A China é o principal mercado para as exportações brasileiras. Aproximadamente US$ 66,6 bilhões, 28% do total de nossas exportações em 2018. Muito atrás aparecem União Europeia, com 17,5%, Estados Unidos, com 12%, e Argentina, com 6,2%. Por outro lado, importamos da China US$ 35,5 bilhões, ou 19,6% do total. Assim, a China é também o nosso maior fornecedor externo, acima de União Europeia, Estados Unidos e Argentina. E, como se pode ver, o Brasil tem superávit comercial de US$ 31,1 bilhões. Uma situação que evoluiu desde 2009/ 2010. Convém ressaltar as razões dessa “nova parceria”, que por enquanto nada tem de estratégica.
A primeira indagação é: por que um mercado do outro lado do globo terrestre — o que em princípio acarreta pesado ônus de transporte —, com cultura e formação histórica tão diferente e com muito pouco de promoção comercial, despontou na dianteira dos principais mercados externos brasileiros? Está claro que pelas livres forças dos mercados e da concorrência, o que se fundamenta obviamente em grande grau de complementariedade entre as duas economias —e não só nas relações comerciais, como também nos investimentos.
Em poucas palavras, temos em abundância o que a China precisa: produtos agropecuários, matérias-primas em geral e manufaturas de uso intensivo de recursos naturais. E tudo isso a preços competitivos. São nossas “vantagens comparativas de custos”, na explicação tradicional da teoria econômica Ricardiana.
Por outro lado, importamos insumos e produtos manufaturados mais baratos da China. Algo como 45%, por exemplo, em materiais mecânicos e elétricos para nossas indústrias.
Aos poucos, aos trancos e barrancos, a economia brasileira sai em busca de integração nas cadeias produtivas mundiais, nas quais a China é um player cada vez mais importante.
Para além do comércio, desde o início da década de 2000 verificam-se volumes crescentes de investimentos diretos chineses no Brasil. Segundo o Conselho Empresarial Brasil-China, entre 2007 e 2017 as empresas chinesas investiram US$ 55 bilhões em 115 projetos distribuídos em 23 estados brasileiros.
Os investimentos começaram a crescer em 2004, precisamente no setor de commodities para garantir suprimento de alimentos, matérias-primas, minérios e petróleo. A partir de 2010, aumentam as inversões em setores industriais, em busca do mercado interno brasileiro. E a partir de 2013, nos setores de energia, serviços, financeiro e infraestrutura. Configura-se aqui um caso paradigmático de evolução do “ciclo do produto”, na terminologia do economista R. Vernon.
Ou seja, de relações puramente comerciais evolui-se para investimentos orientados aos mercados e às vantagens comparativas. Tudo isso, convém insistir, pela livre atuação das forças de mercado, poderosas o suficiente para vencer as imensas dificuldades impostas pelos chamados “custos de transação”, nomeadamente na contraparte brasileira.
Talvez tenha chegado o momento de maior empenho por parte de nossas autoridades no comércio exterior; de propor uma agenda de maior cooperação bilateral com vistas a reduzir muitos entraves que ainda permanecem no relacionamento. Nesse sentido, pareceu um bom início a recente viagem do vice-presidente brasileiro àquele país, e a já anunciada visita do próprio presidente Bolsonaro, prevista para breve.
Há muito foi formalizada a agenda do Brics, na qual a China figura como o maior player, que conta inclusive com um banco de fomento próprio, mas infelizmente com muito pouca presença efetiva brasileira.
No momento em que a economia brasileira carece de estímulos para sair da estagnação dos últimos cinco anos, a promoção das exportações e dos investimentos estrangeiros pode ser instrumento poderoso de uma agenda supply side economics , onde se encaixaria perfeitamente a presença chinesa.