“Após a guerra com o Japão [1945], a elite social chinesa da universidade foi forçada, pelos fatos, a perceber que tinha que abandonar seu conhecimento tradicional, abraçar novos conhecimentos. Não tem como você educar sem conhecimentos modernos (...). Um dos motivos que a China foi derrotada é que seus conhecimentos estavam antiquados. Então, era preciso reabrir sua mente e compreender o que estava acontecendo no mundo. A universidade e seus fundadores participaram desse processo. ”
A declaração é do professor Shen Yi, diretor do centro para estudos Brics da Fudan University, de Xangai, ao explicar que a decisão, tomada há algumas décadas, de ser uma universidade mais aberta contribuiu para que a instituição hoje seja uma das mais respeitadas da China e também uma das mais procuradas pelos estrangeiros. A Fudan tem cerca de 34 mil alunos, sendo que 20% são estudantes de outros países, inclusive do Brasil.
Criada em 1905, a Fudan é uma das universidades mais antigas da China e sobreviveu às várias guerras e conflitos que o país enfrentou neste período. Na Revolução Cultural, movimento que perseguiu professores, intelectuais e artistas, os departamentos de ciência política, direito e sociologia da Fudan ficaram fechados por dez anos (1966-1976). “Eles acreditavam que ciência política, direito e sociologia eram ‘fake’. Um pouco ridículo, na verdade [risos]. Mas depois esses departamentos foram restabelecidos”, contou o professor, que é especialista em segurança cibernética.
A Fudan é uma universidade pública, como todas as instituições de ensino superior da China continental. Entre 1917 e 1941, foi uma universidade particular, mas em 1942 passou para as mãos do governo chinês. Até hoje as universidades e a mídia são controladas pelo partido comunista.
A decisão da Fudan de ser uma universidade mais aberta à cultura ocidental está relacionada ao fato de que seu campus está localizado em Xangai, uma cidade portuária colonizada por britânicos, franceses e americanos após a Guerra do Ópio. A universidade acabou tendo uma vocação internacional e atraindo alunos de várias regiões do mundo. Hoje, a instituição tem estudantes de 120 países e boa parte de seus cursos de pós-graduação é ministrada em inglês.
A presença do partido comunista dentro da universidade não impede a Fudan ter parcerias com empresas privadas, inclusive, americanas. A IBM é uma das que investem em pesquisas acadêmicas ao lado de outras companhias chinesas como Huawei. “Temos grandes parcerias com o setor privado. A IBM, por exemplo, investe em pesquisas nas áreas de economia, gestão, tecnologia”, disse o diretor da Fudan.