculares e a infraestrutura de transporte, além de ter metas claras e bases científicas sólidas para que as cidades consigam bons resultados no combate à poluição do ar.
Ele lembra que Pequim incentivou o abandono de carros velhos, com programas específicos, para lidar com uma questão social. Pessoas mais carentes costumam ser donas de veículos mais antigos e mais poluentes, situação que também ocorre em São Paulo, por exemplo.
Os desafios para o futuro da capital chinesa são conseguir avançar na redução das concentrações de ozônio, melhorar a eficiência energética e seguir investindo na malha de transporte público.